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Biblioteca Pós-humana - Mulheres apaixonadas de D. H. Lawrence (1920)


"Women in Love" de D. H. Lawrence é uma obra que explora intensamente as relações humanas, especialmente as complexidades dos relacionamentos amorosos e as interações entre os personagens. Embora o romance não trate explicitamente das ideias do pós-humanismo, há certos elementos que podem ser relacionados a esse movimento filosófico e cultural.

1. Exploração da natureza humana: O pós-humanismo muitas vezes questiona o que significa ser humano e como as tecnologias emergentes estão mudando nossa compreensão da identidade humana. Em "Women in Love", Lawrence mergulha profundamente na psicologia de seus personagens, explorando suas emoções, desejos e conflitos internos. Essa análise profunda da natureza humana pode ser vista como uma antecipação das preocupações do pós-humanismo em relação à evolução da identidade humana.

2. Relacionamentos e conexões interpessoais: O romance de Lawrence centra-se nas relações interligadas entre os personagens principais, explorando temas como amor, desejo, poder e intimidade. O pós-humanismo também se preocupa com as formas como os avanços tecnológicos estão afetando nossas conexões interpessoais, seja através das redes sociais, da realidade virtual ou de outras formas de interação mediada pela tecnologia. Embora "Women in Love" se passe em uma época anterior ao surgimento dessas tecnologias, a análise profunda dos relacionamentos humanos pode ser relevante para as discussões contemporâneas sobre o impacto da tecnologia na sociedade.

3. Natureza e corpo: O pós-humanismo muitas vezes desafia a dicotomia tradicional entre natureza e tecnologia, questionando as fronteiras entre o orgânico e o artificial. Em "Women in Love", Lawrence frequentemente descreve a natureza de forma intensamente sensorial, conectando os personagens com o ambiente natural ao seu redor. Essa ênfase na interação entre os seres humanos e o mundo natural pode ser vista como uma reflexão sobre as relações entre o corpo humano e seu ambiente, um tema que também é explorado no contexto do pós-humanismo.

4. Identidades de gênero: No romance de D. H. Lawrence, as relações entre homens e mulheres são examinadas em profundidade, e os personagens muitas vezes desafiam as expectativas sociais e de gênero de sua época. Por exemplo, os relacionamentos entre Ursula e Gudrun Brangwen, duas das protagonistas, exploram questões de independência, desejo e poder dentro do contexto das convenções de gênero da sociedade inglesa do início do século XX. Além disso, os personagens masculinos, como Rupert Birkin e Gerald Crich, também enfrentam questões relacionadas à masculinidade e ao papel dos homens na sociedade. Lawrence examina como esses personagens lidam com as expectativas sociais em relação ao que significa ser um homem e como eles negociam sua própria identidade de gênero em meio a essas pressões externas.

Embora "Women in Love" possa não abordar diretamente as questões do pós-humanismo, sua análise profunda da natureza humana, dos relacionamentos interpessoais e da interação entre os seres humanos e seu ambiente pode fornecer insights valiosos para as discussões sobre a evolução da identidade humana na era digital.

Biblioteca Pós-Humana - Herland: A terra das mulheres de Charlotte Perkins Gilman (1915)

Explorando 'Herland' de Charlotte Perkins Gilman à Luz do Movimento Pós-Humanista


O romance Herland: A terra das mulheres de Charlotte Perkins Gilman é uma obra fascinante que oferece uma visão única de uma sociedade exclusivamente feminina, isolada do mundo exterior. Publicado em 1915, o romance apresenta um cenário utópico que desafia as noções convencionais de gênero, poder e civilização. Ao analisar "Herland" à luz do movimento pós-humanista, podemos explorar como a obra de Gilman antecipou algumas das preocupações contemporâneas sobre identidade, tecnologia e a relação entre humanos e não humanos.

O movimento pós-humanista questiona as fronteiras tradicionais entre o humano e o não humano, enfatizando a interconexão entre humanos, máquinas, animais e ecossistemas. Em "Herland", essa interconexão é evidente na forma como as mulheres da sociedade isolada são retratadas. Elas não apenas dominaram habilidades tradicionalmente associadas aos homens, como a ciência e a tecnologia, mas também desenvolveram uma relação simbiótica com a natureza ao seu redor. Essa visão de uma sociedade onde humanos e natureza coexistem harmoniosamente ressoa com as preocupações pós-humanistas sobre a necessidade de repensar nossa relação com o meio ambiente.

Além disso, "Herland" desafia as noções convencionais de identidade de gênero e sexualidade. Na sociedade de Herland, não existem homens, e as mulheres reproduzem por meio da partenogênese. Isso levanta questões interessantes sobre a natureza fluida da identidade de gênero e a possibilidade de transcender as categorias binárias de masculino e feminino. No contexto pós-humanista, onde os avanços tecnológicos estão desafiando as noções tradicionais de corpo e identidade, a visão de Gilman em "Herland" oferece uma perspectiva provocativa sobre como as identidades podem ser construídas de maneiras diversas e não convencionais.

Um legítimo precursor do pós-humanismo. 


Trecho:

"Quanto à crítica de Terry, era verdade. Essas mulheres, cuja distinção essencial da maternidade era nota dominante de toda a sua cultura, eram muito deficientes no que chamamos de “feminilidade”. O que me levou à convicção de que os “charmes femininos” que apreciamos não são nada femininos, mas apenas reflexos da masculinidade — desenvolvidos para nos agradar porque elas precisam nos agradar —, nem um pouco essenciais ao desempenho. Mas Terry não havia chegado à tal conclusão.

— Esperem quando eu sair do confinamento! — murmurou ele.

Então ambos o alertamos.

— Terry, meu rapaz! Cuidado! Elas foram muito boas conosco, mas você se lembra da anestesia? Se fizer alguma travessura nesta terra virgem, cuidado com a vingança das Tias Solteironas! Vamos lá, seja homem! Não será para sempre.

