Culinária na Ficção científica - trecho de Susan Beth Pfeffer

Bons e velhos ovos de verdade

__________________________

Até uma visita da sra. Nesbitt é uma novidade agora. A energia elétrica não funciona durante boa parte do dia e na maior parte da noite, por isso não podemos ver tevê ou usar a internet. Não há dever de casa e ninguém tem vontade de conversar.

— Tenho uma guloseima maravilhosa — falou ela, enquanto segurava uma tigela coberta com um pano de prato.

Ficamos ao seu redor para ver o que ela tinha para nos mostrar. A sra. Nesbitt retirou o pano, como um mágico retira um coelho da cartola, mas tudo o que vimos foram toalhas de rosto. Ela riu ao ver a expressão em nossos rostos. Em seguida, desembrulhou as toalhas com cuidado. E lá estavam dois ovos.

Não eram muito grandes, mas foram os ovos mais bonitos que eu já vi.

— Onde a senhora os encontrou? — perguntou mamãe.

— Um de meus alunos trouxe para mim — falou a sra. Nesbitt. — Não foi uma graça da parte dele? Ele tem uma fazenda a cerca de dezesseis quilômetros da cidade e ainda tem ração para as galinhas, então elas ainda botam ovos. Ele trouxe dois para mim e para algumas outras pessoas. Falou que tem o suficiente para a família, se forem cuidadosos, e acharam que nós gostaríamos de comer uma guloseima especial. Eu não poderia apreciá-los sozinha.

Ovos. Bons e velhos ovos de verdade. Toquei num deles apenas para me lembrar de como era a casca de um ovo.

Primeiro, mamãe pegou duas batatas e uma cebola e picou-as, fritando-as em azeite de oliva. O cheiro das batatas e da cebola fritas era suficiente para nos deixar tontos. Enquanto elas cozinhavam, discutimos que pratos poderíamos fazer com os ovos. Fizemos uma votação e escolhemos que seriam mexidos. Ficamos pela cozinha e observamos mamãe bater os ovos com leite em pó. Claro que não tínhamos manteiga e, como não queríamos usar óleo de cozinha, minha mãe usou um pouco de spray para cozinhar e uma frigideira antiaderente.

Recebemos quantidades iguais de ovos, batatas e cebolas. Observei mamãe para ter certeza de que ela não iria comer menos. Cada um ganhou duas colheradas pequenas de ovos, e comemos aos poucos para fazer a comida durar mais.

Em seguida, Matt pulou da cadeira e falou que ele também tinha uma guloseima especial que estivera guardando, e que hoje era o dia ideal para isso. Ele correu para o quarto e voltou com uma barra de chocolate.

— Encontrei-o em minha mochila, ao desarrumá-la — contou. — Não sei há quanto tempo estava lá, mas chocolate não estraga.

Então, cada um de nós ganhou um pedaço de chocolate de sobremesa. Eu já tinha quase me esquecido do quanto gosto de chocolate e de que há algo nele que torna a vida um pouco mais maravilhosa.

___________________________________

Life as We Knew It
Susan Beth Pfeffer
2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário