Marte e a Mente do Homem - Arthur C. Clarke
Arthur C. Clarke: "Mesmo que agora não haja vida em Marte, haverá ao terminar este século".
Foi um compatriota de Arthur Clarke, Sir Isaac Newton, quem primeiro teve a ideia de um satélite artificial. Newton, no entanto, não chegou a propor que a Inglaterra lançasse o seu satélite; tal proeza seria impossível tecnologicamente no século dezessete. Mas em um de seus livros, Principia, ele formulou a idéia de um canhão, instalado em cima de uma montanha, que fosse disparando projéteis com alcance cada vez maior, até que um deles pudesse subir além da atmosfera, ou, ignorando-a, conseguisse entrar em órbita. E um dos descendentes intelectuais de Newton foi quem primeiro reconheceu a importantíssima e extremamente útil aplicação da técnica que nos permite estabelecer um sistema de comunicações através dos oceanos, ou mesmo através do mundo. Não foi alguém do Laboratório Bell ou de outro centro de pesquisas semelhante, e sim Arthur C. Clarke que, muito tempo antes da ideia se transformar num projeto em andamento, propôs a construção de satélites artificiais. Clarke é famoso pelo seu filme que posteriormente se transformou em livro (contrariando a regra geral), 2001, Uma Odisséia no Espaço, e, tendo em vista o assunto de que estamos tratando, não pode deixar de ser feita uma referência à outra obra sua, o livro "As Areias de Marte". Devo começar de forma análoga à de Ray Bradbury. Foi Edgar Rice Burroughs quem despertou meu interesse, e eu hoje em dia o considero um escritor muito subestimado. Um homem capaz de criar o personagem mais conhecido no mundo da ficção não devia ser tão pouco considerado! É claro que não resta muita coisa do seu Marte, e sua ciência foi sempre um tanto duvidosa. Ainda me lembro que mesmo quando eu era garoto, achava um tanto estranho aquele negócio de rochedos de ouro puro incrustados de pedras preciosas. Acho até que pode vir a ser um exercício interessante para um estudante de geologia para ver como um fenômeno desses poderia vir a ser provocado.
Outro escritor a quem faço questão de pagar meu tributo, em parte por ter vivido uma vida tão tragicamente curta, é Stanley G. Weinbaum, cuja "Odisséia Marciana" foi editada por volta de 1935. E finalmente, como não podia deixar de ser, a outra grande influência que tive foi a do nosso sábio de Boston. Pode-se dizer o que se quiser sobre sua competência como observador, mas não se pode negar o seu poder de propagandista, e acredito mesmo que ele mereça um certo crédito por ter pelo menos conservado a ideia da astronomia planetária viva e ativa durante um período em que de outra forma talvez tivesse sido negligenciada. Certamente que ele causou muitos prejuízos, em diversos aspectos, mas, levando-se em conta tudo o que tem acontecido, talvez os benefícios originados de sua ação possam ser considerados maiores.
Seja como for, fiquei comovido um dia desses quando visitei o Observatório Lowell pela primeira vez e dei uma olhada através do seu telescópio de 26 polegadas, ao lado do qual Lowell foi enterrado. Afligiu-me ver que seus documentos foram negligenciados e que estão espalhados de qualquer maneira. E por causa disto, iniciei uma série de providências que devem vir a resultar na ordenação metódica do seu trabalho, e, com alguma sorte, em sua publicação. Sejam quais forem as tolices que ele tenha escrito, espero que algum dia batizemos qualquer coisa em Marte com o seu nome, e estou certo de que ele não será esquecido neste campo do conhecimento humano.
O nome de H. G. Wells também foi citado, e muito merecidamente, claro. Muito ele fez por Marte, e sua obra está viva até hoje. O diretor de cinema George Pal, com sua montagem de A Guerra dos Mundos, está no mesmo caso.
Estamos vivendo agora um momento realmente histórico em relação a Marte. Não vou fazer nenhuma predição, porque isto seria tolice, mas, seja o que for que aconteça, sejam quais forem as descobertas dos próximos dias, semanas ou meses, a verdade é que a fronteira do nosso conhecimento está se deslocando inevitavelmente para mais longe.
Ele já envolveu a Lua. Ainda temos muito a aprender a respeito da Lua, e eu estou certo de que mesmo lá encontraremos muitas surpresas. Mas a fronteira está se deslocando, e nossa atitude está mudando com ela. Estamos constatando, e isto é uma grande surpresa, que a Lua, e creio que também Marte e partes de Mercúrio, bem como, e muito especialmente, o próprio espaço sideral por si só, são meios ambientes benignos — não necessariamente à vida orgânica, mas à nossa tecnologia. Claro que são benignos, se comparados com a Antártida ou os abismos oceânicos, onde já estivemos. Esta é uma ideia de que o público ainda não se apercebeu, mas é um fato.
