A personalidade não depende dos átomos

A personalidade não depende dos átomos

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Talvez por isso, embora possa parecer estranho, o fato de a personalidade ter sido preservada na transição de buscador para Gerio não me preocupou muito. A mesma coisa acontece com todos nós. Sem nos darmos conta, aos quarenta anos somos, do ponto de vista atômico, diferentes do que éramos aos vinte, apesar de conservarmos nossa identidade pessoal. Fisicamente, no nível atômico, não poderíamos ser mais diferentes, não podemos mudar mais, mas ainda há continuidade. A personalidade é algo que deve depender da estrutura e não dos átomos materiais em particular. Ocorre. Com certeza acontece. Já aconteceu com todos nós.

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El otoño de las estrellas
Miquel Barceló & Pedro Jorge Romero
2001

Inteligência desencarnada e criadora — em Robert J. Sawyer

Um cientista criou nosso universo

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”Temos máquinas autoconscientes. Minha espaçonave, a Merelcas, é uma delas. E o que descobrimos é o seguinte: a inteligência é uma propriedade emergente... aparece espontaneamente em sistemas com ordem e complexidade suficientes. Suspeito que o ser que agora é o Deus deste universo era uma inteligência desencarnada que surgiu através de flutuações aleatórias em um universo anterior desprovido de biologia. Acredito que esse ser, existindo na solidão, buscou uma forma de garantir que o próximo universo fosse repleto de vida independente capaz de se reproduzir. Parece improvável que a biologia pudesse ter surgido por conta própria em qualquer universo de forma aleatória, mas seria de esperar o aparecimento de uma matriz espaço-tempo localizada de complexidade suficiente para evoluir a consciência por puro acaso após apenas alguns bilhões de anos. Flutuações, especialmente em universos diferentes deste em que as cinco forças fundamentais tinham poderes relativos não tão divergentes.” Ele fez uma pausa. A sugestão de que basicamente um cientista criou nosso universo atual explicaria o antigo problema filosófico de por que esse universo é compreensível para a mente científica; por que abstrações humanas e de Forhilnor, como matemática, indução e estética, podem ser aplicadas à natureza da realidade. Nosso universo é cientificamente compreensível porque foi criado por uma inteligência altamente avançada usando as ferramentas da ciência.

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Calculating God
Robert J. Sawyer
2002


O tempo entre os cientistas — Richard Matheson

O tempo entre os cientistas

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"O tempo não tem existência própria fora da ordem dos eventos pela qual o medimos." Einstein disse isso.

Neste 'reino misterioso', de acordo com Priestley, não há lugar para descobrir o significado último do tempo e do espaço.

Gustav Stromberg afirma a existência de um universo de quinta dimensão que inclui o mundo físico de quatro dimensões do espaço-tempo. Ele o chama de 'domínio da eternidade'. Está além do tempo e do espaço em seu sentido físico. Em tal domínio, presente, passado e futuro não têm sentido.

Há apenas uma unidade de existência.

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Bid Time Return
Richard Matheson
1975

Penso, logo existo

 Criação

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Nada. Vazio. Sem luz, sem som, sem peso.

Nada. Nada para ver, ouvir ou sentir. Sem forma, irreal... Nada.

O Universo era negro, morto, desaparecido. O mundo havia acabado.

Sem estrelas, sem cor, sem vida. A noite havia vencido e a luz desapareceu para sempre. A morte a havia conquistado. O grande relógio da criação parou. O grande gradiente de energia se achatou até se fundir com a linha zero. Frio e quente... não há mais palavras para isso. Não há movimento. Algum.

O infinito é uma igualdade obscura. Aqui e ali... os termos não fazem sentido. O vazio preenche tudo; tudo não era nada.

Uma consciência solitária na noite eterna, confusa, cambaleante, cheia de terror. Um ser vivo em morte infinita. Uma coisa consciente onde a consciência era inútil. Uma mente pensante, quando a hora de pensar passou.

Horn gritou. Silenciosamente. Imóvel. Era uma coisa mental aterrorizante sem extensão física, aprisionada dentro da barreira estreita ou intransponível da mente. Era um relâmpago capturado dentro de uma esfera vazia.

A respiração não dilatava seus pulmões nem agitava sua garganta. O coração já não batia com ritmo vital dentro do peito. Seus músculos não conseguiam se contrair ou relaxar. Era apenas uma consciência, solitária e desesperada. Uma mente solitária, girando no infinito.

