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O Homem e Deus — Jean Cap – Poema de Ficção científica

O Homem e Deus

Jean Cap




Deus havia dito:

«Ganarás o teu pão com o suor da tua testa».

O homem não quis.


Inventou a roda para evitar as fadigas da caminhada.

Inventou a máquina para que ela executasse o trabalho em seu lugar.

Inventou o robô para que o servisse em toda circunstância.

Inventou o cérebro eletrônico para que pensasse por ele.

E, no entanto, o homem trabalha sempre.


Deus havia dito:

«Não matarás o teu próximo».

O homem não quis.


Inventou a flecha para poder matar de longe.

Inventou a pólvora para poder matar ainda de mais longe.

Inventou a bomba para poder matar em massa.

Inventou a desintegração do átomo para poder matar mais rápido.

E, no entanto, sempre há homens.


Deus havia dito:

«Amem-se uns aos outros».

O homem não quis.


Inventou o crime para se livrar de um estorvo.

Inventou o carrasco para se livrar de um assassino.

Inventou a revolução para se livrar de um tirano.

Inventou a guerra para se livrar de um povo.

E, no entanto, o homem ama o amor.


Deus havia dito:

«Respeitarás a liberdade do próximo».

O homem não quis.


Inventou a canga para reduzir o cavalo à escravidão.

Inventou os campos para reduzir os homens à escravidão.

Inventou as guerras para reduzir os povos à escravidão.

Inventou os governos para reduzir a Terra à escravidão.

E, apesar de tudo, o homem se diz livre.


Deus havia dito:

«Eu te dou a Terra».

O homem não se contentou com isso.


Inventou o globo para elevar-se acima do solo.

Inventou o avião para viver no ar.

Inventou o foguete para estudar o éter.

Inventou o motor atômico para conquistar os outros planetas.


Então Deus castigou o homem. 

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Inteligência desencarnada e criadora — em Robert J. Sawyer

Um cientista criou nosso universo

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”Temos máquinas autoconscientes. Minha espaçonave, a Merelcas, é uma delas. E o que descobrimos é o seguinte: a inteligência é uma propriedade emergente... aparece espontaneamente em sistemas com ordem e complexidade suficientes. Suspeito que o ser que agora é o Deus deste universo era uma inteligência desencarnada que surgiu através de flutuações aleatórias em um universo anterior desprovido de biologia. Acredito que esse ser, existindo na solidão, buscou uma forma de garantir que o próximo universo fosse repleto de vida independente capaz de se reproduzir. Parece improvável que a biologia pudesse ter surgido por conta própria em qualquer universo de forma aleatória, mas seria de esperar o aparecimento de uma matriz espaço-tempo localizada de complexidade suficiente para evoluir a consciência por puro acaso após apenas alguns bilhões de anos. Flutuações, especialmente em universos diferentes deste em que as cinco forças fundamentais tinham poderes relativos não tão divergentes.” Ele fez uma pausa. A sugestão de que basicamente um cientista criou nosso universo atual explicaria o antigo problema filosófico de por que esse universo é compreensível para a mente científica; por que abstrações humanas e de Forhilnor, como matemática, indução e estética, podem ser aplicadas à natureza da realidade. Nosso universo é cientificamente compreensível porque foi criado por uma inteligência altamente avançada usando as ferramentas da ciência.

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Calculating God
Robert J. Sawyer
2002


Penso, logo existo

 Criação

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Nada. Vazio. Sem luz, sem som, sem peso.

Nada. Nada para ver, ouvir ou sentir. Sem forma, irreal... Nada.

O Universo era negro, morto, desaparecido. O mundo havia acabado.

Sem estrelas, sem cor, sem vida. A noite havia vencido e a luz desapareceu para sempre. A morte a havia conquistado. O grande relógio da criação parou. O grande gradiente de energia se achatou até se fundir com a linha zero. Frio e quente... não há mais palavras para isso. Não há movimento. Algum.

O infinito é uma igualdade obscura. Aqui e ali... os termos não fazem sentido. O vazio preenche tudo; tudo não era nada.

Uma consciência solitária na noite eterna, confusa, cambaleante, cheia de terror. Um ser vivo em morte infinita. Uma coisa consciente onde a consciência era inútil. Uma mente pensante, quando a hora de pensar passou.

Horn gritou. Silenciosamente. Imóvel. Era uma coisa mental aterrorizante sem extensão física, aprisionada dentro da barreira estreita ou intransponível da mente. Era um relâmpago capturado dentro de uma esfera vazia.

A respiração não dilatava seus pulmões nem agitava sua garganta. O coração já não batia com ritmo vital dentro do peito. Seus músculos não conseguiam se contrair ou relaxar. Era apenas uma consciência, solitária e desesperada. Uma mente solitária, girando no infinito.

Penso! Penso!