Voltando à história:

Logo começaram a planejar e construir para as crianças, toda a força e a inteligência de todas devotadas a isso. Cada menina, claro, era criada sabendo de tudo sobre sua Tarefa Real, e tinham, mesmo então, ideias muito estimadas sobre o poder modelador da mãe, bem como da educação.

Que ideais nobres! Beleza, Saúde, Força, Intelecto, Bondade — para estes rezavam e trabalhavam.

Não tinham inimigos; entre si eram todas irmãs e amigas. A terra era boa, e um grande futuro começou a se formar em sua mente.

A religião que seguiam, de início, era muito parecida com a da Grécia Antiga — com deuses e deusas —, mas perderam interesse nas deidades da guerra e do lucro, e aos poucos se concentraram na Deusa Mãe. Então, conforme ficavam mais sábias, voltaram-se para uma espécie de Panteísmo Maternal.

Ali estava a Mãe Terra, produzindo frutos. Tudo que comiam era fruto da maternidade, da semente ao ovo. Pela maternidade nasceram e para a maternidade viviam — a vida era, para elas, o longo ciclo da maternidade.

Mas logo reconheceram a necessidade de melhoria além da mera repetição, e devotaram sua inteligência ao problema — como fazer as melhores pessoas. No começo, havia apenas a esperança de gerar mulheres melhores, depois perceberam que por mais que as crianças diferissem ao nascer, o crescimento real vinha depois, por meio da educação.

Assim, as coisas se puseram em marcha.

Quanto mais eu aprendia, mais apreciava o que essas mulheres haviam conquistado, e menos orgulho sentia do que nós, com toda a nossa masculinidade, fizéramos.

Entendam, elas não tinham guerras. Não tinham reis, nem padres, nem aristocracia. Eram irmãs, e conforme cresciam, cresciam juntas — não competindo, mas em ação unificada.

***

Orelha: 

"Publicado pela primeira vez em 1915, Terra das mulheres mostra como seria uma sociedade utópica composta unicamente por mulheres.

Antes do leitor encontrar a suposta maravilha dessa utopia, terá de acompanhar três exploradores — Van, o narrador; o doce Jeff; e Terry, o machão — e suas considerações e devaneios sobre o país, no qual, os três têm a certeza de que também existem homens, ainda que isolados e convocados apenas para fins de reprodução. Um país só de mulheres, segundo os três, seria caótico, selvagem, subdesenvolvido, inviável. 

Uma vez lá, Van, Jeff e Terry se dividem entre a curiosidade de exploradores com fins científicos e o impulso dominador de um homem, oscilando entre tentar entender mais sobre aquela utópica e desconhecida sociedade e o sonho de um harém repleto de mulheres que talvez estejam dispostas a satisfazê-los e servi-los.  

Biblioteca Pós-Humana - Rebecca West e o matrimônio

Explorando "Indissoluble Matrimony" de Rebecca West através da Lente Pós-Humanista


"Indissoluble Matrimony", uma obra intrigante de Rebecca West, publicada em 1914, oferece uma perspectiva única sobre as dinâmicas do casamento e as complexidades das relações humanas. No entanto, ao examiná-la sob a ótica do movimento pós-humanista, uma nova camada de significado emerge.

O movimento pós-humanista desafia as concepções tradicionais de identidade, corporeidade e relacionamentos humanos, questionando os limites do que significa ser humano. Nesse contexto, "Indissoluble Matrimony" pode ser interpretado como uma exploração das fronteiras fluidas entre o humano e o não humano, entre o eu e o outro.

West examina as interações entre os personagens não apenas como relações interpessoais, mas como encontros entre diferentes manifestações de ser. As complexidades emocionais e psicológicas dos personagens refletem uma busca por identidade e significado em um mundo em constante evolução.

Ao abordar temas como desejo, poder e controle dentro do contexto do casamento, West desafia as normas sociais e as expectativas de gênero da época. Sua narrativa sugere uma visão mais ampla do que constitui uma parceria significativa, transcendendo as limitações da definição convencional de matrimônio.

Em última análise, "Indissoluble Matrimony" convida os leitores a questionar suas próprias premissas sobre relacionamentos e a considerar as possibilidades futuras das interações humanas. Sob a lente pós-humanista, a obra de West ressoa com uma relevância duradoura, desafiando-nos a repensar o que significa ser humano e como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor.



Biblioteca Pós-humana: Filhos e Amantes de D. H. Lawrence, 1913

Sons and Lovers
D. H. Lawrence
1913
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"Sons and Lovers", escrito por D. H. Lawrence, é um romance publicado em 1913 que explora a vida de uma família em uma cidade mineira da Inglaterra. Enquanto o livro foi escrito muito antes do termo "pós-humanismo" ser cunhado, podemos analisar certos aspectos da obra à luz desse conceito.

O pós-humanismo é uma abordagem filosófica e cultural que questiona a centralidade do ser humano no mundo, desafiando a ideia tradicional de identidade e buscando uma visão mais ampla que inclua tanto os seres humanos quanto as tecnologias e o ambiente. Nesse sentido, "Sons and Lovers" apresenta elementos que podem ser interpretados dentro dessa perspectiva.

Um aspecto fundamental do pós-humanismo é a rejeição da dualidade entre o corpo e a mente. Lawrence explora essa interação complexa entre o corpo e a consciência em seus personagens principais. Por exemplo, Paul Morel, o protagonista, está preso em um relacionamento simbiótico com sua mãe, que o impede de desenvolver sua própria individualidade. A figura materna é retratada como uma força poderosa que molda as experiências de Paul, seu desejo, e suas perspectivas.