Penso! Penso!

O infinito é dividido. Criação!

A consciência da matriz, sem peso, caindo eternamente em um precipício que se estendia para cima e para baixo, e ao redor dele.

Isso é impossível. Penso!

Não há acima, não há abaixo. Todas as direções levam para fora. Conhecimento. Uma mente que pensa. Existência. Penso logo existo. Teste do círculo. Fora isso, nada.

Nascimento!

Em um único fato, um homem pode construir um Universo. Sempre um fato, o mesmo. Penso logo existo. A realidade começa comigo. Eu sou o Universo! Eu sou o Criador!

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Star Bridge
James E. Gunn & Jack Williamson
1955


O universo parece um lugar hostil para sobreviver

O universo parece um lugar hostil

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"Talvez um pouco," ele admitiu. O problema é que quando você está tentando sobreviver, o universo parece um lugar hostil. Precisamos de um alvo. Para nos distrair da consciência de ser uma única centelha de vida humana em uma extensão infinita de silêncio. Uma pequena vela na noite infinita do ser.

"Você acha que a ciência é um objetivo suficiente?"

— Acho que sim. Eu sempre acreditei. Talvez seja porque eu era uma criança solitária e aprender coisas era a única coisa que me mantinha vivo. A busca pela verdade não é uma má razão para continuar.

“Você faz parecer tão arbitrário.

"Talvez seja." Mas persisto em acreditar que o conhecimento é melhor do que a ignorância.

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Bones of the Earth
Michael Swanwick
2003

A função da vida no universo — "Os Invasores de corpos" de Jack Finney

A função da vida
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Budlong deu de ombros.

— A função de toda a vida, em qualquer lugar: sobreviver.

— Por um momento, olhou-me em silêncio, antes de acrescentar:

— A vida existe por todo o universo, Dr. Bennell. A maioria dos cientistas sabe disso e não hesita em reconhecer. Não pode deixar de ser verdade, embora jamais a tenhamos encontrado antes. Mas a vida existe pelo universo, a distâncias infinitas, em todas as formas concebíveis. Pense só, Doutor, que existem planetas e vida incalculavelmente mais antigos do que nós temos aqui. O que acontece quando um planeta antigo finalmente morre? A forma de vida que o habita deve prever que isso vai acontecer e preparar-se para sobreviver. — Budlong inclinou-se para frente, os olhos fixados em mim, fascinado por suas próprias palavras. — Um planeta morre, lentamente, ao longo de tempos incomensuráveis. A forma de vida que o habita, ao longo de tempos incomensuráveis, deve preparar-se. Preparar-se para o quê? Para deixar o planeta. Para chegar aonde? E quando? Não há resposta, a não ser uma, a que eles alcançaram. É a capacidade de adaptação universal a toda e qualquer outra forma de vida, sob toda e quaisquer outras condições que possam encontrar.

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Os Invasores de corpos
Jack Finney
1954

O objetivo do homem na Terra — Ursula K. Le Guin

As coisas não têm objetivos

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— Você fala como se isso fosse algum tipo de imperativo moral geral. – Ele olhou para Orr com seu sorriso amável e pensativo, acariciando sua barba –. Mas realmente, não é esse o verdadeiro objetivo do homem na Terra, fazer coisas, mudar coisas, administrar coisas, fazer um mundo melhor?

— Não!

— Qual é o objetivo, então?

— Não sei. As coisas não têm objetivos, como se o Universo fosse uma máquina, na qual cada parte cumpre uma função útil. Qual é a função de uma galáxia? Não sei se nossa vida tem um propósito e não vejo que isso importe. O que importa é que fazemos parte. Como um fio em um pano ou uma folha de grama no campo. É, e nós somos. O que fazemos é como um vento soprando contra a grama.

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The Lathe of Heaven 
Ursula K. Le Guin
1975

Democracia Plena em 'A Saga do Grande Computador' de Olof Johannesson

Na Democracia plena, cada cidadão era um parlamentar

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Em cada eleição parlamentar concorriam muitos candidatos.