O infinito é dividido. Criação!

A consciência da matriz, sem peso, caindo eternamente em um precipício que se estendia para cima e para baixo, e ao redor dele.

Isso é impossível. Penso!

Não há acima, não há abaixo. Todas as direções levam para fora. Conhecimento. Uma mente que pensa. Existência. Penso logo existo. Teste do círculo. Fora isso, nada.

Nascimento!

Em um único fato, um homem pode construir um Universo. Sempre um fato, o mesmo. Penso logo existo. A realidade começa comigo. Eu sou o Universo! Eu sou o Criador!

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Star Bridge
James E. Gunn & Jack Williamson
1955


Fredric Brown - O Solipsista (Conto)


O solipsista

Fredric Brown

Walter B. Jehovah tinha sido solipsista toda a sua vida. Não vou justificar o seu nome, pois este era realmente o seu nome. Um solipsista, no caso de o leitor não conhecer a palavra, é alguém que acredita que ele próprio é a única coisa que realmente existe, que as outras pessoas e o universo em geral só existem na sua imaginação, e que se ele deixasse de os imaginar estes também deixariam de existir.

Um dia, Walter B. Jehovah começou a ser solipsista praticante. No espaço de uma semana, a sua mulher fugiu com outro homem, perdeu o seu emprego de expedidor e partiu uma perna quando afugentava um gato preto para impedir que este se atravessasse no seu caminho.

Enquanto estava de cama no hospital, decidiu acabar com tudo.

Olhou pela janela, contemplou as estrelas, desejou que elas deixassem de existir e elas desapareceram. Depois, desejou que todas as outras pessoas deixassem de existir e o hospital ficou estranhamente silencioso, apesar de ser um hospital. A seguir, fez o mesmo ao mundo, e encontrou-se suspenso num vazio. Livrou-se do seu corpo com a mesma facilidade e depois deu o passo final, querendo que ele próprio deixasse de existir.

Nada aconteceu.

Estranho, pensou, poderá haver um limite para o solipsismo?

"Sim", disse uma voz.

"Quem é?", perguntou Walter B. Jehovah.

"Sou aquele que criou o universo que acabaste de querer que deixasse de existir. E agora que vieste substituir-me - houve um suspiro profundo - posso finalmente deixar de existir, cair no esquecimento e deixar-te ocupar o meu lugar."

"Mas como posso eu deixar de existir? É isso que estou a tentar fazer, sabes?"

"Sim, sei", disse a voz. "Tens que fazer como eu fiz. Cria um universo. Espera até que surja nele uma pessoa que acredite realmente naquilo em que acreditaste e que queira que ele deixe de existir. Depois podes retirar-te e deixá-la ocupar o teu lugar. Adeus!"

E a voz desapareceu.

Walter B. Jehovah estava sozinho no vazio e só havia uma coisa que ele podia fazer. Criou o Céu e a Terra.

Levou sete dias a fazê-lo.


Fredric Brown
Tradução de Pedro Galvão
Retirado de What Mad Universe, 1949.

Fredric Brown - Resposta (Conto)


Resposta

Fredric BROWN

Cerimoniosamente, Dwar Ev soldou com ouro a última conexão. Os olhos de uma dezena de câmeras de televisão o obsevaram, propagando para o universo inteiro uma dezena de imagens daquilo que fazia.

Com um aceno para Dwar Reun, ele se ergueu e dirigiu-se para trás da chave cujo funcionamento faria o contato; o comutador que poria em conexão simultânea todos os monstruosos sistemas de computadores de cada um dos planêtas populados do universo - noventa e seis milhões ao todo - num circuito em que se comunicariam com o supercalculador, o prodígio cibernético que reuniria todo o conhecimento de tôdas as galáxias.

Dwar Reyn fêz uma breve introdução aos trilhões de telespectadores e após uma breve pausa, disse:

-Dwar Ev … Agora!

Dwar Ev acionou a chave. Houve um zumbido profundo, o desencadeamento da fôrça de noventa e seis bilhões de planêtas. Luzes piscarm até ganhar firmeza, no painel quilométrico.

Dwar Ev recuou e aspirou profundamente.

-A honra de fazer a primeira pergunta é sua, Dwar Reyn.- Farei a pergunta que nenhum sistema cibernético isolado foi capaz de responder até hoje.

Voltou-se, para encarar o painel.

-Deus existe?

A poderosa voz respondeu sem hesitação, e sem que se ouvisse o ruído de um disjuntor sequer.

-Sim, agora existe um Deus.

Um terror súbito surgiu no rosto de Dwar Ev. Com um salto, tentou atingir o computador.

O relâmpago que desceu do céu sem nuvens derrubou-o e fundiu definitivamente a chave de contato.


A Resposta, 1954, Fredric Brown
Título original: Answer
Tradução: Gilberto Couto Barreto