Mostrando postagens com marcador ARTIGOS. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ARTIGOS. Mostrar todas as postagens

Grandes temas da FC - Biologia - Brian Stableford


Grandes temas da Ficção científica: BIOLOGIA

Biologia é o estudo científico dos organismos vivos. O termo foi trazido para o inglês pela tradução da biologie em alemão em 1819, em reconhecimento ao fato de que a disciplina descritiva da "história natural" estava adquirindo bases teóricas elaboradas, graças ao progresso da anatomia comparada e da fisiologia. "Fisiologia" foi originalmente usada como sinônimo de "ciência natural", mas no final do século XVI foi rotineiramente restrita ao estudo do corpo humano e logo estendida ao estudo das funções corporais em geral.

O sucessor de Aristóteles, Teofrasto, fez a primeira divisão básica da biologia em zoologia e botânica; uma terceira categoria básica de microbiologia foi adicionada quando a invenção do microscópio revelou uma nova gama de organismos unicelulares. Enquanto a química orgânica permanecia misteriosa, o conhecimento biológico se restringia a relatos de forma, auxiliados por informações anatômicas obtidas por dissecação e por estudos de estrutura mais fina realizados com o auxílio do microscópio.

O estudo da fisiologia, iniciado por Galeno na época clássica, avançou com a descoberta da circulação do sangue por William Harvey em 1578 e os estudos do século XVII sobre digestão e reprodução, mas permaneceu confuso com as teorias vitalistas da vida até o século XIX. A descoberta de Harvey foi comemorada na "Ode ao Dr. Harvey" (1663), enquanto "O Desenvolvimento do Embrião" foi poeticamente celebrado em "A Criação" (1712), de Sir Richard Blackmore, mas o intenso interesse pelas descobertas fisiológicas geradas por sua potencial relevância para a medicina foi frustrado por suas limitações óbvias. 

Os esforços taxonômicos, ampliados pelas descobertas da paleontologia, permitiram o desenvolvimento de teorias da evolução biológica no final do século XVIII, mas seu desenvolvimento também foi prejudicado pela falta de qualquer bioquímica de apoio. A teorização da biologia progrediu de maneira marcadamente diferente daquela da física e da química porque a ciência não gerou leis matematicamente exprimíveis e muito poucas leis candidatas de qualquer tipo. Uma "lei biogenética" formulada por Karl von Baer em Developmental History of Animals (1828), afirmando que as formas pelas quais os embriões passam correspondem a fases taxonômicas de complexidade, pareceu a Ernst Haeckel ganhar mais significado quando essas fases foram ligadas a estágios na história evolutiva, mas sempre foi bastante impressionista. É repetido e especulativamente elaborado em The Land that Time Forgot, de Edgar Rice Burroughs (1918). Os princípios comparativos de anatomia usados por Georges Cuvier e seus sucessores para deduzir todas as formas de esqueletos a partir de fragmentos fósseis não eram tão impressionistas, mas tinham de ser considerados como provisórios e longe de certos.

A resposta literária ao avanço da pesquisa biológica no século XIX se preocupou principalmente com especulações médicas e respostas à controvérsia sobre as teorias da evolução. Sua característica geral mais óbvia foi o desenvolvimento do "fator repulsão" no uso da imaginação biológica para gerar novos monstros e nas atitudes para os tipos de investigação fisiológica que foram agrupados na imaginação popular sob o título de ''vivissecção''. Os anatomistas tradicionais se contentaram em trabalhar com espécimes mortos, mas as tentativas de vincular a estrutura orgânica com a função exigiram a investigação íntima dos vivos, provocando protestos em obras de ficção como Heart and Science (1883) de Wilkie Collins. Os próprios cientistas não estavam imunes a esse tipo de horror, como demonstrado pelo relato macabro de Sir Ronald Ross sobre "O Vivisector Vivisected" (escrito por volta de 1890; publicado em 1937), mas imagens de vivissecção tornaram-se um elemento-chave de tal exercícios de anti-ficção científica como "Brain" de S. Fowler Wright (1935).

Os corolários dessa repulsa quase instintiva a aparentes ofensas contra a Natureza foram explorados nos comentários de JBS Haldane sobre "invenções biológicas" em Daedalus (1923), que antecipou corretamente o teor das reações do século XX aos avanços da biotecnologia. A previsão de Haldane foi rapidamente confirmada por histórias de terror pulp, como as "Mãos do estenógrafo" (1928) de David H. Keller e "A metamorfose feminina" (1929). A ficção especulativa baseada em hipóteses biológicas de todo tipo sofreu mais intensamente do que qualquer outro subgênero do complexo Frankenstein, que recebeu o nome de um exercício pioneiro na investigação da natureza da vida.

Quer as inovações biológicas sejam retratadas na ficção como invenções técnicas ou meras descobertas, elas tendem a excitar o mesmo desgosto reflexivo. À medida que a ciência da biologia progrediu, portanto, a ficção de terror aumentou constantemente o capital que extrai da imaginação biológica. A energia narrativa da repulsa reflexiva é prontamente explorada em contes philosophiques biológicos como “A Filha de Rappaccini” de Nathaniel Hawthorne (1844), H.G. Wells The Island of Dr. Moreau (1896) e The Ant Heap (1929), de Edward Knoblock. Mesmo descobertas hipotéticas que respondem a desejos comuns desesperados - incluindo chaves para a longevidade - são rotineiramente tratadas com considerável suspeita. O desconforto social associado ao sexo garante que o fator repulsão seja extrapolado de uma maneira singularmente tortuosa no contexto da biologia reprodutiva, como observado em The Cheetah Girl, ironicamente autocensurado, mas decididamente escabroso, de Edward Heron-Allen (1922; inicialmente assinado por Christopher Blaire).

A natureza delicada da especulação biológica garantiu que ela fosse consideravelmente silenciada na ficção científica pulp, na medida em que James Blish considerou ''The Biological Story'' em uma série pioneira de artigos sobre ''The Science in Science Fiction'' (1951-1952) ele lamentou que só pudesse encontrar um exemplo significativo – "Crisis in Utopia" de Norman L. Knight (1940) – que não fosse uma história de terror. O fato de que o romance científico britânico devesse tanto ao papel exemplar de H.G. Wells - que foi educado em biologia e entusiasmado em extrapolar as ideas biológicas contemporâneas de uma maneira altamente aventureira garantiu que a ficção especulativa europeia fizesse mais uso das fantasias biológicas de uma maneira um pouco mais aberta. Heron-Allen também era biólogo por vocação, então muitos dos "papéis estranhos" atribuídos ao seu pseudônimo desenvolvem hipóteses biológicas. John Lionel Tayler, por vezes professor de biologia na University of London Extension College, escreveu a fantasia biológica de longo alcance The Last of My Race (1924), enquanto o antigo colaborador de Wells, Julian Huxley, produziu The Tissue-Culture King (1926), além de exercícios de não-ficção especulativa como 'Formigas filosóficas' em Essays of a Biologist (1923). Foi o irmão de Julian Huxley, Aldous, que produziu a derradeira extrapolação literária do fator repulsão em Admirável Mundo Novo (1932). A influência de Wells se estendeu além da Grã-Bretanha; outros pioneiros significativos da ficção científica biológica incluíram o francês Wellsian Andre Couvreur, em uma série com as façanhas do Professor Tornada (1909-1939), e o russo Mikhail Bulgakov, em ''Rokovy'e yaitsa'' (1925; trad. ''Os Ovos Fatais'') e Sobachy'e serdtse (1925; trad. como O Coração de um Cão).

A ficção científica biológica  pelo menos em suas variedades teratológicas  recebeu um impulso considerável quando foi demonstrado na década de 1920 que a radiação poderia produzir mutações genéticas, instituindo um subgênero de romance mutacional. Seu desenvolvimento mais importante no século XX foi, no entanto, a sofisticação das histórias de vida alienígena pela contribuição da hipotética ciência da exobiologia. Após a Segunda Guerra Mundial, James Blish estava na vanguarda de uma nova geração de escritores de ficção científica dispostos a ter uma visão mais equilibrada das perspectivas da biologia  um projeto auxiliado pelo status heroico conferido a James Watson e Francis Crick quando determinaram o estrutura do DNA das fotografias de raios X de Rosalind Franklin e inaugurou uma nova era na genética. A oposição ideológica ativa ao fator repulsão tornou-se evidente em obras como "Não era Syzygy" (1952), "The Sex Opposite" (1952) e "The Wages of Synergy", de Theodore Sturgeon (1953) – todos os quais empregam relações biológicas exóticas como metáforas para as relações sociais humanas. Um método analógico semelhante foi empregado por Alice Sheldon em "Your Haploid Heart" (1969) e "A Momentary Taste of Being" (1975) - ambos assinados por James Tiptree Jr. - e "The Momentary Taste of Being" (1975). Screwfly Solution'' (1977), assinado por Raccoona Sheldon.

É inevitável que as respostas literárias às ideas biológicas deem muito valor a metáforas desse tipo perturbador, dada a natureza do empreendimento literário e o potencial melodramático de conceitos como “guerra biológica”. As imagens literárias de biólogos sempre foram mais sinistras do que as de outros tipos de cientistas; os físicos podem ser mais capazes de explodir o mundo, mas apenas um biólogo poderia instituir uma simbiose grotesca entre sua esposa e um fungo, como em "Fruiting Body" (1962) de Rosel George Brown. Essa tendência tornou-se particularmente marcante durante a explosão da ficção científica biológica que ocorreu na década de 1970, quando as possibilidades da engenharia genética – especialmente a ideia de clonagem – tornaram-se um grande estímulo à imaginação especulativa. Simpáticas representações fictícias de biólogos tornaram-se mais comuns naquela época, mas os estigmas do Dr. Moreau, Dr. Jekyll e Victor Frankenstein não podiam ser apagados, mesmo em relatos imparciais como o apresentado em Teranesia (1999), de Greg Egan.