Era muitas vezes uma grande tragédia que nem todos pudessem ser escolhidos, e assim por à disposição do governo suas competências. Após a introdução do teletotal e a racionalização do trabalho do parlamento, não mais existiam razões para se manter um pequeno número de parlamentares e com isso fechar as portas a muitos inteligentes e conceituados homens e mulheres. Por isso o número de parlamentares aumentou gradativamente. Mas aos poucos entendeu-se que a escolha de parlamentares era fundamentalmente antidemocrática. Com isso dava-se a um grupo de homens mais poder que a outros, transgredindo assim o princípio fundamental de que todos os homens devem ter iguais direitos. Tão logo isto foi universalmente descoberto, selou-se o destino da pseudodemocracia. Introduziu-se a Democracia Plena, onde cada cidadão era um parlamentar.

Quando o parlamento se reunia, todos os habitantes do país participavam através do teletotal. As propostas apresentadas eram preparadas em detalhes por computadores, mas cada cidadão tinha o direito de expressar-se. Todos os discursos eram transmitidos via teletotal. Para que as deliberações não tomassem longo tempo, eram transmitidas simultaneamente por vários canais paralelos. Com isto naturalmente nem todos os habitantes podiam ouvir alguns discursos, mas isto tampouco ocorria no parlamento da pseudodemocracia. A maioria dos parlamentares costumava ficar ausente dos debates e entrar apenas quando uma campainha os chamava para a votação. O mesmo princípio era aplicado agora. Quando findavam os discursos, todos os habitantes do país eram despertados por um chamado do teletotal. A votação podia começar.

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A Saga do Grande Computador
Olof Johannesson
1956



Partidos políticos em Robert A. Heinlein

Não sabia que os partidos políticos crescem e mudam como as pessoas

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Mas o grande esforço durante a viagem foi embeber-me do que Bonforte pensava e daquilo em que acreditava, em suma, da política do Partido Expansionista. De certa maneira, ele era o Partido, não só seu líder mais expressivo, mas também seu filósofo político e seu maior estadista. O expansionismo fora pouco mais do que um movimento do tipo "Destino Manifesto" ao ser fundado, uma coalizão popular de grupos que tinham uma única coisa em comum: a crença em que as fronteiras dos céus constituíam a questão mais importante no futuro imediato da raça humana. Bonforte dera ao partido fundamentos lógicos e uma ética, o tema de que a liberdade e os direitos iguais deveriam acompanhar a bandeira imperial. Continuava a bater na tecla de que a raça humana jamais deveria cometer os erros que a sub-raça branca perpetrara na África e na Ásia.

Mas confundiu-me o fato — e eu não tinha preparo algum nesses assuntos — de que a história antiga do Partido Expansionista se parecesse tanto com a atual do Partido da Humanidade. Não sabia que os partidos políticos amiúde mudam tanto, enquanto crescem, como as pessoas. Soubera vagamente que o Partido da Humanidade começara como uma ala do Movimento Expansionista, mas jamais dedicara a isso um segundo pensamento. Na verdade, a cisão fora inevitável. Uma vez que os políticos que não tinham os olhos nos céus murcharam por força dos imperativos da História e deixaram de eleger candidatos, o único partido que estivera no caminho certo obrigatoriamente teria que dividir-se em duas facções.

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Estrela Oculta
Robert A. Heinlein
1956



Modelo de corpo pós-humano na Ficção científica

Um corpo realmente otimizado

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Você já deve ter recebido o novo corpo das Forças Coloniais de Defesa. Parabéns! Seu novo corpo é resultado de décadas de refinamento tecnológico por cientistas e engenheiros da Colonial Genetics e foi otimizado para as exigências rigorosas do serviço das FCD. Este documento servirá como uma breve introdução às características e funções importantes de seu novo corpo e trará respostas a algumas das questões mais comuns que recrutas têm sobre o novo corpo.

NÃO É APENAS UM NOVO CORPO – É UM CORPO MELHOR

Certamente você já notou o tom verde da pele de seu novo corpo. Não é apenas um fator cosmético. Sua nova pele (KloraDerm™) contém clorofila para fornecer ao novo corpo uma fonte extra de energia e otimizar o uso tanto de oxigênio como de dióxido de carbono pelo corpo. Resultado: você se sentirá mais saudável por mais tempo e mais apto a cumprir suas funções como recruta a serviço das FCD! Esse é apenas o início das melhorias que encontrará em seu corpo. Aqui vão mais algumas:

• Seu tecido sanguíneo foi substituído pelo SmartBlood™ – um sistema revolucionário que aumenta a capacidade de transporte de oxigênio em quatro vezes, enquanto protege seu corpo contra doenças, toxinas e morte por perda de tecido sanguíneo!

