O Dia em que a Terra Parou, dir. de Robert Wise, 1951. |
Contatos com Alienígenas
No presente estado de nosso conhecimento do cosmos, muito poucas pessoas duvidam da possibilidade de outros mundos habitados. Embora as sondas espaciais lançadas até hoje dentro do nosso sistema solar tenham matado os velhos sonhos utópicos de encontrar criaturas inteligentes em Marte e Vênus, nossos vizinhos mais próximos, o universo é imensurável.
Estima-se que na nossa galáxia existem centenas de bilhões de estrelas, e o número de outras galáxias é incontável, já que novas estão sendo constantemente descobertas, sem ainda ter atingido o fundo, a pele do nosso universo.
Tem sido demonstrado que muitas das estrelas em nossa galáxia têm planetas em órbita em torno delas. Sabendo que a vida se instala mesmo onde se tem a menor possibilidade de se desenvolver, e aplicando a lei das médias, é fácil deduzir que devem ser centenas, milhares, milhões talvez, de planetas com vida no universo, e vida talvez inteligente...
E você se pergunta: como é que se há tanta vida no cosmos, nós ainda não as descobrimos?
Naturalmente distâncias estelares são enormes, o tempo necessário para atravessar estes grandes abismos é incomensurável, principalmente porque não se sabe onde é que há mais possibilidades.
Como nos tempos antigos, os europeus não tinham conhecimento da existência de outro continente habitado chamado América, e de fato muitos homens viveram e morreram sem nunca saber que existia, além das montanhas de seu vale particular, outros seres experimentando os mesmos desejos que eles; igualmente o homem moderno olha para o céu e se pergunta: onde estarão nossos irmãos estrelares? Mas não obtém respostas.
Ainda.
Porque, assim como houve o tempo em que o homem tomou seu cavalo e cruzou as montanhas, e construiu barcos e navegou em direção a outras praias distantes, também haverá um dia em que, sem dúvida, o homem construirá outras naves para cruzar o espaço e chegar a outros sóis, e descobrir outras humanidades com que se relacionar.
Isto, obviamente, ainda pertence hoje ao reino da utopia. Mas o homem sempre gostou de sonhar, e sua imaginação não conhece limites. Embora nós ainda não saibamos onde nossos irmãos estelares estão, mas podemos imaginar...
Esta é, entre outras coisas, o que faz a ficção científica. Desde os autores antigos: Fontenelle, Voltaire, Cyrano, às últimas conquistas da "space opera", seres alienígenas ocuparam a imaginação de muitos escritores. Às vezes somos nós que chegamos aos seus reinos particulares, às vezes são eles que vêm ao nosso mundo para nos cumprimentar... Ou para invadir. Mas quase sempre, quando ocorre o primeiro contato, há conflito.
O conflito pode ser puramente biológico, ou de comunicação, ou política, e até mesmo violenta. Os alienígenas - palavra já adotada mundialmente como o contrário de indígenas - pode vir de forma pacífica e não ser compreendido pela humanidade, como no famoso filme "O Dia em que a Terra Parou", ou mais frequentemente, veem com ânsias de conquistar, como em "A Guerra dos mundos" de Wells.
De fato, durante os anos cinquenta, no momento do grande esplendor da ficção científica americana, proliferaram em grande abundância os contos, as histórias, os romances, com horríveis invasões alienígenas, sem dúvida, devido à proliferação da psicose da Guerra Fria e o temor de uma invasão comunista.
Posteriormente, o abrandamento das tensões fez com que os extraterrestres vindos ao nosso planeta, fossem mais amáveis, mais sociáveis, não vieram apenas invadir o nosso mundo, mas simplesmente para fazer contato, nos conhecer, e inclusive, de fazer comércio conosco. Os problemas dos contatos alienígenas passaram a ser, de militares a sociais.
Mas o homem também vai, na ficção científica, para outros planetas. Curiosamente, a maioria das histórias de contatos com alienígenas que são desenvolvidas nestes mundos são, com bastante precisão, os padrões que marcaram os espanhóis na sua conquista da América.
O desejo de dominação, assimilação, conquista, são claramente refletida em uma série de histórias que abordam a questão. O terrestre, em geral, é bastante superior aos extraterrestres, e quando vai ao seu planeta, vai como um mestre. Embora, por vezes, saia um pouco tosquiado.
A noção clássica de que se os estrangeiros fossem superiores a nós, já os teríamos aqui, (deixemos o assunto dos OVNIs discretamente à parte) parece nortear essas histórias. Nós vamos, nós vemos e nós vencemos (às vezes).
Os alienígenas são índios cósmicos para serem educados de acordo com os nossos costumes e crenças, em troca dos seus tesouros.
Claro, às vezes surgem surpresas...
Este é o elemento mais interessante em muitos contatos com os alienígenas. A mera aventura não é suficiente. Assim, muitas vezes há um fundo de origem social, político, militar, que é a causa do conflito. Muitas vezes, nas diferenças entre humanos e alienígenas, há uma clara alusão, uma crítica, ao nosso próprio egoísmo, ao nosso antropomorfismo. Nós não estamos sozinhos, não somos os primeiros, nós não somos os reis.
Por que, de todas as demais características, as histórias de encontros com alienígenas nos apresentam uma mensagem comum que o homem deverá necessariamente assimilar na sua carreira no espaço: cuidado, alertam-nos, nós não estamos sozinhos no universo, e é bem provável que não sejamos em absoluto os reis da criação, embora o tenhamos, de modo unilateral, como certo.
Vivemos no subúrbio de uma pequena galáxia perdida em um canto entre muitas outras galáxias. O que nos faz pensar que este é precisamente o centro do cosmos?
A ficção científica, nas suas inúmeras histórias de contatos com alienígenas, instala em nós uma ideia mais clara do nosso lugar autêntico.
Ela nos prepara para eventos futuros. Predispõe-nos a aceitar que podemos ser apenas mais uma das infinitas raças que povoam a criação, nem melhor nem pior do que as demais, talvez apenas diferente. E que, nestes nossos futuros contatos, nós nem sempre estaremos em vantagem. Embora, obviamente, isso é o que nós gostaríamos...
Domingo Santos, na introdução à antologia CONTACTOS CON ALIENÍGENAS, tradução de H. Schmitz, Ediciones Dronte, 1982.