É bem possível que a fronteira biológica passe por Marte e siga até Júpiter, onde imagino que haja muita coisa a nossa espera. E não apenas eu — o próprio Carl Sagan já levantou a hipótese de que Júpiter pode apresentar um meio ambiente mais favorável à vida de que qualquer outro planeta, inclusive a própria Terra. Seria sensacional se se viesse a comprovar a veracidade desta ideia.
Para concluir, uma predição: mesmo que agora não haja vida em Marte, haverá ao terminar este século.
… Para Onde Vamos? Isaac Asimov - Introdução
Antologia organizada por Issac Asimov
Introdução
De há muito considero a ficção científica como um instrumento em potencial, inspirador e útil, para o ensino. Para esta antologia, portanto, selecionei dezessete histórias que, penso eu, podem inspirar curiosidade e podem conduzir o estudante dentro dos esquemas de indagação de seu interesse particular, que mais o entusiasmem, que podem até mesmo determinar a futura diretriz da sua carreira.Isto não quer dizer, entretanto, que todas as histórias são cientificamente corretas, embora, naturalmente, algumas sejam realmente acuradas pelos padrões do nosso tempo. Afinal de contas a história de ficção científica não pode ser (exceto por inspiradora conjectura) mais acurada do que torna possível o conhecimento científico dos nossos tempos. Uma história escrita em 1925 somente por acidente pode ser acurada, em parte, com referência a Plutão, o nono planeta; a situação é similar quanto a histórias, sobre a bomba atômica, escritas em 1935; sobre satélites artificiais, escritas em 1945; sobre quasars, escritas em 1955 e assim por diante.
Em muitas histórias de ficção científica um princípio cientifico é deliberadamente destorcido, com a finalidade de tornar possível um determinado enredo.É uma realização que pode ser conseguida com perícia por um autor versado em ciência ou de modo canhestro por um outro menos versado na matéria. Em ambos os casos mesmo no último, a história pode ser útil. Uma lei da natureza que é ignorada ou destorcida, pode suscitar mais interesse, algumas vezes, do que uma lei da natureza que é explicada. São possíveis os eventos apresentados na história? Se não o são, por que não? E ao tentar responder a tal pergunta o estudante pode algumas vezes aprender mais a respeito da ciência, do que com uma série de demonstrações corretas feitas em salas de estudo.
Esta antologia foi preparada, portanto, obedecendo a diferentes níveis.
Em primeiro lugar, as dezessete histórias aqui reunidas são todas de boa qualidade, engenhosas e excitantes, cada uma à sua maneira. Todos os que assim desejarem podem lê-las pelo prazer que por si mesmas oferecem, sem fazer nenhum esforço consciente para com elas aprender algo, podendo mesmo ignorar totalmente os comentários particulares que faço depois de cada uma delas.
Para os desejosos de uma investigação mais profunda, escrevi depois de cada história umas poucas centenas de palavras de comentário, abordando os pontos científicos apresentados em cada uma delas, apontando a sua validade ou, algumas vezes, explicando os erros cometidos.
Finalmente, depois de cada comentário, adicionei uma série de sugestões e perguntas destinada a conduzir a curiosidade do leitor em direções possivelmente proveitosas. Tais sugestões e perguntas não são simples nem têm a intenção de sê-lo. Na realidade, algumas vezes, formulo perguntas para as quais as respostas não são conhecidas. A despeito disto não faço sugestões e não existem respostas no final do livro. Apresento, entretanto, no final, um apêndice de dois itens para cada história que pode interessar aos que se sentirem fascinados pelos pontos científicos abordados. A Leitura Adicional pode não fornecer as respostas às perguntas por mim apresentadas, mas responderá a outras questões que não cheguei a formular, mas que secretamente podem ter ocorrido ao leitor.
E até mesmo tal apêndice, embora tosco e não-específico, apresento com relutância – porque desejo que o leitor sinta-se inteiramente à vontade e chegue às suas próprias conclusões. Não desejo apresentar respostas, mas sim estimular o pensamento. Não desejo oferecer soluções, mas dar causa àquela espécie de curiosidade que pode ser o início de uma diretriz própria.