• Nossa tecnologia patenteada CatsEye™ dará a você uma visão que você precisa ver para crer! Contagens maiores de cones e bastonetes trazem uma melhor resolução de imagem que pode ser alcançada nos sistemas evoluídos da maneira mais natural, e amplificadores de luz especialmente projetados permitem que você veja claramente em situações extremas de baixa luminosidade.

• Nosso pacote UncommonSense™ de aperfeiçoamento de sentidos permite que você toque, cheire, ouça e deguste como nunca antes, pois nossa colocação expandida de nervos e conexões otimizadas aumenta seu alcance perceptivo em todas as categorias sensoriais. Você sentirá a diferença desde o primeiro dia!

• O quanto você deseja ser forte? Com a tecnologia HardArm™, que aumenta naturalmente a força muscular e diminui o tempo de reação, você ficará mais forte e mais rápido do que jamais sonhou ser possível – tão forte e rápido, na verdade, que, por lei, a Colonial Genetics não tem permissão para comercializar esta tecnologia para o mercado consumidor. Esta é uma “mãozinha” de verdade para vocês, recrutas!

• Nunca mais fique desconectado! Você nunca perderá seu computador BrainPal™ porque ele está abrigado em seu cérebro. Nossa Interface Adaptável Auxiliar funciona com você para possibilitar o acesso ao BrainPal™ da maneira que quiser. Seu BrainPal™ também serve para coordenar tecnologias não orgânicas em seu novo corpo, como o SmartBlood™. Os recrutas das FDC confiam nessa tecnologia incrível – e você também confiará.

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Guerra do Velho
John Scalzi
2005



Aliens em textos — os Hiss

Certeza de que não eram humanos

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A primeira coisa de que tive a certeza foi de que não eram homens. A forma geral era análoga a da nossa espécie: corpo esbelto, com duas pernas e dois braços, e cabeça arredondada, assente num pescoço. Mas que grande diferença de pormenores! A estatura era mais graciosa do que a nossa, ainda que de maior talhe; as pernas muito longas e finas, bem como os braços; as mãos, grandes, possuíam sete dedos idênticos, dois dos quais, segundo mais tarde soube, são oponíveis. A fronte estreita e alta, os olhos enormes, o nariz curto, as orelhas minúsculas, a boca de finos lábios, o cabelo de um branco-platinado, davam á fisionomia um aspecto estranho. Mas o mais esquisito era a cor da pele, de um delicado verde-amêndoa, com reflexos sedosos. Como única vestimenta envergavam também uma cota de tecido verde, sob a qual se desenhava uma musculatura harmoniosa. Um dos três seres prostrados tinha uma mão ferida, donde corria um sangue verde que formava uma poça no chão.

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Guerra de Estrelas
Francis Carsac
1961

Aliens viciantes

Viciados em Skoag 

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Lembro-me do dia em que minha vida mudou. Eu estava a três quarteirões de casa, em pleno bairro Skoag, ouvindo alguns Skoags que tocavam numa esquina próxima. Não propriamente ouvindo, na verdade: eu ficava observando o modo como os Skoags estofavam suas peles gordurosas, até que ficavam parecendo aqueles estúpidos balões de borracha em forma de animais que o palhaço Roxie fazia para nós na escola. Então, quando eles estavam completamente estofados — as membranas infladas com balões, por sobre um esqueleto de ossos delicados como coral — começavam a produzir sons musicais, suas peles inflando e murchando ao ritmo do som, como as películas dos alto-falantes da velha vitrola de mamãe. Eles me lembravam rãs, pelo modo como a membrana de suas gargantas inchava na hora de produzir sons, e também pela cor verde-amarelada de sua pele luzidia.

Eu me mantinha a uma distância segura. Todo mundo fazia o mesmo.

Nas aulas de Drogas Não! Na escola eu tinha aprendido o quanto aquela baba úmida na pele deles podia me fazer mal. Eu já tinha visto montes de viciados em Skoag, os olhos chapados, estendendo as mãos para tocar qualquer Skoag que passasse por perto, para obter mais uma “dose”, mesmo que isso os deixasse surdos para sempre. Viciados em Skoag morriam o tempo todo, esmagados por carros ou caminhões cujas buzinas eram incapazes de ouvir, ou mergulhados em sonhos sem retorno durante os quais se esqueciam de comer ou beber, esquecendo de tudo e capazes apenas de um único gesto, o de estender o braço e recolher um pouco mais de muco Skoag com a ponta de dedo. Só que naquele dia não havia nenhum viciado por perto daqueles Skoags, e eles todos ainda tinham cristas, o que mostrava que estavam na Terra há pouco tempo. Em geral os Skoags perdem suas cristas bem rápido, devido à gravidade terrestre. Um daqueles Skoags tinha a crista mais alta que eu já vira, parecia a coroa de um rei, e era arroxeada, como um velho hematoma.