*

Brian Stableford - Science Fact and Science Fiction: an Encyclopedia, 2006

Moda e Ficção científica - Cabelos (Ashly Raiti & Irene Flores)

Cabelo —

No glamoroso centro da cidade, os Haves exibem penteados que colocam a forma acima da função. Formas grandes e extravagantes e penteados complicados estão na moda, mas por trás de cada estilo exagerado há uma base em anatomia. Antes de começar a desenhar, certifique-se de que você sabe como o cabelo se assenta no crânio.


DESENHO DE CACHOS

Esboce o formato da cabeça e escolha o ponto ou pontos onde você deseja que o cabelo se junte. Em seguida, comece a adicionar linhas de orientação na direção em que o cabelo será puxado. Como mostrado pelas linhas azuis, o cabelo se curva em direção ao coque seguindo o formato da cabeça. Por fim, finalize os detalhes do cabelo. O processo básico de desenhar um coque é o mesmo, independentemente de o penteado final ser simples ou elaborado. Se você quiser mais de um coque no visual final, basta segmentar o cabelo nas linhas de divisão.


A IMAGINAÇÃO É FUNDAMENTAL

Em um ambiente como esse, é importante deixar sua imaginação correr solta. Pense em ousadia, elegância e exagero. Em seguida, experimente tudo o que vier à mente.

***

Fonte: Sci-Fi Fashion ART SCHOOL: How to Draw Science Fiction Characters, Styles and Action Scenes. 

IRENE FLORES & ASHLY RAITI

2016

3 Antologias Pessoais da Ficção Científica #Sturgeon #Sheckley #Kuttner

3 Antologias Pessoais da Ficção Científica

A ficção científica surgiu popularmente no formato de contos (e contos longos também conhecidos no Brasil como 'noveletes'), publicados em revistas impressas em papel barato chamados pulps.

Os romances com histórias completas são uma concepção tardia do gênero, somente apareceram nos anos 1960, (desconsiderar H.G. Wells e Julio Verne). Também há um formato intermediário chamado de Fix-Up, que eram seleções de contos com ambientações semelhantes, amarrados de forma meio tosca e publicados como se tratasse de um romance.

Portanto, o conto é, digamos assim, a forma nativa e a mais natural de expressão da ficção científica.

Quase todos os autores de ficção científica escreveram contos. E o que é ainda melhor: desses a maioria teve coletâneas dos seus contos selecionados de maneira criteriosa e capazes de mostrarem decididamente o melhor do cada um.


Inicia-se aqui uma série de antologias pessoais que refletem o essencial de cada autor. Comecemos com essas três:


***

1. Theodore Sturgeon - La Fuente Del Unicornio, 1953. 
(Ainda sem tradução em português)


Este é o livro de contos mais famoso de Theodore Sturgeon e também é o mais variado em termos de estilos e argumentos. Seus contos sempre surpreendem pelo clima insólito, sobrenatural e as vezes até alucinante em que ele nos coloca. É uma ficção científica terrestre que corre estreitamente entremeada na realidade, com personagens problemáticos e estigmatizados na sociedade. Suas histórias dão medo, algumas são tristes de chorar e outras de uma maldade irônica e cruel.

Entre os contos eu destacaria La fuente del unicornio, que é o conto de abertura e pertence ao gênero fantástico. Un plato de soledad e El mundo bien perdido, que retratam bem esse clima de que falei acima, outros de terror puro como El osito de felpa del profesor, Una manera de pensar e principalmente Las manos de Bianca, um verdadeiro clássico que em 1947 ganhou um importante prêmio da revista inglesa Argosy, no qual foi finalista Graham Greene.


RELATOS:


La fuente del unicornio (The silken swift, 1953) - El osito de felpa del profesor (The Professor's Teddy-Bear , 1948) - Las manos de Bianca (Bianca's Hands, 1947) - Un plato de soledad (Saucer of Loneliness, 1953) - El mundo bien perdido (The World Well Lost, 1953) - No era sicigia (It wasn't syzygy / The deadly ratio, 1948) - La música (The music, 1953) - Cicatrices (Scars, 1949) - Fluffy (Fluffy, 1947) - Sexo opuesto (The sex opposite, 1952) - ¡Muere, maestro, muere! (Die, Maestro, die!, 1949) - Compañero de celda (Cellmate, 1947) - Una manera de pensar (A way of thinking, 1953).



***


2. Robert Sheckley - Ciudadano Del Espacio, 1955.

(Também sem tradução em português)


Essa é a coletânea 'crème de la crème' de Sheckley. Seu humor sarcástico, seu estilo rápido e suas criaturas dementes e perdedoras jogam com situações quase reais, que mesmo ocorrendo em planetas distantes nos parecem levemente familiares por mostrarem a hipocrisia, a falsidade e o egoísmo humano.

Todos os contos são ótimos, mas para sentir o estilo, aqui um trechinho do conto "Un pasaje a Tranai" (A Ticket to Tranai, 1955) :

"La mayor parte de sus habitantes eran indiferentes al espectáculo de corrupción administrativa, tanto en los altos cargos como en los de menor importancia; no reparaban en el juego, en las guerras del hampa ni en el alcoholismo de los adolescentes. Estaban acostumbrados a que las rutas se hallaran en pésimo estado, los viejos depósitos de agua estallaran, las plantas de energía se vinieran abajo y los edificios decrépitos se derrumbaran. Mientras tanto, los amos construían casas propias cada vez mayores, piscinas más suntuosas y establos más cálidos. La gente estaba habituada. Pero Goodman no."

Qualquer semelhança, não é mera coincidência...

RELATOS: 


La montaña sin nombre (The Mountain Without a Name, 1955), El contador (The Accountant, 1954), Caza difícil (Hunting Problem, 1955), Un ladrón en el tiempo (A Thief in Time, 1954), Un hombre de suerte (Fortunate Person, The Luckiest Man in the World, 1955), No tocar (Hands Off, 1954), Algo a cambio de nada (Something for Nothing, 1954), Un pasaje a Tranai (A Ticket to Tranai, 1955), La batalla (The Battle, 1954), Autorización para delinquir (Skulking Permit, 1954), Ciudadano del espacio (Spy Story, Citizen in Space, 1955) e Preguntas ingenuas (Ask a Foolish Question, 1953). Esta última história é sobre oráculos, e poderia ser resumida hoje assim: Google - acerta a resposta para quem souber fazer a pergunta...




***

Henry Kuttner - Lo Mejor de Henry Kuttner II, 1975.

(sem tradução ao português)


Autor bastante versátil e que faleceu cedo demais (1915-1958), está bem representado nestes dois volumes com o seu melhor. Por um daqueles acasos editoriais este segundo volume contém os contos mais inquietantes do autor. Alguns deles foram escritos em parceria com a sua esposa Catherine L. Moore. Todas as suas histórias são marcadamente irônicas e de um humor causticante. Utiliza todos os temas possíveis, terror, fantasia, fantástico, ficção científica soft e hard.

RELATOS:

Hubo una vez un gnomo (A Gnome There Was), La gran noche (The Big Night), Solo pan de jengibre (Nothing But Gingerbread Left), El patrón hierro (The Iron Standard), Guerra fría (Cold War), De lo contrario (Or Else), Cesión de beneficios (Endowment Policy), Problema de alquiler (Housing Problem), Lo que necesita (What You Need), e Absalon (Absalom).





***

Espero que o mercado editorial brasileiro ainda acorde para essa literatura mais personalizada da ficção científica, e possa vir a publicar finalmente em português essas obras já clássicas (e de domínio público). 

Herman Schmitz, Londrina-PR.

Maravilhas da Ficção Científica - Mario da Silva Brito

Maravilhas da Ficção Científica
Introdução de Mario da Silva Brito (trecho)

A ficção científica, de fato, é mais literatura do que ciência. Esta pertence aos compêndios e aos tratados. Os cientistas, no entanto, não a depreciam. Consideram-na, antes, uma hipótese de trabalho dependente da verificação sistemática.

O que a ciência pode representar para o homem na fecundação do seu espírito e na transformação de sua vida, formulando os termos do drama humano, já é matéria para a literatura, para a fábula. O reingresso do homem atua! no mundo da fábula — eis o que a science fiction pratica. Parte o escritor de uma concepção não alheia à ciência e cria, apoiado nela, a trama imaginária, e a narra consoante os seus recursos literários, e estes lhe darão, conforme a qualidade artística da fatura, grandeza ou platitude, realismo ou falsidade. Groff Conklin, experimentado antologista e teórico do gênero, conceitua-o como estando baseado em ideias científicas que não tenham sido provadas impossíveis. Daí não caber estranheza ante a notícia de que, na Universidade de Harvard, o professor Dwight Wayne Batteau mantenha uma cátedra de Ficção Científica aplicada à Engenharia, cuja finalidade é encaminhar os cientistas no aproveitamento das sugestões engendradas pelos escritores. Estes, por sua vez, em muitos casos, são técnicos, homens de laboratório e de pesquisas, cientistas numa palavra, e se valem da ficção para elaborarem, na forma de contos, novelas ou romances, hipóteses que não ousaram ainda formular em termos de rigorosa ciência. Há mesmo críticos literários que definem a ficção científica como a literatura da hipótese. O que importa assinalar, é que os escritores de ficção científica creem, convictamente, nas histórias que inventam e dão força de verdade à supra-realidade que descrevem. Por isso mesmo, os psicanalistas se detêm na análise mais profunda dessas narrativas, sentindo-as como um sonho rico de símbolos. Mas neste, como em qualquer outro gênero literário, o artesão não é dispensado, as regras estéticas não são abandonadas e nem a arte de compor, consoante as exigências estilísticas é de plano secundário. Exatamente porque, antes de mais nada, é preciso respeitar a sua condição de literatura.

