SOBRE O TERMO FICÇÃO CIENTÍFICA
O início do século XIX foi marcado pela revolução tecnológica que gerou os meios massivos de comunicação, principalmente as formas impressas de uma arte popular que não se julgava por nenhuma academia, mas sim pelo puro gosto do público e dessa forma, as correntes literárias migraram para esse novo meio, a arte comercial, baseadas simplesmente no gosto do público consumidor.
O ponto principal dessa combinação entre arte e diversão surgiu nos Estados Unidos logo após a primeira guerra mundial, onde o poderio gráfico americano trouxe a luz uma infinidade de títulos e revistas especializadas em novelas e contos de temática específica, foi onde surgiram as história de cowboys, de selva, policiais, de mistério, de terror, de guerra, para adultos, para moças e tantas outras.
Dentre esses temas que caiam no gosto popular, ouve a iniciativa americana de imitar a novela científica europeia, que na época era chamada de histórias diferentes, feita por autores de sucesso como Julio Verne, H.G.Wells e Conan Doyle, e que foi efetivada comercialmente em 1926 com a revista Amazing Stories (Histórias surpreendentes) editada por Hugo Gernsback que batizou o novo gênero comercial-literário de "Scientifiction" e logo no segundo numero já se passou a utilizar a forma atual de "Science Fiction", de onde os primeiros tradutores brasileiros traduziram literalmente para FICÇÃO CIENTÍFICA.
Há que se aclarar um pouco essa definição. A palavra Ficção é utilizada nos países anglosaxões num contexto mais amplo e tem o sentido coloquial de diferenciar os livros de autoria (poesia, romançe, contos, etc) dos livros chamados "non fiction" que englobam além dos livros técnicos, todos os outros (livros escolares, livros de receitas, biografias, etc), definição que no Brasil tem uma forma popular de "livro sério" e não sério (novela, romance, contos, humor, diversão e outros).
Seguindo esse raciocínio, as histórias que se tinha em mente, eram coisas ligadas aos cientistas ou as invenções científicas e nesse cenário se propunham agradar a leitores que tivessem interesse nessas coisas, e isso levou naturalmente o mercado a optar por comprar somente histórias voltadas ao público juvenil ou universitário, gerando assim um foco maior nas histórias de espaço e de catástrofes, que sempre eram acompanhadas por capas chamativas, mostrando garotas e destemidos astronautas lutando contra monstros ou máquinas gigantescas. Essa insistência no roteiro fácil e centrado somente na aventura externa baixou em muito a qualidade literária dessas obras, de forma que até os anos cinquenta este formato de literatura, que hoje se chama pult fiction, era um fenômeno tipicamente americano e pouco traduzido.
Ao redor de 1950-55, uma ficção científica com um pouco mais de qualidade foi chegando à Europa, sendo assim necessária uma tradução deste termo fora do inglês.
A França foi favorecida pois a grafia é a mesma "Science-fiction", modelo que os países de língua espanhola adotaram mudando somente a grafia para "Ciencia Ficción", na Itália se adotou o termo "Fantascienza", e assim aumentou a confusão quanto ao sentido exato do termo, e que segundo alguns críticos, o formato brasileiro de "Ficção Científica" talvez seja o que melhor defina o gênero enquanto multiplicidade de estilos e tendências.
Hoje fica muito difícil tentar abranger com um só rótulo um gênero tão fecundo, mas de todas as formas, aparece de quando em quando uma nova tentativa de designar o gênero e isso parece ser uma maneira no sentido de contornar um certo preconceito que tem o gênero no mundo acadêmico e intelectual em geral.
Jacques Sternberg traduz esse preconceito com uma reclamação de que o francês culto sempre se desculpa dizendo que "a ficção científica é besteira, mas que Ray Bradbury é muito bom". Seja Bradbury ou outro, se refere a um único autor que a pessoa chegou a ler de fato. O que demonstra que há uma nuvem de desconfiança sobre o gênero.
Muitas pessoas identificam a Ficção Científica apenas como histórias envolvendo marcianos e viagens espaciais, isso é uma generalização, em parte provocada pela indústria cinematográfica, responsável pela divulgação dos filmes e do uso intenso em cartazes e vinhetas. Hoje a mídia adotou o termo Sci-fi para se referir ao gênero, mas ainda é pouco utilizado.
O velho termo "novela de antecipação" foi criado na época de Julio Verne e até hoje é utilizada por certos críticos europeus mas é insuficiente para descrever o gênero visto que o mesmo não se refere somente a imaginar como as coisas serão no futuro, por exemplo: uma história sobre alguém que vai parar na Galileia na época de Cristo será uma história de ficção científica e no passado.
Outros termos curiosos em busca de serem os eleitos são: ciência novelada, literatura conjectural, literatura diferente, ciência fantasia, fantasia especulativa entre outros.
Fontes:
CARDOSO, Ciro Flamarion, A Ficcao Científica, Imaginário do Século XX, Uma Introdução ao Gênero, 1998.
MONT’ALVÃO JÚNIOR, Arnaldo Pinheiro, As Definições De Ficção Científica Da Crítica Brasileira Contemporânea, ESTUDOS LINGUÍSTICOS, São Paulo, 38 (3): 381-393, set.-dez. 2009.
Herman Schmitz
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