Afinal de contas não existe nenhuma exigência para que os leitores acompanhem todas as linhas – ou uma única que seja – da investigação que sugiro, mas alguns deles podem fazê-lo, movidos pelo desejo que as histórias contidas nesta antologia venham a inspirá-los, ainda que tal desejo tenha sido nutrido por uma única dessas histórias.
Se tal acontecer, sentir-me-ei imensamente mais recompensado por cada leitor que venha a achar excitante ainda que apenas uma das tramas sugeridas e venha a lançar-se na busca de maior conhecimento, do que poderia sentir-me por apenas ter organizado uma interessante antologia
E os leitores que se sentirem assim envolvidos, serão também imensamente mais recompensados.
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*** Literatura e Ciência***
1. UMA ODISSÉIA MARCIANA – Stanley G. Weinbaum
Existe Vida em Outros Planetas? – Poul Anderson (Croweli-Collier, 1963)
Não Estamos Sozinhos – Walter Sullivan (M 1964)
2. NOITE – Don A. Stuart
Limites da Astronomia – Fred Hoyle (Harper, 1955)
Grandes Idéias e Teorias da Cosmologia Moderna – Jagjit Singh (Dover, 1961)
3. E O DIA SE FEZ – Lester del Rey
A Humanidade em Formação – William Howelis (Doub 1959)
O Homem, o Tempo e os Fósseis – Ruth Moore (2 ed., Knopf, 1961)
4. O PLANETA PESADO – Milton A. Rothman
O Tempo nos Planetas – George Obring (Doubieday, 1966)
A Terra, a Lua e os Planetas – Fred L. Wbipple (3 ed., Harvard University Press, 1968)
5. A CASA QUADRIMENSIONAL – Robert A. Heinlein
Uma Revisão na Geometria – Irving Adiei (John Day, 1966)
Introdução à Geometria – H. S. Coxetcr (2 cd., Wiley, 1969)
6. PROVA– Hal Clement
O Sol – Giorgio Abetti (MacMlllan, 1957)
As Estrelas - W. ICruse e W. Dieckvoss (University of Michigan Press, 1957)
7. UM METRÔ CHAMADO MÕBIUS - A. J. Deutsch
Conceitos Intuitivos em Topologia Elementar – B. H. Amold (Prentice-Hall, 1962)
Experiências em Topologia – Stephen Barr (‘rhomas Y. Croweli, 1964)
8. TENSÃO DE SUPERFÍCIE – James Blish
Células: Sua Estrutura e Função – E. I Mercar (Doubieday, 1962)
O Cortejo da Vida – Alfxed S. Romer (World, 1968)
9. MÉDICO DO INTERIOR - William Morrison
Vida nos Planetas – Robert Tocquet (Grove, 1962)
Vida no Universo – Michacl W. Ovenden (Doubieday, 1962)
10. OS BURACOS AO REDOR DE MARTE - Jerome Bix
Um Estudo Elementar da Mecânica Celestial – Ryabov (Dover, 1961)
A Astronáutica Para Professores de Ciências - John G. Meitner (Wfflcy, 1965)
11. OS PASTOS SUBMERSOS – Axthur C. Clarke
O Mar – Lconard Engel
As Baleias – E. 1. SIijpcr (Basic Books, 1962)
12. A CAVERNA DA NOITE - .James E. Gunn
Encontro Marcado na Lua - RiCharci S. Lewis (Vildng, 1968)
Até a Lua - John NoMe Wilford (Bantapi, 1969)
13. PANO DE PÓ – HalClement
Guia Pictórico da Lua – Dinsmorc Alter (nomas Y. CroweU, 1967)
Bagagem Para Levar à Lua – NeiI P. Ruzic (Putnasn, 1965)
14. PATÉ DE FOIE GRAS – lsaac Asimov
Traços Isotópicos na biologia - Martin 1’. Kamen (3 cd., Acadenile Press, 1957)
Isótopos – 1. L. Putnain (Peican, 1960)
15. OMNILINGUA – H. Beam Piper
O Livro do Horizonte dos Mundos Perdidos – Leonaxd Cottxeli (American Heritage, 1962)
A Rocha de Dano: A Estória de Henry Rawlinsbn – Robert Silverberg (Helt,
Rinehart e Winston, 1966)
16. O GRANDE SALTO – Walter S. Tevis
As Leis da Física – Milton A. Rothman (Basie Books, 1003)
Compreensão da Física – Isaac Asimov (Volume 1, Walker, 1966)
17. ESTRELA–NÊUTRON – Lany Niven
As Marés – Edward P. Clancy (Doubieday, 1968)
Os Espantosos Pulsars – Science Year, 1969, p 37 (Fie Enterprises, 1969)
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