A ficção científica, muito embora trate de mundos desconhecidos, de universos vagamente pressentidos, de objetos não identificados, de robôs e monstros, de fenômenos estranhos, de seres extraterrenos ou potências invisíveis, de naves estapafúrdias, de galáxias, de civilizações e culturas de outros planetas, é, em vez de escapista, vincadamente humana e dá a dimensão da perplexidade do homem na hora histórica em que vive. Pertence, como consequência, a um mundo que, pela exacerbação do conhecimento, derrogou as certezas que conquistara com o auxílio da própria ciência. Afinal, o homem moderno e o homem primitivo se igualaram na mesma ignorância — este por nada saber e aquele por saber demais, ficando, assim, atônito diante de cada nova descoberta. Um e outro, cada qual no seu devido tempo, lançam as mesmas indagações sofridas: Que é o homem? A vida? O tempo e o espaço? O futuro? Ambos se definem pela mesma insegurança, por semelhante inquietação ante o ignoto, o mistério. A ficção científica faz às vezes, enfim, de uma Cosmogonia. O Fabuloso de tal forma envolveu o homem, que tudo é mágico, mirabolante, absurdo, inédito e... possível.

A um mundo estável, que vai da geometria euclidiana ao racionalismo de Descartes, da regrada lógica aristotélica ao cosmos de Galileu e ao positivismo de Comte, para assinalar apenas algumas balizas, sucedeu outro, conturbado e revolucionado pela Relatividade, a Cibernética, os Quanta, a Mecânica Ondulatória, a Astrobiologia, a Sociometria, a Genética, a Psicanálise, as transmutações dos conceitos de Espaço e Tempo, a Radioatividade e os Raios Cósmicos, a Biofísica e a Bioquímica, a Eletrônica, a Telecomunicação, as mutações artificiais e tantas outras situações novas e desnorteantes que desmantelaram a solidez de suas interpretações da vida e do meio ambiente.

O homem, antes centro do Universo, acabou adquirindo a ciência — e o que é muito mais: a consciência — de que está instalado num minúsculo ponto perdido num braço de galáxia, entre outros milhares de milhões de grupos estelares, e sabe, por exemplo, que cada novo telescópio prescreve toda a Astronomia sabida até ontem. Ficou sem pontos de referência adaptados às dimensões humanas, observa Erich From, que ainda afirma: “A ciência, os negócios, a política, perderam todos os fundamentos e proporções que façam sentir humanamente. Vivemos em cifras e abstrações; posto que nada é concreto, nada é real. Tudo é possível, de fato e moralmente. A ficção científica não é diferente do fato científico, nem o são os pesadelos e os sonhos dos acontecimentos do ano seguinte.”

A ficção científica funda suas raízes nesse mundo instável e alienado. A espécie humana em perigo — perigo suposto ou real — produz uma literatura premonitória. É o grande documento da criatura em face ao seu destino problemático. Ou a catarse de um sentimento de culpa coletivo. Seja como for, é uma literatura do homem, nascida do seu íntimo profundo, não importa que tantas vezes temerosa e fatalista, desiludida e triste.

Em outros tempos, a literatura preocupou-se com o passado ou o presente das sociedades. Agora está voltada para o futuro, que não consegue vislumbrar nitidamente.

Literatura de fuga, essa da ficção científica? Parece que não. É antes filha do impasse, da crise, da humanidade intranquila e sem paz. Mas, nem por isso, é toda ela feita de dor e, em nenhum momento, de desprezo pela condição humana. Muito pelo contrário, está vinculada ao tempo terrível que as manchetes diariamente denunciam, e, em alguns autores, seus personagens, exilados em outras galáxias, ou em mundos artificiais, apresentam-se nostálgicos da boa e velha Terra que abandonaram por força das circunstâncias, e conspiram contra os governos estelares para retornarem ao solo de antanho, com o fito de novamente colonizá-lo, tirá-lo do seu barbarismo e reorganizá-lo em termos de amor e simplicidade. São personagens ansiosos por retomarem ao humano, por descobrirem uma verdade simples, que nada tenha a ver com máquinas, poder ou glória, mas que devolva aos seres a indispensável dimensão humana.

Uma derradeira indagação: até quando a ficção-científica será apenas ficção-científica?

MARIO DA SILVA BRITO

¿Qué es el método científico? — Isaac Asimov




¿Qué es el método científico?



Evidentemente, el método científico es el método que utilizan los científicos para hacer descubrimientos científicos. Pero esta definición no parece muy útil. ¿Podemos dar más detalles?

Pues bien, cabría dar la siguiente versión ideal de dicho método:

  1. Detectar la existencia de un problema, como puede ser, por ejemplo, la cuestión de por qué los objetos se mueven como lo hacen, acelerando en ciertas condiciones y decelerando en otras.
  2. Separar luego y desechar los aspectos no esenciales del problema. El olor de un objeto, por ejemplo, no juega ningún papel en su movimiento.
  3. Reunir todos los datos posibles que incidan en el problema. En los tiempos antiguos y medievales equivalía simplemente a la observación sagaz de la naturaleza, tal como existía. A principios de los tiempos modernos empezó a entreverse la posibilidad de ayudar a la naturaleza en ese sentido. Cabía planear deliberadamente una situación en la cual los objetos se comportaran de una manera determinada y suministraran datos relevantes para el problema. Uno podía, por ejemplo, hacer rodar una serie de esferas a lo largo de un plano inclinado, variando el tamaño de las esferas, la naturaleza de su superficie, la inclinación del plano, etc. Tales situaciones deliberadamente planeadas son experimentos, y el papel del experimento es tan capital para la ciencia moderna, que a veces se habla de «ciencia experimental» para distinguirla de la ciencia de los antiguos griegos.
  4. Reunidos todos los datos elabórese una generalización provisional que los describa a todos ellos de la manera más simple posible: un enunciado breve o una relación matemática. Esto es una hipótesis.
  5. Con la hipótesis en la mano se pueden predecir los resultados de experimentos que no se nos habían ocurrido hasta entonces. Intentar hacerlos y mirar si la hipótesis es válida.
  6. Si los experimentos funcionan tal como se esperaba, la hipótesis sale reforzada y puede adquirir el status de una teoría o incluso de una «ley natural».
Está claro que ninguna teoría ni ley natural tiene carácter definitivo. El proceso se repite una y otra vez. Continuamente se hacen y obtienen nuevos datos, nuevas observaciones, nuevos experimentos. Las viejas leyes naturales se ven constantemente superadas por otras más generales que explican todo cuanto explicaban las antiguas y un poco más.

Todo esto, como digo, es una versión ideal del método científico. En la práctica no es necesario que el científico pase por los distintos puntos como si fuese una serie de ejercicios caligráficos, y normalmente no lo hace.


*****¨¨¨¨¨¨¨¨*****


Isaac Asimov
Tirado de: 100 preguntas básicas sobre la ciencia
Alianza Editorial

Philip K. Dick - Biografia Esboçada

Introdução à tradução de Minority Report (Record - 2002)

Minority Report — A nova lei é a terceira superprodução de Hollywood baseada em uma obra de Philip K. Dick, junto com Blade Runner —O caçador de andróides (baseada no romance Do Androids Dream of Electric Sheeps?) e O vingador do futuro.

Houve, ainda, outras adaptações, como Screamers — Gritos mortais, com direção de Christian Dugway (baseada na novela A segunda variedade) e Impostor, de Gary Felder (baseada na história de mesmo nome). Sem mencionar a produção francesa Confissões de um doido, adaptada do romance sobre a vida nos EUA nos anos 50, Confessions of a Crap Artist. E nem se falou ainda nos projetos abortados. John Lennon interessou-se pelo romance The Three Stigmata of Palmer Eldrich (deu para perceber que Dick tinha um jeito muito particular com os títulos) e houve duas
tentativas de filmar A Scanner Darkly (primeiro com Terry Gillian na direção, agora com uma opção nas mãos de George Clooney e Steven Soderbergh).

Mas quando Dick morreu, há duas décadas, ainda muito novo, aos 54 anos de idade, seu trabalho era pouco conhecido fora de um pequeno círculo de admiradores apaixonados. Durante a maior parte de sua vida, ele foi relativamente pobre, às vezes quase miserável (em um artigo ele descreve, em seu estilo bem-humorado característico, como, durante uma época, ele e sua mulher sobreviviam comendo comida de cachorro), enquanto outros escritores americanos de ficção científica, como Isaac Asimov, Robert A. Heinlein e Frank Herbert, ficaram ricos, com grandes sucessos de vendas em todo o mundo. Apesar disso, esses três superastros só tiveram cada um uma grande produção baseada em seus trabalhos (respectivamente, O homem bicentenário, Tropas estelares e Duna — O mundo do futuro), um total que Dick sozinho conseguiu igualar.

