Filhos do Fim do Mundo — Fábio M. Barreto (Prólogo)

Filhos do Fim do Mundo

Fábio M. Barreto




Prólogo

O resquício da forte tempestade ainda podia ser visto pelas janelas da delegacia quando o telefone tocou. As gotas caíam vagarosamente; a árvore de Natal iluminava o ambiente; quase ninguém de plantão. Ventava muito.

Os olhos da Plantonista de Emergência estavam paralisados. Arregalados. Aterrorizados. Resultado da mescla da preparação na Academia com a resposta aos gritos arrasadores do outro lado da linha. O identificador de chamadas mostrava a origem da ligação: o hospital local. Ela tentava falar, mas não conseguia. Simplesmente ficou muda e imóvel.

Outras ligações começam a preencher o painel virtual na tela do computador.

Em meio aos gritos da mulher que ligava, a Oficiala de Comunicação compreendeu a mensagem e não entendia como ainda não havia desmaiado ou passado mal por conta do estômago embrulhado. A Enfermeira da maternidade gritava a plenos pulmões e repetia a mesma frase. Um mantra agourento e desconcertante até mesmo para uma piada de mau gosto.

O painel de ligações acendia ferozmente. Notando o cenário esquisito e o crescente volume de ligações tomando todos os telefones da delegacia, o Delegado de Plantão ficou perplexo com a postura de sua colega. Deixou sua sala e a cutucou. Ela arriscou lançar um olhar, mas continuou paralisada. Balbuciou alguma coisa ininteligível. Ele puxou o telefone de apoio para atender uma das linhas, mas seu telefone celular tocou no mesmo instante.

Casa. A foto de sua esposa e seu filho apareceu no monitor.

Segundos depois de atender, o terror tomou conta de seu semblante. Lágrimas molhavam a face que se contorcia em desespero. Sua mulher berrava. Ele tinha um filho, um garoto sorridente, gordinho e bonachão de nove meses de idade.

Tinha.

Sua mulher e a Enfermeira gritavam a mesma coisa.

Seu filho estava morto.

Todas as crianças da maternidade estavam mortas. Todas.

Atrás dele, o relógio marcava meia-noite e cinco minutos. A luz verde do calendário eletrônico brilhava com ar fúnebre. Eram os primeiros minutos do fim do mundo.



O que é um prólogo? O prólogo é uma introdução presente em algumas obras literárias, frequentemente escrita pelo autor ou por uma terceira pessoa, que oferece ao leitor uma contextualização antes do início da narrativa principal. Ele pode esclarecer elementos importantes, como informações de fundo sobre os personagens, o cenário, ou a trama, preparando o leitor para a história que está por vir. Além disso, o prólogo pode explorar temas ou questões que serão centrais ao longo do livro, criando uma ponte entre o leitor e o universo ficcional da obra.


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