Essa dinâmica mãe-filho pode ser interpretada como uma forma de questionar a ideia de uma identidade humana individual e autônoma, pois Paul está em constante conflito entre suas próprias necessidades e desejos e as expectativas e influências de sua mãe. Essa luta interna reflete a complexidade das relações humanas e a forma como as identidades são construídas em interação com o ambiente e os outros.

Além disso, o pós-humanismo também aborda a relação entre os seres humanos e a tecnologia. Embora "Sons and Lovers" não se concentre diretamente nesse aspecto, a presença da industrialização e da mineração na trama do livro é relevante. A descrição do ambiente industrial e da exploração das minas de carvão pode ser interpretada como uma crítica ao modo como a tecnologia e o progresso podem afetar negativamente a natureza humana e a conexão com o mundo natural, isso sem contar as descobertas recentes da "epigenética".

Em suma, embora "Sons and Lovers" não tenha sido escrito com a intenção explícita de se enquadrar nas categorias do pós-humanismo, é possível identificar elementos na obra que ressoam com as preocupações e questionamentos desse movimento filosófico. A complexa relação entre corpo e mente, a interação entre os seres humanos e seu ambiente social e tecnológico e a busca por uma identidade individual são temas presentes no romance de Lawrence, que podem ser explorados sob a luz do pós-humanismo.


Biblioteca Pós-humana: The Prelude – William Wordsworth, 1805

The Prelude
William Wordsworth
1805
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"The Prelude" é um poema épico autobiográfico escrito por William Wordsworth, um dos maiores poetas românticos ingleses. O poema descreve a jornada da vida do autor, desde a infância até a idade adulta, e é considerado uma das suas obras mais importantes.

Ao olhar para o poema a partir de uma perspectiva pós-humanista, podemos notar alguns temas e ideias que ressoam com essa corrente de pensamento. O pós-humanismo é uma abordagem filosófica que busca questionar a noção de humanidade e explorar as relações entre humanos e tecnologia. Isso inclui ideias sobre a evolução do ser humano, a inteligência artificial e a ética em torno dessas questões.

Em "The Prelude", podemos notar um interesse de Wordsworth na natureza e na experiência humana em relação a ela. O poema descreve a relação do autor com a natureza, desde suas primeiras experiências na infância até suas reflexões sobre a natureza como adulto. Essa preocupação com a natureza e sua importância para a vida humana pode ser vista como uma resposta às preocupações pós-humanistas em torno da relação entre tecnologia e natureza.

Além disso, "The Prelude" também aborda temas relacionados ao desenvolvimento humano e à evolução da consciência. O poema descreve a jornada do autor em direção a uma compreensão mais profunda de si mesmo e do mundo ao seu redor, e essa jornada é vista como um processo contínuo de desenvolvimento pessoal. Essa abordagem pode ser vista como uma resposta à preocupação pós-humanista em torno do futuro da evolução humana e do papel que a tecnologia pode desempenhar nesse processo.

Em resumo, "The Prelude" de William Wordsworth aborda temas que ressoam com a abordagem pós-humanista, como a relação entre humanos e natureza e a evolução da consciência. Embora o poema tenha sido escrito há muito tempo, ainda pode ser relevante para as discussões atuais sobre o futuro da humanidade e a relação entre humanos e tecnologia.


Link para o poema original: http://triggs.djvu.org/djvu-editions.com/WORDSWORTH/PRELUDE1805/Download.pdf 

Link para uma Tese com a tradução para o Português: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/27573/TES_PPGLETRAS_2022_AGUIAR_ANGIULI.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Biblioteca Pós-humana: The Man That Was Used-Up - Edgar Allan Poe, 1839

The Man That Was Used-Up
Edgar Allan Poe
1839
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O conto "The Man That Was Used-Up" de Edgar Allan Poe, publicado em 1839, apresenta um personagem que é descrito como um modelo perfeito de eficiência e utilidade, mas que, ao mesmo tempo, parece ser uma figura estranhamente inumana e mecânica. Do ponto de vista do pós-humanismo, esse conto pode ser interpretado como uma reflexão sobre a relação entre o ser humano e a tecnologia, bem como sobre a natureza fluida e maleável da identidade humana.

Em "The Man That Was Used-Up", Poe descreve um personagem que é exaltado por sua habilidade em lidar com as demandas da sociedade, mas que, ao mesmo tempo, é desprovido de características humanas distintas. Ele é descrito como uma "máquina humana" ou "um homem mecânico", que é capaz de realizar suas tarefas de maneira eficiente, mas que não tem uma identidade claramente definida. Ele é um homem que foi "usado até o fim", uma figura que foi reduzida a uma série de funções úteis, mas que perdeu sua humanidade no processo.

Do ponto de vista do pós-humanismo, essa descrição evoca preocupações sobre o potencial para a tecnologia de reduzir os seres humanos a máquinas eficientes e úteis, ao mesmo tempo em que esvazia sua identidade e individualidade. Essa figura mecânica também sugere a possibilidade de que, à medida que a tecnologia avança, as fronteiras entre o humano e o mecânico possam se tornar cada vez mais difusas, levando a uma nova forma de existência pós-humana.

Por outro lado, o conto também sugere que a identidade humana pode ser fluida e mutável, e que a tecnologia pode desempenhar um papel na reconstrução ou reinvenção da identidade humana. O personagem principal do conto é capaz de assumir uma nova identidade depois de sofrer um acidente e ser reconstruído com partes artificiais do corpo. Essa transformação sugere que a identidade humana pode ser construída e reconstruída de maneiras que antes não eram possíveis, graças ao avanço da tecnologia.

Em última análise, o conto de Edgar Allan Poe "The Man That Was Used-Up" pode ser visto como uma reflexão sobre as possibilidades e preocupações apresentadas pelo pós-humanismo, e sobre a natureza em constante evolução da identidade humana na era da tecnologia.

Conheça a versão do conto em espanhol (El hombre que se gastó)  aqui: https://www.literatura.us/idiomas/eap_segasto.html

Biblioteca Pós-humana: Summer on the Lakes, in 1843 - Margaret Fuller, 1844

Summer on the Lakes, in 1843
Margaret Fuller
1844

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"Summer on the Lakes" é um livro de viagens escrito pela escritora, jornalista e crítica americana Margaret Fuller. O livro foi publicado originalmente em 1844 e descreve as experiências de Fuller durante sua viagem aos Grandes Lagos americanos em 1843.

Durante a viagem, Fuller visitou várias cidades e locais importantes, incluindo Chicago, Milwaukee, Mackinac Island e Niagara Falls. Ela também passou algum tempo com os nativos americanos que habitavam a região e discutiu suas culturas e tradições em detalhes.

Além de descrever as paisagens e as pessoas que ela conheceu durante a viagem, Fuller também usou o livro como uma oportunidade para expressar suas opiniões políticas e filosóficas. Ela escreveu sobre a questão da escravidão nos Estados Unidos, o papel das mulheres na sociedade e a importância da educação.

O livro é considerado um importante trabalho literário e histórico, não apenas por suas descrições vívidas das paisagens e culturas das Grandes Lagos, mas também por sua contribuição para os debates sociais e políticos da época. Margaret Fuller é reconhecida como uma das principais intelectuais e escritoras do século XIX e "Summer on the Lakes" é um exemplo de seu trabalho influente.

Embora "Summer on the Lakes" tenha sido publicado em 1844, seu impacto no pensamento pós-humanista é evidente em várias de suas ideias centrais. Uma das principais características do pós-humanismo é a preocupação com a relação entre humanos e outras formas de vida, bem como com a influência da tecnologia e da ciência na evolução do ser humano. Essas questões são abordadas de várias maneiras no livro de Fuller.

Uma dessas maneiras em que Fuller aborda a relação entre humanos e outras formas de vida é por meio de sua análise das culturas e tradições dos povos nativos americanos que ela conheceu durante a viagem. Ela destaca sua preocupação com a forma como a colonização europeia afetou essas culturas, mas também enfatiza a necessidade de entender e respeitar essas tradições, como parte da diversidade cultural do mundo.

"Summer on the Lakes" contribui para o pensamento pós-humanista através da análise que faz da relação entre o ser humano e a natureza. Ela descreve as paisagens naturais das Grandes Lagos com uma linguagem poética, mas também destaca a importância de preservar esses recursos naturais para as gerações futuras.

Em suma, "Summer on the Lakes" é uma obra que oferece insights valiosos sobre a relação entre humanos e outras formas de vida, bem como sobre a importância da preservação da natureza, da igualdade de gênero e da educação.


Biblioteca Pós-humana: A filha de Rappaccini de Nathaniel Hawthorne, 1844

A filha de Rappaccini
Nathaniel Hawthorne
1844
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"Rappaccini's Daughter" é um conto gótico escrito por Nathaniel Hawthorne em 1844, que conta a história de um jovem estudante chamado Giovanni que se apaixona pela filha do Dr. Rappaccini, Beatrice. O conto é ambientado em uma cidade italiana do século XVIII e explora temas de amor proibido, ciência desumana e manipulação genética.

O Dr. Rappaccini é um cientista que trabalha em um jardim secreto onde ele cultiva plantas com propriedades venenosas. Beatrice, sua filha, é criada no meio dessas plantas e desenvolve uma imunidade a elas. Giovanni é atraído pela beleza e pureza de Beatrice, mas logo descobre que ela é também venenosa e que seu pai a criou como uma espécie de experiência científica.

Em termos de pós-humanismo, "Rappaccini's Daughter" apresenta algumas ideias que são relevantes para esse movimento filosófico. Uma das principais é a noção de que a ciência e a tecnologia podem ter consequências imprevisíveis e perigosas. O Dr. Rappaccini é um exemplo de um cientista que está disposto a ir longe demais em sua busca pelo conhecimento, sem se importar com as implicações éticas ou morais de suas experiências.

Além disso, o conto aborda a questão da manipulação genética, que é um tema central do pós-humanismo. Beatrice é uma espécie de "ser pós-humano", criada por seu pai como uma mistura de humano e planta, e dotada de habilidades sobrenaturais. A forma como o Dr. Rappaccini a trata é emblemática da maneira como os seres pós-humanos podem ser vistos como objetos de estudo e experimentação.

Por fim, "Rappaccini's Daughter" também levanta questões sobre a natureza da identidade humana e a relação entre seres humanos e não humanos. Beatrice é vista como uma criatura estranha e perigosa por causa de sua imunidade às plantas venenosas, mas também é uma figura trágica e vulnerável que anseia por amor e aceitação. Essa tensão entre o estranho e o familiar, o humano e o não humano, é uma das principais preocupações do pós-humanismo.

Em resumo, "Rappaccini's Daughter" é um conto que toca em várias questões relevantes para o pós-humanismo, como a ética da ciência e da tecnologia, a manipulação genética, a identidade humana e a relação entre seres humanos e não humanos. É uma história sombria e fascinante que continua a ressoar com os leitores de hoje.


Biblioteca Pós-humana: The Coming Race - Edward Bulwer-Lytton, 1871

The Coming Race
Edward Bulwer-Lytton
1871

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"The Coming Race" é um romance de ficção científica escrito pelo autor britânico Edward Bulwer-Lytton em 1871. A história se passa em um mundo subterrâneo, habitado por uma raça avançada e pacífica de seres humanoides, conhecidos como "Vril-ya". O termo "Vril" é derivado da palavra sânscrita para "força vital", e é a fonte da habilidade dos habitantes deste mundo para realizar feitos aparentemente mágicos.