Mas por que aconteceu isso? Por que o trabalho desse escritor praticamente sem dinheiro algum, cuja maioria dos livros eram edições de bolso baratas escritas em maratonas de algumas semanas movidas a anfetamina (no auge, escreveu seis por ano), atraiu tanta atenção?

Bem, a, primeira coisa a dizer é que, na opinião de muitos, se há um escritor de ficção científica que merece a definição de gênio, esse é Philip K. Dick. Ele não é um grande estilista literário, e às vezes a pressa com que escrevia fica evidente.

Mas uma torrente de invenção flui de seus livros e contos, acompanhada de alterações de percepção vertiginosas que são a marca registrada de seu trabalho.

Ele via o futuro de um jeito diferente dos outros escritores mais bem-sucedidos.

Enquanto eles optavam centrar suas histórias no conceito, Dick preferia as pessoas. E essas pessoas não eram heróis ou heroínas tradicionais: eram os cidadãos comuns do futuro, lutando contra versões diferentes dos problemas humanos normais: dificuldades financeiras, no trabalho e nos relacionamentos.

E no mundo do futuro que ele visualizava, essas dificuldades podiam ser aumentadas de maneiras ao mesmo tempo cômicas e imaginativas. Em uma história de Dick, se você atrasasse o aluguel, seu apartamento se recusaria a se abrir, e lhe passaria um sermão sobre suas responsabilidades. O táxi talvez seja uma máquina voadora, com um robô no volante, mas vai dar conselhos psiquiátricos misturados com sabedoria popular durante o trajeto até o seu destino. E o próprio mundo, muito freqüentemente, não era de jeito algum o que você pensava que era: a realidade do dia-a-dia que você enfrentava provava ser uma farsa elaborada e quando você, de algum jeito, conseguia ver por trás dos bastidores, normalmente encontrava algo também bastante estranho.

A maioria dos romancistas escreve sobre o que conhece, apesar de poder disfarçar isto. Dick não foi exceção. Ele gostava muito de filosofia, especialmente debates sobre a realidade e a percepção. Sua vida pessoal era muitas vezes complicada. Foi casado cinco vezes. E já mencionei seus constantes problemas financeiros. Como a maioria das pessoas nos anos 60, ele tomou drogas demais e acabou sofrendo as conseqüências disso a longo prazo. Na última década de sua vida ele também experimentou o que considerou serem revelações religiosas (apesar de poderem ter sido problemas cerebrais antecipando os acidentes vasculares que o mataram), e seus livros deram uma guinada, tornaram-se mais pesados e menos acessíveis.

Da maneira que o futuro se revelou nas últimas duas décadas — quando mesmo as previsões mais loucas começaram a tomar forma —, a visão que Philip K. Dick tinha de pessoas comuns em circunstâncias incomuns tornou-se a que melhor descreve a forma como ele é percebido por nós. Exatamente por isso, os produtores de cinema se voltaram sobre seus romances e livros, mais do que os de qualquer outro autor.

É trágico que Philip K. Dick não tenha vivido para ver isso. Ele assistiu a uma pré-estréia de Blade Runner — O caçador de andróides no início de 1982, mas morreu antes da estréia que mudou completamente a visão que o público tinha de seu trabalho. Mas ele teria visto isso como uma conclusão irônica totalmente de acordo com sua vida. E seu trabalho segue vivo, tão extraordinário hoje como quando foi escrito.

Malcom Edwards

A ciência e a ficção científica — Mario Da Silva Brito


A CIÊNCIA E A FICÇÃO CIENTÍFICA

A ficção científica, de fato, é mais literatura do que ciência. Esta pertence aos compêndios e aos tratados. Os cientistas, no entanto, não a depreciam. Consideram-na, antes, uma hipótese de trabalho dependente da verificação sistemática.

O que a ciência pode representar para o homem na fecundação do seu espírito e na transformação de sua vida, formulando os termos do drama humano, já é matéria para a literatura, para a fábula. O reingresso do homem atua! no mundo da fábula — eis o que a Science fiction pratica. Parte o escritor de uma concepção não alheia à ciência e cria, apoiado nela, a trama imaginária, e a narra consoante os seus recursos literários, e estes lhe darão, conforme a qualidade artística da fatura, grandeza ou platitude, realismo ou falsidade. Groff Conklin, experimentado antologista e teórico do gênero, conceitua-o como estando baseado em ideias científicas que não tenham sido provadas impossíveis. Daí não caber estranheza ante a notícia de que, na Universidade de Harvard, o professor Dwight Wayne Batteau mantenha uma cátedra de Ficção Científica aplicada à Engenharia, cuja finalidade é encaminhar os cientistas no aproveitamento das sugestões engendradas pelos escritores. Estes, por sua vez, em muitos casos, são técnicos, homens de laboratório e de pesquisas, cientistas numa palavra, e se valem da ficção para elaborarem, na forma de contos, novelas ou romances, hipóteses que não ousaram ainda formular em termos de rigorosa ciência. Há mesmo críticos literários que definem a ficção científica como a literatura da hipótese. O que importa assinalar, é que os escritores de ficção científica creem, convictamente, nas histórias que inventam e dão força de verdade à supra realidade que descrevem. Por isso mesmo, os psicanalistas se detêm na análise mais profunda dessas narrativas, sentindo-as como um sonho rico de símbolos. Mas neste, como em qualquer outro gênero literário, o artesão não é dispensado, as regras estéticas não são abandonadas e nem a arte de compor, consoante as exigências estilísticas é de plano secundário. Exatamente porque, antes de mais nada, é preciso respeitar a sua condição de literatura.

A ficção científica, muito embora trate de mundos desconhecidos, de universos vagamente pressentidos, de objetos não identificados, de robôs e monstros, de fenômenos estranhos, de seres extraterrenos ou potências invisíveis, de naves estapafúrdias, de galáxias, de civilizações e culturas de outros planetas, é, em vez de escapista, vincadamente humana e dá a dimensão da perplexidade do homem na hora histórica em que vive. Pertence, como consequência, a um mundo que, pela exacerbação do conhecimento, derrogou as certezas que conquistara com o auxílio da própria ciência. Afinal, o homem moderno e o homem primitivo se igualaram na mesma ignorância — este por nada saber e aquele por saber demais, ficando, assim, atônito diante de cada nova descoberta. Um e outro, cada qual no seu devido tempo, lançam as mesmas indagações sofridas: Que é o homem? A vida? O tempo e o espaço? O futuro? Ambos se definem pela mesma insegurança, por semelhante inquietação ante o ignoto, o mistério. A ficção científica faz às vezes, enfim, de uma Cosmogonia. O Fabuloso de tal forma envolveu o homem, que tudo é mágico, mirabolante, absurdo, inédito e... possível.

A um mundo estável, que ia da geometria euclidiana ao racionalismo de Descartes, da regrada lógica aristotélica ao cosmos de Galileu e ao positivismo de Comte, para assinalar apenas algumas balizas, sucedeu outro, conturbado e revolucionado pela Relatividade, a Cibernética, os Quanta, a Mecânica Ondulatória, a Astrobiologia, a Sociometria, a Genética, a Psicanálise, as transmutações dos conceitos de Espaço e Tempo, a Radioatividade e os Raios Cósmicos, a Biofísica e a Bioquímica, a Eletrônica, a Telecomunicação, as mutações artificiais e tantas outras situações novas e desnorteantes que desmantelaram a solidez de suas interpretações da vida e do meio ambiente.

O homem, antes centro do Universo, acabou adquirindo a ciência — e o que é muito mais: a consciência — de que está instalado num minúsculo ponto perdido num braço de galáxia, entre outros milhares de milhões de grupos estelares, e sabe, por exemplo, que cada novo telescópio prescreve toda a Astronomia sabida até ontem. Ficou sem pontos de referência adaptados às dimensões humanas, observa Erich From, que ainda afirma: “A ciência, os negócios, a política, perderam todos os fundamentos e proporções que façam sentir humanamente. Vivemos em cifras e abstrações; posto que nada é concreto, nada é real. Tudo é possível, de fato e moralmente. A ficção científica não é diferente do fato científico, nem o são os pesadelos e os sonhos dos acontecimentos do ano seguinte.”

A ficção científica funda suas raízes nesse mundo instável e alienado. A espécie humana em perigo — perigo suposto ou real — produz uma literatura premonitória. É o grande documento da criatura em face ao seu destino problemático. Ou a catarse de um sentimento de culpa coletivo. Seja como for, é uma literatura do homem, nascida do seu íntimo profundo, não importa que tantas vezes temerosa e fatalista, desiludida e triste.

Em outros tempos, a literatura preocupou-se com o passado ou o presente das sociedades. Agora está voltada para o futuro, que não consegue vislumbrar nitidamente.

Literatura de fuga, essa da ficção científica? Parece que não. É antes filha do impasse, da crise, da humanidade intranquila e sem paz. Mas, nem por isso, é toda ela feita de dor e, em nenhum momento, de desprezo pela condição humana. Muito pelo contrário, está vinculada ao tempo terrível que as manchetes diariamente denunciam, e, em alguns autores, seus personagens, exilados em outras galáxias, ou em mundos artificiais, apresentam-se nostálgicos da boa e velha Terra que abandonaram por força das circunstâncias, e conspiram contra os governos estelares para retornarem ao solo de antanho, com o fito de novamente colonizá-lo, tirá-lo do seu barbarismo e reorganizá-lo em termos de amor e simplicidade. São personagens ansiosos por retomarem ao humano, por descobrirem uma verdade simples, que nada tenha a ver com máquinas, poder ou glória, mas que devolva aos seres a indispensável dimensão humana.

