O Fim dos Policiantes
O tempo é uma estrada desmaterializada. A terra está viva. Continentes de raças e razões redesenham continuamente o mapa do poder, onde a inconveniência de alguns é punida com a supremacia de outros. Sempre haverá um poder maior a sobrepujar outro e mesmo o poder mais poderoso terá o tempo como supremo inimigo. Esta não é bem uma história, é mais uma alegoria sobre o poder e suas consequências.
Esta é a cidade: Nova Istambul, Califórnia. São sete milhões e meio de pessoas e a sensação de não ser ninguém nessa multidão é enorme. Algumas dessas pessoas conseguem viver com o que a sorte lhes deu — a maioria não! Foi então que surge esse vírus, fazendo do seu portador um Super-Eu, de qualquer Zé Mané — Um Super-Zé-Mané, e assim se espalha rapidamente pela cidade, afinal, cedo ou tarde alguém se cansa de ser somente o que se é, e assim que enlouquece quer ser o maioral.
Quando isso acontece, eu tenho trabalho.
— Meu nome é Armed. Eu sou um Policiante.
No início era somente um aqui outro ali, e se achava que a moda não pegaria.
— Você é somente o que você é, — me assegurava o tenente do esquadrão e todos na corporação achavam isso. Mas apesar do que disse o tenente, o vírus ainda anda pelas ruas e agora em cada esquina tem um portador, dizendo na tua cara, que você pode ser mais do que o que você realmente é: Super-Mulher, Super-Puta, Super-Encanador, Super-Trouxa, Super-Larápio, Super-chofer de taxi, Super-Advogado, Super-Doutor, e mais Super-Daqui e Super-Dali.
— Não é motivo para se ficar louco? Mas eu ainda acabo com todos eles, pois eu sou um Policiante.
Naquele tempo, ainda era fácil controlar toda essa gente. Cada Policiante, no confronto com o Super-Elemento, ativava o bastão da banalidade e o trazia de volta, e este se rendia enfim à evidência de sua insignificância.
Mas esses malditos Supers, alteraram o próprio vírus, transformando-o em um Super-Vírus, e desde então o bastão da banalidade não surte mais efeito.
— Isso não é ciência, isso é Arte!
— Não é motivo para se ficar paranoico? Mas eu ainda acabo com todos eles, pois eu sou o último dos Policiantes.
Sim, agora não há mais ninguém normal, não há mais ninguém na corporação, somente cérebros carregados de endorfinas e acelerados por turbo cargas de adrenalina.
É uma epidemia sem precedentes de Super-Isso ou Super-Aquilo. Um bando de Super-Otários, Super-Idealistas e Super-Analistas.
— Não é motivo suficiente para acabar com todos eles?
Neste momento, um vulto extraordinário se arremessa dentro da história.
— Seu tempo acabou, Armed!
— Mas, quem é você?
— Eu sou o SUPER-POLICIANTE!
Moral: por mais que você seja, sempre haverá alguém SUPER-VOCÊ!!!
FIM
Herman Schmitz (C)2006
Link para a versão ao vivo no LONDRIX de 2009:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=vftrMx-Qh0s