O protagonista do romance é um explorador chamado Adam, que acidentalmente descobre a entrada para o mundo subterrâneo enquanto viaja pelo Himalaia. Lá, ele é levado para a cidade de "Vril-ya", onde ele é inicialmente tratado com desconfiança pelos habitantes locais, mas eventualmente se torna amigo de um deles, chamado Zee.

Ao longo do romance, Bulwer-Lytton explora temas como o amor, a política, a religião e a tecnologia. Ele retrata a sociedade Vril-ya como uma utopia, com uma estrutura social altamente organizada e governada por líderes sábios e benevolentes. No entanto, a sociedade é vista como ameaçada por outras raças subterrâneas, que são retratadas como sendo malévolas e violentas.

Embora tenha sido escrito há mais de um século, "The Coming Race" continua a ser um trabalho influente na ficção científica. Sua descrição de uma sociedade utópica governada por tecnologia avançada tem sido citada como uma inspiração para obras posteriores, como "Utopia" de H. G. Wells e "Brave New World" de Aldous Huxley. O conceito de "Vril" também foi adotado por grupos ocultistas do século XIX, que acreditavam que ele representava uma fonte de energia cósmica e espiritual.

Há uma relação entre "The Coming Race" e o pós-humanismo, uma vez que o romance explora temas que são centrais para a discussão atual sobre a relação entre a tecnologia e a humanidade. 

O romance de Bulwer-Lytton apresenta uma sociedade subterrânea de seres humanoides altamente avançados, que utilizam uma fonte de energia mística conhecida como "Vril" para alcançar feitos aparentemente mágicos. Essa descrição pode ser vista como uma expressão de uma visão transumanista, que busca aprimorar a humanidade por meio da tecnologia.

Além disso, a história também aborda a questão do que acontece quando a tecnologia e a ciência ultrapassam os limites humanos e tornam-se forças que governam a sociedade. A sociedade Vril-ya é governada por uma elite de líderes sábios e benevolentes, que usam a tecnologia para controlar a população e manter a ordem. Esse tipo de estrutura social pode ser visto como uma forma de governança tecnocrática, que coloca a tecnologia e a ciência acima da vontade humana.

Dessa forma, "The Coming Race" apresenta uma visão futurista que é relevante para o pós-humanismo, uma vez que questiona a relação entre a tecnologia e a humanidade e os possíveis caminhos que podem ser tomados em um mundo cada vez mais tecnológico.


Biblioteca Pós-humana: Mary E. Bradley Lane - Mizora: A Prophecy

Mary E. Bradley Lane
Mizora: A Prophecy

Em 1890, Mary E. Bradley Lane publicou "Mizora: A Prophecy", um romance de ficção científica que apresentava uma utopia feminista. A história segue a protagonista Vera, que descobre um reino subterrâneo habitado exclusivamente por mulheres em uma jornada de exploração do Polo Norte.

Em Mizora, as mulheres são cientistas, filósofas e artistas, e a sociedade é governada por uma democracia direta em que todas as mulheres têm voz e voto. As mulheres em Mizora vivem por centenas de anos devido a um estilo de vida saudável e à aplicação da ciência à sua própria saúde e bem-estar.

O livro de Lane é notável por sua visão progressista e suas críticas à sociedade patriarcal do século XIX. Embora algumas de suas ideias possam parecer ultrapassadas hoje em dia, "Mizora: A Prophecy" continua sendo um exemplo importante de ficção científica feminista e utópica.

Uma das principais características do pós-humanismo é a preocupação com a possibilidade de transcender as limitações físicas e biológicas do ser humano por meio da tecnologia e da ciência. "Mizora: A Prophecy" aborda essa questão ao descrever uma sociedade avançada habitada exclusivamente por mulheres, que usam a tecnologia para superar limitações biológicas, como a capacidade de gerar filhos e a mortalidade.

A obra de Bradley Lane é relevante para o pós-humanismo porque explora questões relacionadas à igualdade de gênero e à diversidade. A sociedade de Mizora é composta apenas por mulheres, que vivem em harmonia e colaboração, em contraste com a sociedade patriarcal da época em que o livro foi escrito.

Outro aspecto interessante do livro é a visão de Bradley Lane sobre a natureza humana e a possibilidade de aperfeiçoamento moral. Na sociedade de Mizora, as mulheres são educadas desde jovens a serem altruístas e a pensar no bem-estar coletivo, em vez de apenas em seus próprios interesses. Essa ideia é relevante para o pós-humanismo, que busca uma visão de mundo em que a busca por um bem comum é valorizada em detrimento de interesses individuais.

Por fim, o livro de Bradley Lane também aborda questões relacionadas ao meio ambiente e à sustentabilidade. A sociedade de Mizora é descrita como vivendo em harmonia com a natureza, usando tecnologia avançada para preservar os recursos naturais e evitar danos ao meio ambiente. Essa visão é relevante para o pós-humanismo, que enfatiza a importância de uma relação sustentável entre humanos e o meio ambiente.

Em suma, "Mizora: A Prophecy" é uma obra importante para o pensamento pós-humanista, pois aborda questões como a transcendência das limitações biológicas, a igualdade de gênero, a busca pelo bem comum, a sustentabilidade e a relação entre humanos e o meio ambiente. Seu impacto na literatura e no pensamento feminista do final do século XIX torna sua relevância ainda mais significativa.


Link para Download: https://www.gutenberg.org/ebooks/24750

O Pós-humano de Frederik Pohl ilustrado por Chris Moore

Pregação dominical: O Pós-humano

A ideia é de que no futuro distante, a vida em outros planetas como em Marte, não será mais feita por pessoas utilizando roupas espacias, mas sim, a humanidade adotará mudanças genéticas e próteses biomecânicas para a colonização planetária. 