Uma derradeira indagação: até quando a ficção científica será apenas ficção científica?

***

in MARAVILHAS DA FICÇÃO CIENTÍFICA, Cultrix, 1953.


O Escritor de Ficção Científica descrito por sua esposa (Fredric Brown)


O Escritor de Ficção Científica descrito por sua esposa

por Elizabeth Brown


Apresentação à coletânea Paradoxo Perdido 

de Fredric Brown



Fred detestava escrever. Mas gostava muito de ter escrito. Era capaz de entregar-se a toda espécie de atividade só para retardar o momento em que finalmente tinha de sentar-se à máquina: espanava a mesa, tocava flauta, lia um pouco, tornava a tocar. Ou, se residíamos numa cidade em que não houvesse carteiro, iria pessoalmente ao Correio buscar a correspondência, e, de caminho, convidava alguém para uma partida — às vezes duas ou três — de xadrez ou cartas. Quando finalmente voltava para casa, decidia já ser tarde demais para dar início ao trabalho. Após dias dessa prática, sua consciência acabava por doer. Era então que se entregava efetivamente ao trabalho, produzindo algumas linhas, ou mesmo páginas inteiras. Fosse como fosse, os livros aí estão escritos.

Não era autor prolífico. Em média, enchia três páginas por dia. Às vezes, quando o livro parecesse escrever-se por si, sua produção diária subia para seis ou sete laudas; o que entretanto era raro.

Fred tinha o hábito de andar de um lado para outro, sempre que planejava uma nova história. E como ambos passássemos em casa boa parte do tempo, surgiu o problema de que eu lhe interrompesse o fio das idéias, ao dirigir-lhe a palavra em tais ocasiões. Coisa que o azucrinava deveras. Após tentarmos, sem êxito, várias soluções, sugeri que usasse um boné vermelho quando não quisesse ser incomodado. O que ele fez. Com o passar do tempo, acostumei-me a inspecionar-lhe a cabeça antes de dirigir-me a ele.

Sempre que acabava um livro, íamos viajar, e o tempo que passávamos fora dependia exclusivamente de nossa situação financeira no momento.

Havia ocasiões em que sua imaginação realmente encalacrava. E por mais que andasse de um lado para outro em casa, não chegava a parte alguma. Quando isto se deu, certa vez, durante a composição de um de seus primeiros livros, achou ele que uma viagem noturna de ônibus talvez ajudasse. Não tinha o hábito de recolher cedo e supunha que, depois de apagadas as luzes do coletivo, tudo estando às quietas, pudesse se concentrar melhor. Muniu-se, pois, de um bloco de papéis e de um lápis-lanterna, passou alguns dias fora e, quando regressou, o problema estava resolvido.

Fez muitas outras viagens desse tipo. Tantas, que eu até acabei capaz de prever quando estavam para acontecer. Nem sempre ele regressava com a solução que tinha ido buscar; mas, nessa eventualidade, jã vinha com a trama pronta para algum outro livro.

O clímax de sua carreira foi quando abandonou a leitura de provas para dedicar-se por inteiro à tarefa de escrever. Mas a ocasião em que se sentiu mais feliz e orgulhoso foi quando ganhou o Prêmio Edgar Allan Poe, dos Escritores Americanos do Mistério, pela melhor história no gênero: The Fabulous Clipjoint. Nenhuma obra posterior lhe deu satisfação comparável. Essa assinalava, entretanto, sua estréia como escritor. É compreensível que, dentre os livros que escreveu, gostasse mais de uns que de outros; porém The Fabulous Clipjoint, por ter sido o primeiro, era também seu predileto.

Até que não tivesse vários volumes publicados, continuou a escrever contos entre um e outro livro, para não lhe faltarem recursos quando se empenhasse em obra de maior fôlego. Posteriormente, porém, só escrevia ou esboçava uma história curta quando estivesse seguro de que realmente devia fazê-lo.

Durante muito tempo desejou escrever The Office; mas, como se tratasse de um romance em moldes convencionais, a obra representava, para ele, uma experiência totalmente nova. Sabia que seus livros de mistério e ficção científica seriam sempre bem vendidos, mas ignorava qual pudesse ser a acolhida a um romance escrito por um estreante nesse campo. Ainda não se podia dar ao luxo de produzir obra que não vendesse com certeza. Por fim, escreveu-o. E vendeu.

Experimentou escrever para a TV por breve tempo, mas decidiu que isso não era para ele e acabou de volta aos livros. De sua autoria têm sido publicadas algumas centenas de contos e vinte e oito romances, sendo esta a sua oitava coletânea.

Se bem que aprecie todos os livros de Fred, o meu favorito é The Screaming Mimi. Outros de que também gosto especialmente são Here Comes a Candle, The Lenient Beast, The Far Cry, His Name Was Death e Night of the Jabberwock.

Realmente, não sou entusiasta da ficção científica, porque a maioria das obras desse gênero são, a meu ver, excessivamente técnicas. Mas acho as de Fred de fácil leitura. Minhas prediletas dentre essas são The Lights in the Sky Are Stars e The Mind Thing. What Mad Universe é obra quase clássica que também se pode contar entre as minhas favoritas.

Gosto muito de suas coletâneas, e desta em especial, por ser sua última obra acabada. E, já que representa seu adeus ao público, espero que o leitor também a aprecie.



Elizabeth Brown

Introdução à coletânea "Paradoxo Perdido". Ed. Cultrix, 1974.

A Alimentação no Futuro - Faith Popcorn e Adam Hanft

Pensando no Futuro da Alimentação


Haverá um tempo, onde os biscoitos pré-assados, em segundos, saem do micro forno, quentes, caramelizados e prontinhos para comer e exalando o aroma do forno da vovó.

A carne do futuro será o charque. Um cubo mais ou menos marmorizado e avermelhado. Alguns ricos, esnobes, comerão somente aves pastoreadas, vindas de rebanhos artesanais de galináceos com uma dieta seletiva de orgânicos.

Teremos os bares de comida, onde se pagará para se estar em torno de uma grande mesa de comida, na boa companhia de desconhecidos, como na 'távola redonda'.

Todas as comidas terão uma pitadinha de DIM (diidolimetano) esse fitonutriente naturalmente presente somente no brócolis, na couve-flor e na couve-de-bruxelas, que estimula a produção de enzimas que controlam a produção das outras enzimas que controlam a produção do estrogênio, o que reduzirá as TPMs, as menopausas e uma série de cânceres, além de baixar o nível do mau-estrogênio, notoriamente responsável por inúmeros danos ao ser humano.

Finalmente será instituída a cozinha do relógio biológico, que garantirá o retorno ao naturalismo interior. Você só comerá quando realmente estiver com fome.

Teremos embalagens comestíveis como sobremesa. A cara indústria do chocolate do futuro fará 'papéis chocolates' das mais diversas gramaturas, para embalar as marmitas e os sandubas do futuro.

Comeremos com sentimento. A boa refeição é uma combustão de elementos chaves de uma experiência. Comeremos com ambiente, espírito, nariz, olhos e ouvidos. A comida será uma transcendência a níveis mais elevados da degustação.

O abraço forte do gelo líquido transitável conterá o risco de contaminação por bactérias e teremos a pasteurização perfeita.

Nós poderemos comprar os nosso legumes diretamente da fazenda pela internet. Basta assinar uma cota no cyberfarm mas próximo.

Muitos restaurantes importantes vão sair às ruas. Concorrendo com as feiras livres, haverão comboios de restaurantes-vagões soltos pela cidade. De acordo com as promoções na internet, a empresa vai atrás e o morador pode ir almoçar tranquilamente no espanhol as quatro da tarde. Serão as ofertas do dia...

Teremos o congelamento molecular das frutas e dos legumes. A ameixa cai do pé de suculenta e madura, passa o raio criogelante, e ela pode circular o mundo, e descriogenar-se na mesa do almirante, que suspeitou de alguma fictícia irregularidade e para encerrar, comeu a suculenta ameixa em um mero aplicar de um raio reversor.

Frutas, esta será a carne do futuro. Altas combinações de 'planchados' de fruta ferverão nas grelhas dos poucos jardins e praias do futuro. A cozinha portuguesa, chinesa e tailandesa, se unem à francesa, grega e vietnamita. As frutas e os legumes imperam.

O arroz dominará incontinente. Arroz com ovos picados e presunto no café da manhã. Em pó! No almoço, arroz com frutos do mar e algas. No mercado tem na cumbuca, mas tem também em pó.

***

Verbete 'alimentação' do Dicionário do Futuro, Faith Popcorn e Adam Hanft. Editora Campus, 2002. 

Descrições de catástrofe em 'A Ameaça do Fundo do Mar' de John Wyndham





Wyndham foi sem dúvida inspirado por Wells no seu segundo romance, A Ameaça do Fundo do Mar (Kraken Wakes no original e Vivos: 20% em Portugal), outra obra pós-apocalíptica em que a Terra é invadida por extraterrestres, tal como em A Guerra dos Mundos. Neste caso, trata-se de uma invasão à escala mundial que começa a partir do mar, com os invasores a usarem os oceanos, mudanças climáticas e subida do nível do mar como armas. Seguimos a história pelos relatos de um casal de jornalistas britânicos que seguem os acontecimentos desde o início e são testemunhas de como os governos a nível mundial são incapazes de lidar com os acontecimentos com os quais são confrontados.


(...)

Muita gente notou o verão frio e enevoado da Inglaterra naquele ano, porém era mais com um sentimento de resignação do que de surpresa.

