O Fim de Artur - Joe Kennedy
Sempre gostei muito do Rei Artur. Especialmente depois daquela noite em que ele evitou que eu ficasse convertido em um pinguim por toda a vida.
Tudo começou quando Merlin o Mago chegou em casa por volta das onze da noite. Vinha do baile anual dos Bruxos e Bruxas, e estava mais cheio de vinho que um barril. E bêbado, agitou um dedo na minha direção e exclamou:
— Converte-te em pinguim!
E eu me converti em um pinguim. Contemplei no espelho e notei que não era um pinguim de todo feio. Assentei as penas. Logo fui para a geladeira e me sentei dentro dela, disposto a ficar ali até que a bebedeira de Merlin já estivesse passado.
Por volta da uma da manhã ouviu-se um golpe violento na porta da frente. Merlin continuava roncando. Os golpes foram soando mais fortes. Depois de um breve espaço de tempo se ouviu um tremendo rangido e a porta arrebentou.
Ali estava o Rei Artur, vestido com a sua armadura, agitando a espada e gritando algo incompreensível. Merlin abriu um olho sanguinolento.
— Que hora mais condenada para fazer visitas – disse com um débil soluço.
— Merlin, obscuro bruxo de inomináveis necromancias – foi dizendo o Rei, agitando delicadamente a sua espada – por muito tempo foste uma praga a este belo reino com os teus diabólicos feitiços. Por fim descobri o teu imundo refúgio. Merlin, te restam escassos momentos de vida.
— O pior de vocês, estúpidos cavaleiros – queixou-se o mago –, é que não podem fazer nada sem declamar antes um maldito discurso. Por que não me matas e deixa de oratória?
— Não é a pior sugestão que ouvi – observou o Rei Artur, cortando o ar com um volteio da espada. A cabeça de Merlin caiu no chão, embora o corpo do mago continuasse deitado no leito.
Assim foi que os acontecimentos me favoreceram: imediatamente após o falecimento de Merlin, eu recuperei a minha forma natural.
Como já disse antes, sempre gostei muito do Rei Arthur. Sua clavícula me serve até hoje de excelente palito de dentes...
Título Original: The Passing of Arthur
©1966, C. C. H. Press Pub
Tradução: Herman Schmitz
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