O exemplo da imagem é de um pós-humano em Marte.  

Ilustração de Chris Moore para a capa do livro 'Man Plus' de FREDERIK POHL de 1976 



O Computador Neural - Frank Schätzing (O Quinto Dia)

 Uma cópia perfeita do pensamento da pessoa escaneada

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"O computador neural é um modelo de reconstrução completa do cérebro", disse Olivia. Nosso cérebro é composto de bilhões de células nervosas. Cada célula está conectada a inúmeras outras células. Eles se comunicam por impulsos elétricos. É assim que conhecimentos, experiências e emoções são permanentemente atualizados, reordenados ou arquivados. A cada segundo de nossas vidas, mesmo quando dormimos, nosso cérebro está em constante reestruturação. Com a técnica atual, áreas cerebrais ativas podem ser representadas com precisão milimétrica. Como um mapa. Podemos ver como as pessoas pensam e sentem, como em um determinado momento várias células nervosas são ativadas ao mesmo tempo, por exemplo, no momento de um beijo, ao sofrer uma dor ou lembrar de algo.

"Os pontos são conhecidos, e a marinha sabe onde aplicar um estímulo elétrico para provocar a reação desejada", Anawak tomou a palavra. Mas ainda é um conhecimento muito geral. Como um mapa com precisão de apenas cinquenta quilômetros quadrados. Kurzweil, por outro lado, acredita que em breve seremos capazes de escanear um cérebro inteiro, incluindo cada conexão nervosa, cada sinapse, e saberemos exatamente a concentração exata de todos os mensageiros químicos, até o último detalhe de cada célula!

"Ugh", disse Vanderbilt.

'Uma vez que toda a informação está dentro', continuou Olivia, 'um cérebro com todas as suas funções pode ser transferido para um computador neural. O computador faria uma cópia perfeita do pensamento da pessoa cujo cérebro foi escaneado, junto com suas memórias e faculdades. Um segundo eu.

Li levantou a mão.

"Posso garantir que o MKO ainda não chegou tão longe", disse ele. Por enquanto, o computador neural de Kurzweil ainda é uma ideia.

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Der Schwarm
Frank Schätzing
2004

A origem dos Androides - Edmund Cooper

Os Androides

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Os primeiros modelos pareciam armaduras medievais leves. Então, o processo de humanização foi gradualmente aperfeiçoado. Novas técnicas tornaram possível resolver o problema do peso; consequentemente, os pés ficaram esbeltos e humanos em forma. O desenvolvimento da micro-atômica, uma usina de energia atômica em miniatura, permitiu que a fonte de energia fosse contida em uma cápsula de chumbo ligeiramente maior que um coração humano. Mãos mecânicas foram modeladas no estilo humano. A cabeça foi humanizada e separada do busto por meio de um pescoço. E finalmente, os contornos parecidos com carne foram cobertos com couro sintético, o cabelo natural foi aplicado por meio de uma tampa de plástico e um rosto foi criado com olhos artificiais, orelhas, nariz e boca. E lábios capazes de sorrir. O produto final não tinha mais nenhuma semelhança com seus ancestrais de uma tonelada e meia. Ele era um robô humanizado em todos os aspectos. Um androide…

Por causa de sua aparência humana, esses novos robôs causaram uma mudança ainda maior na sociedade do que os modelos convencionais. As pessoas rapidamente se acostumaram com a ideia de manter os androides em casa, e logo aqueles que persistiram em não ter um androide foram considerados retrógrados. Permitir que os androides executassem todas aquelas funções que não eram intrinsecamente interessantes era considerado um sinal de distinção e raça. Os usos e atividades dos androides se multiplicaram. Eles ganharam completamente o governo da casa, eles se tornaram motoristas e cuidadores. Tornou-se muito normal para uma menina solteira, ou para uma mulher solteira, ser acompanhada no almoço ou em um baile por um androide masculino. Para um solteirão solitário ou para um marido cuja esposa saísse de férias ou estivesse ocupada em outro lugar, tornou-se muito natural usar uma androide fêmea como companheira temporária.

No final, a ideia era que todo ser humano adulto deveria ter um androide pessoal capaz de atuar como manobrista, empregada doméstica, enfermeira, conselheira ou governanta, de acordo com as necessidades do momento. Os humanos acabaram confiando em androides para muitos tipos de atividades para as quais os robôs humanoides não foram originalmente projetados. Afinal, os androides eram máquinas muito confortáveis. E quase infalíveis. No final do século XXI, esses autômatos em particular atingiram tal grau de eficiência que podiam realizar profissões que antes eram consideradas habilidades exclusivamente humanas. Eles se tornaram médicos, dentistas, policiais… até psiquiatras. E então, finalmente, a humanidade descarregou o trabalho de seus ombros. O homem estava livre para se desfazer de sua vida como desejava. Ele estava até livre para trabalhar, se ele se importasse. Mas muito poucas pessoas fizeram isso, já que o trabalho era considerado… antiquado!

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The Uncertain Midnight
Edmund Cooper
1958

Incorporar material genético alienígena em humanos - John Scalzi

Uma criatura baseada em ser humano, mas não humano

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A nova e pequena sequência de DNA traz cada gene que torna um ser humano o que ele ou ela é, o que não é suficiente. O genótipo humano não permite ao fenótipo humano a plasticidade que as Forças Especiais exigem; em outras palavras: nossos genes não conseguem criar os super-humanos que os soldados das Forças Especiais precisam ser. O que resta do genoma humano é separado, reprojetado e remontado para formar genes que vão codificar capacidades substancialmente melhoradas. Esse processo pode exigir a introdução de genes ou material genético adicionais. Os genes que vêm de outros seres humanos em geral apresentam poucos problemas de incorporação, pois o genoma humano é fundamentalmente projetado para acomodar informações genéticas de outros genomas humanos (o processo pelo qual isso ocorre de forma normal, natural e entusiasmada chama-se “sexo”). O material genético de outras espécies terrestres também é relativamente fácil de incorporar, considerando que toda vida na Terra apresenta os mesmos blocos de construção genética e são aparentados geneticamente.