Na verdade, a consciência mundial pouca importância deu ao aumento do nevoeiro em diversas partes do mundo até os russos mencionarem o fenômeno. Uma nota de Moscou informava a existência de uma área de denso nevoeiro, tendo o seu centro no meridiano de 130’ leste de Greenwich, em torno do paralelo 85.

Os cientistas soviéticos, depois de amplas pesquisas, declaravam que jamais aquele fenômeno ocorrera antes. Não era possível também compreender como as condições climáticas reinantes naquela área podiam gerar o fenômeno e muito menos fazer com que se mantivesse praticamente inalterado durante três meses, desde que fora observado pela primeira vez. O Governo soviético, acrescentava a nota, por diversas vezes ressaltara que as atividades dos mercenários capitalistas provocadores de guerras no Ártico podiam constituir uma ameaça à paz mundial.

Galeria Isaac Asimov Magazine BRASIL

Isaac Asimov Magazine

Saudosa coleção publicada no Brasil dos anos 1990 a 1992 pela editora record, com autorização da praticamente milenar Asimo's Science Fiction dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, entretanto, só alcançou os parcos 25 números que são raramente encontrados hoje em dia. Falta de leitores? Crise econômica dos anos 1990? Mudanças na linha editorial da Record? Talvez um pouco de cada coisa, mas o fato é, que o desinteresse do público brasileiro pelo gênero é notório e já vem de uma outra empreitada, desta vez pela editora Globo, que publicou somente 20 números do Magazine de Ficção Científica entre maio de 1970 e novembro de 1971.

Estes poucos números entretanto, serviram para lançar uma série de novos autores da ficção científica brasileira, conhecidos hoje como a Geração IAM, destacando-se Roberto de Sousa Causo, Roberto Schima, Gerson Lodi-Ribeiro, Jose Carlos Neves e Cid Fernandez, que graças ao prêmio Jeronymo Monteiro foram incentivados e lidos nacionalmente. Um aspecto importante da Isaac Asimov Magazine foi a publicação de autores nacionais já conhecidos como André Carneiro e Jorge Luiz Calife entre outros.

Seguindo uma tradição criada pelos magazines americanos, em todos os números havia uma sessão chamada Depoimentos com assuntos temáticos onde também se publicou importantes autores locais, como Bráulio Tavares e Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Em praticamente todos ou números foram resenhados livros e filmes de ficção científica por Roberto de Souza Causo, e na sessão Cartas sempre havia comentários ou críticas bastante pertinentes e agradáveis de se ler. Os editoriais, como não poderia deixar de ser, ficavam a cargo do Isaac Asimov, infelizmente, não eram artigos escritos especialmente para a versão brasileira da revista, algo que teria sido interessante e talvez impulsionasse um pouco mais a IAM.


A revista tinha uma periodicidade mensal e era impressa na divisão gráfica da Distribuidora Record de Serviços de Imprensa. E o editor responsável foi o Ronaldo Sérgio de Biasi.


Lembro bem deste ultimo número, e do choque que foi para mim encontrar um pequeno box na página 10 com esse necrológico:

Conheçam todas as capas lançadas no álbum do Google+ neste LINK: https://plus.google.com/u/0/photos/103998711237758699926/albums/6114659251289470497?sort=1



Aqui está a minha coleção completa da IAM, já meio desgastada pelo tempo. Lembro-me de cada exemplar, todos conseguidos aqui em Londrina, onde só havia em uma banca que recebia o magazine, e nunca tinha um dia certo para chegar.

Por Herman Schmitz, o visionário.

Terrassol de Herman Schmitz — Juliana Gonçalves (Jornal de Londrina)

Em Terrassol, Herman Schmitz usa a ficção científica para criticar o progresso materialista

Contos em linguagem coloquial resultam em livro lançado pela Atrito Arte





Juliana Gonçalves
jgoncalves@jornaldelondrina.com.br
28/01/2015 00:50



(Crédito: Roberto Custódio/JL)


Uma civilização dizimada pelo mau uso de seus recursos naturais e dominada por alienígenas. Parece sinopse de filme, mas essa é a proposta de Terrassol, o livro de contos lançado em Londrina pelo escritor Herman Schmitz. Por meio da fantasia e da ironia, o autor faz uma importante crítica ambientalista e provoca a reflexão sobre os caminhos da ciência, o progresso materialista e o futuro da humanidade.

Publicado pela Atrito Arte, com ilustrações de Marcelo Galvan Leite, Terrassol é um livro infanto-juvenil que, garante o autor, também é atraente ao público que se interessa por textos irônicos e bem humorados. “Quem gosta de histórias em quadrinhos, por exemplo, certamente vai gostar”, avisa Schmitz.

A obra reúne 25 contos das diferentes linhas da ficção científica, abordando diferentes ciências, como ecologia, biologia, psicologia, realidade virtual, clonagem, física, neurologia, entre outras. Os contos levam em consideração a precisão científica com relação às leis e as teorias, o que faz com que a obra tenha também certo caráter didático e de divulgação científica.

Alguns deles têm um estilo mais retrô, outros seguem uma linha mais surrealista e outros se espelham na ficção científica dos anos 1940, utilizando da ironia para tratar de fatos atuais. Em tempos de estações invertidas e escassez de água, o enredo não poderia ser mais atual.

“Tem duas histórias no livro que falam da manipulação do clima e da poluição do planeta Terrassol, como é chamado pelos alienígenas. A destruição teria sido causada pelos terráqueos, que acabaram com a atmosfera do planeta”, antecipa o autor. Os contos podem ser lidos separadamente, mas só no último a reunião dos textos fará sentido para o leitor.

O texto, segundo o próprio autor, tem influências do rádio, segmento que já foi explorado por ele. “É um texto rápido e coloquial, resultado do trabalho de locução e declamação de poesias. Alguns, se lidos em voz alta, ficam mais expressivos”, sugere.

Gênero restrito

Originalmente, os contos foram escritos em forma de poemas, mas a restrição da literatura brasileira com relação ao gênero fez com que o autor adaptasse as obras. “Os contos de ficção científica já são raros no Brasil. Poesia, então, é ainda mais difícil”, justificou. “As histórias dos contos de ficção científica são boas, mas as pessoas não têm referência e isso faz com que esse gênero da literatura seja bastante discreto por aqui”, acrescenta.

Numa tentativa de disseminar o gênero, Schmitz mantem o blog marcianoscomonocinema.blogspot.com.br, onde posta textos seus e de outros autores que se dedicam aos contos de ficção científica.

“Minha formação na ficção científica se deu através de livros portugueses e espanhóis porque não há nem traduções aqui no Brasil. Quem quer conhecer o gênero, tem que ler em outros idiomas”, explica.

Serviço:
Terrassol – Livro de contos de Herman Schmitz. Editora Atrito Arte. À venda pelo e-mail da editora atritoart@gmail.com ou no e-mail do autor hermanschmitz@ig.com.br (a R$20) e no Sebo Capricho (Londrina na R. Mato Grosso, 211, a R$25).

Relação com o gênero é antiga
Terrassol é o segundo livro publicado por Schmitz. Sua primeira obra, Os Maracujás, lançado em 2007, é uma coletânea de poesias filosóficas. Mas já é antiga a proximidade da ficção científica com o trabalho desse curitibano radicado em Londrina há mais de 20 anos.

“Ainda lá em Curitiba, nos anos 80, eu escrevi uma peça, que depois foi até apresentada no Filo, que se chamava Avantpirada, cuja temática era a visita de uma nave alienígena à capital”, lembra.

Além do teatro e da literatura, Schmitz também já se dedicou à música. A banda Radicais Livres foi criada, segundo ele, para divulgar suas produções literárias.

“Com a música, a gente fazia a leitura de poesias que foram publicados n’Os maracujás”, conta. Atualmente, além de escrever novos contos de ficção científica, Schmitz está concluindo uma peça de teatro que trata da tecnofobia. “É um esquete de um ato e será meu próximo livro. Fala de pessoas que têm paranoia por causa do excesso de tecnologia”, antecipa.


Cordwainer Smith Y La Ciencia Ficción

CORDWAINER SMITH Y LA CIENCIA FICCIÓN


Hace treinta años publiqué un cuento en una revista llamada Fantasy Book. En realidad era sólo medio cuento (se trataba de una colaboración con Isaac Asimov, titulada Little Man on the Subway), y en realidad Fantasy Book era sólo media revista, ya que no duró demasiado ni llegó a un vasto público. Ni siquiera a mí me habría llegado de no haber sido un colaborador, o medio colaborador. Pero, qué diablos, contenía algunos cuentos buenos, y el mejor era uno titulado "Los observadores viven en vano", de un autor llamado Cordwainer Smith.

¿Cordwainer Smith? ¡Un cuerno! Enseguida me pregunté quién se escondía detrás de ese nombre. Henry Kuttner jugaba al escondite con los pseudónimos en aquella época, y también Roben A. Heinlein. Y la excelencia y la originalidad de "Los observadores viven en vano" eran dignas de cualquiera de los dos. Pero no seguía el estilo, o ninguno de los estilos, que yo asociaba con ellos. Además, lo negaron. ¿Theodore Sturgeon? ¿A. E. van Vogt? No, tampoco. Entonces, ¿quién?

No parecía probable que fuera un novato. Al margen del esquivo pseudónimo, había en «Observadores» demasiados matices, innovaciones y conceptos estimulantes como para que yo creyera por un segundo que no se trataba de la creación de un maestro de la ciencia ficción. No sólo era bueno. Era el trabajo de un experto. Ni siquiera los escritores excelentes lo son tanto en los primeros relatos.