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UM TOQUE DE LAVANDA
Megan Lindholm
1992

Tradução de Braulio Tavares para a Isaac Asimov Magazine (Brasil) nº18


Aliens em textos — Croan’dhique

Em vez disso, encontrei mais estranhos.

O primeiro foi o próprio mestre da dor; senhor da mente, senhor da vida, senhor da vida e da morte. Antes de minha chegada, ele havia governado aqui por quarenta e tantos anos padrão. Era croan’dhique, um nativo, uma grande coisa bulbosa com olhos estofados e pele verde-azulada pintalgada, paródia grotesca de um saco com braços finos e de articulação dupla e três longos estômagos verticais que apareciam na pele odorosa como feridas pretas molhadas. Quando olhei para isso, pude sentir sua fraqueza; era enormemente gordo, um mar de gordura espalhada com cheiro de ovos podres, enquanto os guardas e servos croan’dhiques são rígidos e musculosos. Mas para vencer o senhor da mente, você deve se tornar o senhor da mente.

Quando jogamos o jogo da mente, eu tomei a sua vida, e acordei naquele corpo vil.

Não é coisa fácil para uma mente humana vestir uma pele alienígena; por um dia e uma noite eu me perdi dentro daquela odiosa carne, passando através de visões e cheiros e sons que não faziam mais sentido do que as imagens num pesadelo, gritando, lutando pelo controle e pela sanidade. Sobrevivi. Um triunfo do espírito sobre a carne. Quando fiquei pronta, foi convocado outro jogo da mente, e desta vez emergi com o corpo de minha escolha.

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A FLOR DE VIDRO
George R.R. Martin

1986




Aliens em textos — Andromedae & Plethorean

Uyara tocou na porta e a mesma começou a se abrir. Entraram em uma área similar a um tribunal, com arquibancadas centrais onde sentavam cinco seres em ordem. Entraram e se surpreenderam de imediato com o telhado, que não existia. Onde deveria estar a tarde de Gliese 581g brilhava um enorme céu noturno, tão real que parecia que as portas foram fechadas. Havia assentos de porcelana virados para as arquibancadas em cada lado, e a luz da sala vinha toda e exclusivamente das estrelas brilhantes acima deles.

– Nossas mais sinceras boas-vindas – saudou uma figura careca sentando no centro da arquibancada. Sua pele era uma mistura de verde e cinza e seu rosto tinha feições humanas, porém com uma testa gigantesca. Seus olhos eram grandes e volumosos, similares aos de um Andromedae, e ele só usava uma espécie de vestido longo vermelho. – Vocês estão seguros e fora de qualquer perigo; esperamos por este dia por um bom tempo. Sou o Presidente Bartheus do Gabinete Galáctico.

– Temos a maior das expectativas para a Terra – disse uma voz rouca do homem sentado ao seu lado. Ele usava o mesmo vestido, porém prateado, e sua pele era branca e pálida, como um Plethorean. – O primeiro contato sempre foi planejado para ocorrer entre nossos planetas, porém não tão rápido.

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Intergaláctica: Onde estaria a segunda terra

F. P. Trotta
2015



Aliens em textos — Merseiano

O merseiano

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Ela o examinou. O merseiano era um mamífero verdadeiro, porém exibia mais sinais de ancestralidade réptil do que da raça humana: pele verde-claro, sem pelos e com escamas finas; uma baixa elevação espinhosa na cabeça, passando pela coluna vertebral até a extremidade da cauda comprida e grossa. Tinha o corpo mais largo do que o de um homem e sua estatura alcançaria com facilidade dois metros, se não caminhasse com inclinação do corpo à frente. A não ser pela calvície e falta de orelhas externas, o rosto era de todo humanóide, até mesmo de bom aspecto, a seu modo abrutalhado. Mas os olhos, por baixo das sobrancelhas altas, eram dois pequenos poços de negrume.

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Essas Estrelas São Nossas!
Poul Anderson
1972