As Três Leis da Integridade Criativa — Luiz Bras

As três leis

As três leis a seguir — Leis da Integridade Criativa — foram feitas por mim, para mim. São de uso pessoal. Mas não me espantarei se um grupo grande de escritores também decidir assumi-las para si.

1ª lei: Escrever apenas o que me dá prazer escrever.
2ª lei: Escrever textos com alta densidade poética, exceto quando isso contrariar a primeira lei.
3ª lei: Agradar o maior número possível de leitores, desde que tal desejo não entre em conflito com a primeira ou a segunda lei.

Um breve comentário sobre cada uma das leis precisa ser feito.

1ª lei: Escrever apenas o que me dá prazer escrever.
Muitas vezes um jornal, uma revista ou um editor que planeja publicar uma coletânea temática convidam o escritor para escrever um conto ou um poema. Mas, se o tema proposto não estiver sincronizado com a rotina criativa do escritor, ou se o prazo for pequeno, ou se o estilo já estiver pré-definido, a escritura pode ser muito penosa. Se você não estiver curtindo escrever, não continue. As chances de que o texto saia com problemas é grande. Então, diante da queixa do Leitor Qualquer Que Seja, você não poderá sequer responder que escreveu por puro prazer.

2ª lei: Escrever textos com alta densidade poética, exceto quando isso contrariar a primeira lei.
O objetivo maior da literatura não é apenas entreter e deleitar. É também, e principalmente, provocar e inquietar o leitor. Não existe boa literatura fácil de ler. As obras-primas, mesmo as do presente, sempre exigem um pouco de esforço. Isso não significa que quanto mais hermética e obscura melhor. No equilíbrio entre a forma e o conteúdo está todo o segredo de um bom texto literário. Mas toda essa discussão é inútil e idiota se, pra atender a uma demanda ou agradar alguém (os leitores, os intelectuais, a crítica), o escritor não estiver escrevendo o que verdadeiramente gosta de escrever: textos obscuros e cifrados, textos claros e luminosos, qualquer outra coisa entre um e outro, de acordo com sua inclinação.

3ª lei: Agradar o maior número possível de leitores, desde que tal desejo não entre em conflito com a primeira ou a segunda lei.
O escritor precisa de leitores. Isso é inegável. Ninguém escreve para si mesmo, ou para a gaveta. Tentar cativar o maior número possível de leitores é um propósito legítimo. Vender cem mil exemplares, um milhão, oh, que destino glorioso. Desde que esse não seja o primeiro objetivo do escritor. Na verdade esse tem que ser o último objetivo. No fim das contas, não existe escritor sem leitor. Vivemos numa época em que as mais diferentes tendências literárias convivem pacificamente. A obra tanto do Escritor Hermético quanto do Escritor Não-Hermético, e dos vários matizes que ligam um ao outro, sempre encontrará quem a aprecie.

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Fonte: BRAS, Luiz. Muitas Peles. São Paulo, Terracota, 2011. (Pág. 66-68)

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