Poco después firmé un contrato para publicar una antología de ciencia ficción con una sucursal de Doubleday que se titularía Beyond the End of Time. Esto me agradaba, entre otras cosas porque me daría la oportunidad de presentar Los observadores viven en vano a un público cien veces mayor que el de Fantasy Book. Y había una importante ventaja marginal: alguien tendría que firmar la autorización para publicar el cuento, y entonces le echaría el guante.

Pero no ocurrió así. La autorización vino firmada por Forrest J. Ackerman, como agente literario de Cordwainer Smith. Por un breve y frenético período creí que el mismo Forrest había escrito el cuento, pero él me aseguró que no. Y así quedaron las cosas. Transcurrió casi una década. Hasta que llegó el momento en que yo seleccionaba material para Galaxy y sonó mi teléfono. «¿Señor Pohl? —dijo el hombre del otro lado—. Soy Paul Linebarger.»

Dije «Aja» con un tono cuyo sentido él captó de inmediato como; ¿Y quién cuernos es Paul Linebarger? Se apresuró a añadir: «Escribo bajo el seudónimo de Cordwainer Smith.»

¿Quién es, pues, Paul Linebarger?

Permitan ustedes que les cuente una historia. Hace un par de años yo estaba viajando por Europa oriental como representante del Departamento de Estado de Estados Unidos, hablando de ciencia ficción a públicos integrados por polacos, macedonios y georgianos soviéticos, entre otros. La ciencia ficción norteamericana merece una gran aceptación en casi todo el mundo, incluida esa región. A mí me recibieron con cordial hospitalidad, al menos los europeos orientales; y a menudo, aunque no siempre, también los diplomáticos norteamericanos, que tenían la misión de mantenerme ocupado y alejado de posibles enredos. Lo peor de todo fue una cena en una embajada, en un país cuyo embajador estadounidense era un envarado tipo de la vieja escuela, que nunca había leído ciencia ficción ni se proponía leerla, y estaba visiblemente disgustado por la maligna jugarreta del destino que lo había obligado a charlar con una persona que se ganaba la vida escribiendo esa bazofia. No se ablandó hasta que llegamos al café y surgió el nombre de Cordwainer Smith. Yo mencioné su verdadero nombre. El embajador casi soltó la copa: «¿El doctor Paul Linebarger? ¿El profesor de Johns Hopkins?» «El mismo», respondí. «¡Pero si fue mí maestro!», exclamó el embajador. Y durante el resto de la velada no pudo mostrarse más encantador.

El profesor Linebarger enseñó relaciones exteriores no sólo a este embajador, sino a muchos más. Y no se limitaba a hablar de los acontecimientos sino que participaba activamente en ellos. Criado en China, dominaba el idioma a la perfección. También conocía varias lenguas más, y frecuentaba el Departamento de Estado para dar conferencias, explicar, conversar o negociar. Incluso en inglés. Una vez lo justificó de este modo: «Es porque yo puedo hablar... mucho... más... despacio... y... claramente... que... la... mayoría... de... las... personas.» Lo cual era cierto. Y, sin duda, él representó una gran ayuda para muchas personas cuyo inglés era defectuoso. Pero no creo ni por un segundo que ésa fuera la razón. El Departamento de Estado valoraba lo que valoramos todos: no la capacidad de expresión, sino la mente que la modelaba, sabia, ágil y amplia.

Viajero, profesor, escritor, diplomático, erudito, Paul Linebarger tuvo una vida fascinante. Si no hablo más sobre ella es porque no quiero repetir lo que John Jeremy Pierce ya ha dicho muy bien en su excelente ensayo1. La mayoría de los escritores, en su vida privada, son tan aburridos como el agua estancada. La vida de Paul Linebarger fue tan pintoresca como sus novelas.

Si ustedes no han leído mucha ciencia ficción, quizá se estén preguntando: «¿Quién es, pues, Cordwainer Smith?» Les contaré algo sobre su obra, y por qué fue y sigue siendo algo especial para muchos de nosotros.

Empecemos por esto. Toda la ciencia ficción es especial. No convence a todo el mundo, y es muy raro que a alguien le guste toda. Se presenta en una amplia gama de formas y sabores. Algunos son suaves y familiares, como la vainilla. Algunos son exóticos y difíciles de asimilar la primera vez, como un happening de esculturas de Tinguely. Ésa es una de las características que me atraen en la ciencia ficción: su exploratorio empleo de las incongruencias. Cuando este rasgo se lleva hasta el extremo, se convierte en una precaria danza sobre la cuerda floja, la audacia en equilibrio con el desastre; la imaginación del escritor y la tolerancia del lector se estiran hasta el punto del colapso catastrófico. Un milímetro más y todo se desmorona. Lo que quería ser desconcertante e innovador puede volverse simplemente absurdo. A. E. van Vogt caminó maravillosamente por esta angosta senda, y también Jack Vance; Samuel R. Delany lo hace ahora; pero nadie, jamás, lo ha hecho con más atrevido éxito que Cordwainer Smith. ¡El exotismo de sus conceptos, personajes e incluso palabras! Congohelio y stroon. Gentes-gato y robots con cerebro de ratón. Autopistas abandonadas de kilómetros de altura, y muertos que se mueven, actúan, piensan y sienten. Smith creó mundos de maravilla. Y nos convenció de que eran reales.

En parte lo consiguió gracias a su fino oído para el sonido y el sentido de las palabras. Su prosa cambió y se desarrolló durante los breves años de su corta carrera, y demostró una vez tras otra que la palabra adecuada era la palabra imprevista. El instinto verbal de Smith es tan personal que se puede detectar aun en el título de sus cuentos, aunque quizá no tan directamente como cabría imaginar. Una vez, James Blish apartó los ojos con deleite del último número de Galaxy y dijo: «Lo que más recuerdo de Cordwainer Smith son esos títulos maravillosamente personales.» Le pregunté a qué títulos se refería en particular. James respondió: «Bien, a todos. La Dama muerta de Clown Town, La balada de G'mell, Piensa azul, cuenta basta dos, por nombrar tres.» Le dije que eso me parecía curioso, porque ninguno de ellos había sido el título original de Smith. Yo había puesto título a esos cuentos al publicarlos. Pero James estaba en lo cierto, porque yo no los había inventado. Simplemente, habían surgido del texto de Smith.

Paul Linebarger no era un solitario. En realidad, todo lo contrario. Era gregario y locuaz, viajaba mucho, pasaba mucho tiempo en clases y reuniones. Pero no quería conocer a escritores de ciencia ficción. No porque no le gustaran. Era casi una superstición. Una vez había iniciado una carrera como escritor. Había publicado dos novelas, Carola y Ría, ninguna de ellas de ciencia ficción; ambas me recuerdan las novelas de Robert Briffault sobre política europea, Europa y Europa in Limbo. Se había propuesto continuar, pero no pudo hacerlo. Las novelas se habían publicado con el seudónimo Félix C. Forrest. Habían llamado bastante la atención y mucha gente se había preguntado quién era «Félix C. Forrest», y algunos lo habían averiguado. Por desgracia. Lo lamentable fue que cuando Paul entró en contacto directo con los lectores de «Forrest», ya no pudo escribir para ellos. ¿Sucedería lo mismo con la ciencia ficción en las mismas circunstancias? No lo sabía, pero no quería correr el riesgo.

Así que Paul Linebarger mantuvo su seudónimo en secreto. No asistía a las reuniones que celebraban los escritores y lectores de ciencia ficción. Cuando en 1963 se celebró la Convención Mundial de Ciencia Ficción en Washington, a un par de kilómetros de su casa, le pedí que asistiera para evaluar la situación. Yo no revelaría a nadie quién era él. SÍ lo prefería, podía dar media vuelta y largarse. De lo contrario... bien, no.

Paul reflexionó y al final, a regañadientes, decidió no arriesgarse. Pero dijo que había un par de individuos a quienes le gustaría conocer si ellos aceptaban ir a su casa. Y así ocurrió. Fue una tarde maravillosa, naturalmente. Tenía que serlo. Paul era un cordial anfitrión, y Genevieve —su ex alumna, y por entonces su esposa— una espléndida anfitriona. Bajo el acta de nacimiento en pergamino escarlata y oro escrita en caligrafía por el padrino de Paul, Sun Yat-sen, bebiendo pukka pegs (cócteles de ginger ale y brandy, los cuales, según Paul, habían permitido sobrevivir al ejército británico en la India), las vibraciones eran óptimas con aquella estimulante compañía.

Y no perjudicó en nada a su manera de escribir, ni entonces ni después. Continuó escribiendo, y en todo caso mejor que nunca. Disfrutó tanto de la compañía de sus invitados —en particular, Judith Merril y Algis Budrys— que se sintió más inclinado a conocer a otros escritores. Poco a poco lo hizo. Conoció a algunos en persona, a otros por correspondencia, a la mayoría por teléfono, y creo que no estaba lejos el momento en que Paul Linebarger se hubiera presentado en una convención de ciencia ficción. Tal vez en muchas. Pero el tiempo se agotó. Murió de un ataque cardíaco en 1966, a la injusta edad de cincuenta y tres años.