A incorporação de material genético de espécies não terrestres é substancialmente mais difícil. Alguns planetas desenvolveram estruturas genéticas mais ou menos similares às da Terra, incorporando alguns, se não todos os nucleotídeos incluídos na genética terrestre (talvez não seja coincidência que espécies inteligentes desses planetas sejam conhecidas por consumirem seres humanos às vezes; os Rraeys, por exemplo, acham os seres humanos bem apetitosos). Mas a maioria das espécies alienígenas tem estruturas e componentes genéticos muito distintos dos de criaturas terrestres. Usar seus genes não é uma simples questão de copiar e colar.

As Forças Especiais resolveram esse problema ao passar o equivalente de DNA das espécies alienígenas por um compilador que produz uma “tradução” genética em formato de DNA terrestre – o DNA resultante, se pudesse se desenvolver, criaria uma entidade tão próxima da criatura alienígena original em aparência e função quanto fosse possível. Genes de criaturas transliteradas eram então moldados no DNA das Forças Especiais.

O resultado final desse redesenho genético foi um DNA que descrevia uma criatura baseada em um ser humano, mas que não era humana de forma alguma – tão não humana que a criatura, se pudesse se desenvolver a partir desse estágio, seria uma aglomeração profana de partes, uma criatura monstruosa que teria deixado sua madrasta espiritual, Mary Wollstonecraft Shelley, mais que maluca.

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The Ghost Brigades (Old Man's War #2)
John Scalzi
2008

Implantes artificiais para a senilidade em 'Humanos' de Robert J. Sawyer

Velhos com olhos de sobra

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Ele era um membro da 138ª geração, um dos menos de mil indivíduos restantes daquele grupo... e ninguém de qualquer geração anterior ainda estava vivo.

Tukana conheceu outros 138, mas isso foi há muito tempo. Fazia pelo menos cinquenta meses desde a última vez que estivera na companhia de um, e ele nunca tinha visto alguém que parecesse tão velho.

Dizem que o cabelo grisalho é um sinal de sabedoria, mas o cabelo do grande homem desapareceu completamente, pelo menos daquele crânio incrivelmente longo. É verdade que ela ainda tinha pelos finos e quase transparentes nos braços. Era uma visão estranha: um velho enrugado, sua pele manchada de cinza e marrom, mas com penetrantes olhos azuis artificiais, bolas metálicas polidas de íris segmentadas, olhos que brilhavam por dentro. Claro, ele poderia ter olhos artificiais como os originais, mas esse homem, mais do que ninguém, não tinha motivos para esconder os implantes. Na verdade, Tukana sabia que outros implantes governavam a função de seu coração e rins, que o osso artificial havia substituído porções significativas de seu esqueleto em ruínas. Além disso, uma vez ouvira dizer, numa conversa com um exibicionista, que quando as pessoas eram tão velhas quanto ele, era melhor que os outros vissem que ele tinha olhos de sobra, porque assim já não supunham que ele era velho demais para não ver nada.

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Humans (Neanderthal Parallax, #2)
Robert J. Sawyer
2005



Modelo de corpo pós-humano na Ficção científica

Um corpo realmente otimizado

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Você já deve ter recebido o novo corpo das Forças Coloniais de Defesa. Parabéns! Seu novo corpo é resultado de décadas de refinamento tecnológico por cientistas e engenheiros da Colonial Genetics e foi otimizado para as exigências rigorosas do serviço das FCD. Este documento servirá como uma breve introdução às características e funções importantes de seu novo corpo e trará respostas a algumas das questões mais comuns que recrutas têm sobre o novo corpo.

NÃO É APENAS UM NOVO CORPO – É UM CORPO MELHOR

Certamente você já notou o tom verde da pele de seu novo corpo. Não é apenas um fator cosmético. Sua nova pele (KloraDerm™) contém clorofila para fornecer ao novo corpo uma fonte extra de energia e otimizar o uso tanto de oxigênio como de dióxido de carbono pelo corpo. Resultado: você se sentirá mais saudável por mais tempo e mais apto a cumprir suas funções como recruta a serviço das FCD! Esse é apenas o início das melhorias que encontrará em seu corpo. Aqui vão mais algumas:

• Seu tecido sanguíneo foi substituído pelo SmartBlood™ – um sistema revolucionário que aumenta a capacidade de transporte de oxigênio em quatro vezes, enquanto protege seu corpo contra doenças, toxinas e morte por perda de tecido sanguíneo!

• Nossa tecnologia patenteada CatsEye™ dará a você uma visão que você precisa ver para crer! Contagens maiores de cones e bastonetes trazem uma melhor resolução de imagem que pode ser alcançada nos sistemas evoluídos da maneira mais natural, e amplificadores de luz especialmente projetados permitem que você veja claramente em situações extremas de baixa luminosidade.

• Nosso pacote UncommonSense™ de aperfeiçoamento de sentidos permite que você toque, cheire, ouça e deguste como nunca antes, pois nossa colocação expandida de nervos e conexões otimizadas aumenta seu alcance perceptivo em todas as categorias sensoriais. Você sentirá a diferença desde o primeiro dia!

• O quanto você deseja ser forte? Com a tecnologia HardArm™, que aumenta naturalmente a força muscular e diminui o tempo de reação, você ficará mais forte e mais rápido do que jamais sonhou ser possível – tão forte e rápido, na verdade, que, por lei, a Colonial Genetics não tem permissão para comercializar esta tecnologia para o mercado consumidor. Esta é uma “mãozinha” de verdade para vocês, recrutas!

• Nunca mais fique desconectado! Você nunca perderá seu computador BrainPal™ porque ele está abrigado em seu cérebro. Nossa Interface Adaptável Auxiliar funciona com você para possibilitar o acesso ao BrainPal™ da maneira que quiser. Seu BrainPal™ também serve para coordenar tecnologias não orgânicas em seu novo corpo, como o SmartBlood™. Os recrutas das FDC confiam nessa tecnologia incrível – e você também confiará.

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Guerra do Velho
John Scalzi
2005



Frederik Pohl - Comunicações entre Homens e Animais


Posfácio de Frederik Pohl para a novela Nave Escrava, sobre o futuro das comunicações entre homens e animais.

Anotar fatos contemporâneos ou verdades científicas já acertadas não é tarefa de qualquer escritor de ficção científica. Entretanto ele deve considerar fatos já conhecidos e, por meio da extrapolação, deve compor um quadro pormenorizado daquilo que pensa que poderá ser descoberto pelos cientistas de amanhã... e como a futura raça humana poderá reagir a isto em seu cotidiano.

Como nem todos os elementos científicos contidos em Nave Escrava são "extrapolações", parece-me necessário oferecer uma espécie de indicador que permita haver uma distinção entre as coisas. Pelo que o autor sabe, desde o doutor Doolittle, nenhuma criatura humana conseguiu conversar, tratando de assuntos abstratos, com qualquer outra criatura que não fosse humana também. Entretanto, os idiomas animais existem, não apenas entre os gênios do reino animal, como os primatas e os cachorros, mas entre todas as espécies, mesmo as menos desenvolvidas. Obviamente, a questão gira em torno de uma definição do termo "idioma". Já foi comprovado que as abelhas se comunicam por meio de um certo número de sinais. Se o idioma só pode ser "falado", podemos citar o sapo, talvez o mais inferior entre os animais providos de voz. Um tipo de sapo que vive em Santo Domingo pronuncia pelo menos uma "palavra: trata-se de um guincho parecido ao de um porco, que ele solta em caso de alerta, e que difere de maneira absoluta de seus coachos habituais, que se parecem com latidos.

Considerando espécies mais desenvolvidas, lembramos o Dr. Konrad V. Lorenz, que conseguiu se comunicar com gralhas, patos e marrecos selvagens e outras aves, a respeito de matérias que as interessavam. Seus conhecimentos do idioma das gralhas inclui, por exemplo, sutilezas deste tipo: as duas formas do verbo "voar": Kia, que significa voar embora, e Kiaw, que significa voar para casa. Outras pessoas conseguiram resultados positivos pesquisando outros pássaros. Ernest Thompson Seton anotou uma comprida lista de "palavras" no idioma dos corvos; um cientista compilou um dicionário de sete verbetes no idioma dos gaios, e assim por diante.

Considerando então os mamíferos, somos levados a esperar um aumento considerável da quantidade de "palavras" e da sofisticação ao usá-las. Nossa expectativa está justificada. É difícil imaginarmos um homem que tenha vivido por muito tempo em contato com um cachorro, por exemplo, e que negue que seu animal tenha tentado se comunicar com ele, conseguindo muitas vezes um resultado. É verdade que os animais domésticos (especialmente os "superdomésticos", como os cachorros) são um caso à parte, podem ser comparados a uma criança americana criada na Babilônia; ela aprenderia sem dúvida a se comunicar, mas o faria em termos babilônicos e não no idioma de seus pais. A este ponto, vale a pena lembrar que pelo menos um cachorro, cujo nome era Fellow e que foi convidado de honra da Universidade Colúmbia de Nova Iorque, possuía um vocabulário inglês de quatrocentas palavras, que ele sempre reconhecia, não importando quem as pronunciasse. Entretanto, precisamos eliminar o idioma canino de nossas considerações, pois trata-se, na melhor das hipóteses, de uma espécie de beche-la-mer ou linguagem franca, totalmente poluída pelo idioma humano.

É possível que a linguagem dos gatos seja mais pura, e já foram identificadas quinze palavras felinas, e mais meia dúzia de equinas, e algumas poucas do idioma dos elefantes e dos porcos. O gibão, o gorila, e o orangotango possuem vocabulários extensos. E o chimpanzé, que dentre os primatas foi o mais pesquisado (exceto o homem), não apenas possui um vocabulário de trinta e duas palavras identificadas e distintas, mas segundo Blanche Learned poderia até reclamar para si um feito único de fama linguística. Um filólogo chamado George Schwidetzki afirma ter encontrado traços de palavras do idioma chimpanzé no chinês antigo ("ngak") num dialeto boxímane da África do Sul (um estalo da língua) e até no alemão moderno! (a palavra alemã "geck", originada na palavra chimpanzé "gack").

Uma das definições usadas para os homens refere-se a eles como "os animais que usam instrumentos", mas os elefantes arrancam galhos de árvores para espantar as moscas, os macacos-aranha costumam construir escadas para seus filhotes usando trepadeiras e existem também provas plausíveis para o fato que o urso polar costuma caçar leões-marinhos adormecidos com o auxílio de um instrumento primitivo que ele costuma arremessar: usar pedra de gelo. Existe uma outra definição que identifica o Homem como um "animal falante", mas as poucas observações anotadas mais acima provam que esta capacidade não deve ser considerada como única.

Talvez exista mais um pouco de espaço para uma terceira definição do Homem, não muito melhor que as duas anteriores, mas talvez não muito pior: o Homem, este animal esnobe... que se agarra na escada da evolução, permanecendo um degrau acima dos primitivos, e continua serrando a escada, serrando na tentativa de cortar qualquer ligação existente entre ele próprio e as Bestas desprovidas de alma, de fala e de cérebro... que, na realidade, não existe.

Frederik Pohl, 1956.