Toda obra importante de ficción está parcialmente escrita en clave. Lo que leemos en una frase no es siempre lo que el autor tenía en mente cuando la escribió, y hay veces — oh, demasiadas veces— en que ni siquiera el autor sabe exactamente lo que quiere decir. Esto no siempre constituye un defecto. En ocasiones es una necesidad. Cuando una mente humana, que está encerrada dentro del cráneo, que percibe el universo sólo a través de sus engañosos sentidos, y se comunica sólo a través de imprecisas palabras, busca significados complejos y modelos de comprensión, resulta difícil lograr una expresión explícita. Cuanto más altas sean las aspiraciones, más ardua es la tarea. Las aspiraciones de Cordwainer Smith iban a veces más allá de lo visible.

Paul me enseñó a descifrar algunos de sus mensajes, pero sólo los fáciles. En los archivos de la colección de manuscritos de la Universidad de Syracuse hay, o debería haber, una copia comentada de sus manuscritos con instrucciones para interpretarlos. Esos relatos constituían una parábola acerca de la política en el Medio Oriente. Se había tomado el trabajo de anotarme en los márgenes qué personajes del futuro remoto representaban a políticos actuales de Egipto o del Líbano.

Es el juego de muchos escritores. A veces resulta divertido, pero a mí no me convence demasiado. Lo que me agradaría descifrar en la obra de Cordwainer Smith es mucho más complicado. Sus intereses trascendían la vida actual y la política contemporánea, e incluso quizá la experiencia humana. Religión. Metafísica. Sentido último. La búsqueda de la verdad. Cuando uno se propone encerrar la verdad última en una red de palabras, se necesita mucha paciencia y destreza. La presa es esquiva. Peor aún. Se necesita también mucha fe, y una gran dosis de terquedad, porque lo que se busca tal vez no existe. ¿Se refiere la religión a algo «real»? ¿Hay un «sentido» del universo?

Los cuentos de Cordwainer Smith son ciencia ficción, claro que sí. Pero al menos los mejores de ellos pertenecen a esa ciencia ficción tan especial que C. S. Lewis denominó «ficción escatológica». No tratan sobre el futuro de seres humanos como nosotros. Tratan sobre lo que viene después de los seres humanos como nosotros. No dan respuestas, sino que plantean preguntas y nos alientan a plantearlas nosotros también. Con la aparición de la serie de los Señores de la Instrumentalidad quedan publicados todos los cuentos de ciencia ficción escritos por «Cordwainer Smith». Abarcan apenas cuatro volúmenes. Su carrera de escritor de ciencia ficción duró menos de una década, pero ¿cuántos escritores pueden igualarla en una vida?

Frederik Pohl
Shaumberg, Illinois
Julio de 1978
Introducción a La Dama Muerta de Clown Town

Murray Leinster — Uma abordagem da sua técnica literária

Uma das principais qualidades deste escritor está na capacidade de prender a atenção do leitor já nas primeiras linhas da história.
Por curiosidade vou citar alguns inícios de histórias suas como exemplo.
***
Prólogo

Mirando retrospectivamente, parece raro que nadie, salvo el profesor Minott, descubriera el asunto.
Los indicios eran más que evidentes. A principios de diciembre de 1934, el profesor Michaelson afirmó haber descubierto que la velocidad de la luz no es un límite absoluto ni puede considerarse constante. Naturalmente, éste fue uno de los primeros indicios de lo que iba a suceder.


AL MARGEN DEL TIEMPO
Murray Leinster
Conto Longo


***

CAPITULO I

Steve Waldron pensaba, no sin cierta desazón, que si hubiese sido un detective profesional a estas horas le habrían suspendido de empleo y sueldo. No obstante ni la misma policía había podido hacer más que él. Pero ésta no tenía que encararse con Lucy y reconocer la absoluta carencia de indicios que condujeran a descubrir lo que le había sucedido a su padre. La única hipótesis que podía avanzar era que se había esfumado en pleno aire. Y esto no parecía hallarse dentro de una lógica racional pura.

ATAQUE DESDE LA CUARTA DIMENSION
Murray Leinster
Romance
Título original: The Other Side of Here
Traducción: Felipe Hicks-Mudd
© 1954 Murray Leinster
© 1955 E.D.H.A.S.A.
Edición digital: Sadrac



***

Capítulo Primero

El mundo estaba notablemente normal cuando la cosa empezó. Algunos días antes, Soames se había dicho a sí mismo con mucha frecuencia que, en general, nada había cambiado. Para ese entonces conoció a Gail Haynes. Le gustó demasiado. Pero nada resultaría de eso. Soames tenía una pequeña cuenta en un Banco de Nueva York. Percibía una exigua renta por su profesión. Nunca fue lo suficientemente rico para poseer un automóvil propio. De vuelta en Estados Unidos hubiera tenido que contentarse con una motocicleta, y sus perspectivas de llegar a ser más rico eran nulas. Siempre ha habido gente en estas mismas condiciones. No constituye ninguna novedad. Porque, justamente entonces, no había prácticamente nada nuevo en ningún rincón de la tierra y entre todos estos lugares comunes la situación de Soames era de las más vulgares. Otras personas con el deseo de salir de sus apuros y preocupaciones financieras desarrollaban labores que no les interesaban mayormente y de esta manera recibían más dinero. Algunos ejecutaban trabajos extraordinarios por la noche y otros dejaban que sus esposas se emplearan, y casi todos tenían instantes de intensa satisfacción y momentos en los cuales amargamente lamentaban haber persuadido a estas jóvenes a contraer matrimonios tan poco atractivos y sin porvenir. Soames estaba resuelto a no hacer a Gail tamaña injusticia.


CUATRO DEL PLANETA CINCO
Murray Leinster
Romance
Título original: Four from planet 5
Traducción: Oscar Luis Molina
© 1959 by Murray Leinster
© 1964 Editora y Distribuidora Hispano Americana S. A.
Edición Electrónica: U.L.D.



***

Pete Davidson estaba prometido a la señorita Daisy Manners, del cabaret Green Paradise. Acababa de heredar todas las propiedades de un tío suyo que había sido una autoridad en la cuarta dimensión y era guardián de un canguro llamado Arthur que raramente se mostraba amable. Sin embargo, no era feliz y ello se demostró aquella mañana. En el laboratorio de su tío. 
Pete garabateaba sobre el papel. Hizo sumas y se llevó las manos a la cabeza con desesperación. Luego hizo restas, divisiones y multiplicaciones. Pero los resultados, invariablemente, eran problemas tan imposibles de solucionar como las ecuaciones tetradimensionales de su difunto pariente. De vez en cuando, un rostro caballuno y esperanzado le lanzaba miradas escudriñadoras. Se trataba de Thomas, el criado de su tío, que Pete temía haber heredado también.

EL DEMOSTRADOR DE LA CUARTA DIMENSIÓN
Murray Leinster
Conto
Título original: The Fourth Dimensional Demonstrator
Traducción: Adela Miró Sans.
Aparecido en: Pioneros del futuro. Luis de Caralt editor, 1977.
Edición digital: Sadrac 


***

Era algo absurdo, desde luego. Si Jimmy Patterson se lo hubiera contado a alguien que no fuera Haynes, unos hombres forzudos, embutidos en unas batas blancas, se lo hubieran llevado para someterle a un tratamiento psiquiátrico, que sin duda habría sido eficaz. Jimmy hubiera recobrado la cordura y el sentido común, lo cual habría provocado probablemente su muerte. De modo que para cualquiera que simpatizara con Jimmy y con Jane, es preferible que las cosas sucedieran como sucedieron.

EL OTRO AHORA
Murray Leinster
Conto
Título Original: The Other Now © 1951.
Edición Digital de Arácnido.


***

Esta es la historia de lo que le ocurrió a Tony Gregg una vez hubo aprendido la cuarta dimensión - o quizá era la quinta o la sexta - en un restaurante shishkebab del barrio sirio del bajo East Broadway, Nueva York.
No fue originalmente al restaurante con el fin de enterarse de lo de la cuarta dimensión. Su primera visita fue simplemente en busca de un shishkebab, que es un maravilloso plato de trozos de cordero clavados en unos pinchos y asados, con una inverosímil salsa que contiene hojas de parra. Fue de una manera puramente accidental que se le ocurrió preguntarle al dueño del restaurante por una moneda que llevaba - él, Tony - como talismán.

GUERRA A LOS DJINNS
(UN YANQUI EN LAS MIL Y UNA NOCHES)
Murray Leinster
Romance
En inglés: GATEWAY TO ELSEWHERE, 1954
(Entrada a otro lugar, nota de diaspar)
(Originalmente fue JOURNEY TO BARKUT, nota de urijenny)
Traducción: Manuel Bosch Barrett
Editorial E.D.H.A.S.A. 1956

***

Era el tercer día de agosto cuando Joe salió de la cadena de montaje, y el cinco Laurine llegó a la ciudad, y aquella tarde yo salvé la civilización. Esto es lo que yo me imagino, de todos modos. Laurine es una rubia que me tuvo sorbido el seso -loco es la palabra- y Joe es un lógico que he metido abajo, en el trastero, precisamente ahora. Tuve que pagar por él porque dije que me lo había cargado y a veces pienso en ponerlo en marcha y otras veces pienso en pegarle un hachazo. Tarde o temprano haré una cosa o la otra. Casi espero que será el hacha. No me vendrían mal un par de millones de dólares -¡seguro!- y Joe me soplaría cómo pescarlos o hacerlos. ¡Caray, lo que puede hacer! Pero hasta ahora he tenido miedo de probar. Después de todo se me figura que he salvado la civilización desenchufándolo.


UN LÓGICO LLAMADO JOE
A Logic Named Joe (1946)
Murray Leinster
Conto Longo
***