Temas da Ficção Científica: VIAGENS ESPACIAIS EM NAVES INTERPLANETÁRIAS E INTERESTELARES O tema das viagens humanas pelo espaço é, de longe, a temática mais explorada na literatura de Ficção Científica, e de certa forma está presente como fundo em todas as histórias que acontecem no espaço. Muitas dessas naves estão baseadas em nossa tecnologia atual da exploração da lua ou de marte, outras possuem um ecossistema próprio onde a humanidade vive centenas e centenas de gerações em uma viagem contínua pelo espaço, outras andam mais rápidas que a velocidade da luz, outras viajam por túneis "buracos de minhoca", outras controlam o espaço-tempo, ou viajam pelo hiperespaço, ou usam combustível gravitacional, ou de táquions, mas todas elas foram escritas por autores que acreditam serem as viagens espaciais a premissa básica na estrada humana para o futuro. No início das histórias de ficção científica, as naves espaciais funcionavam mais como um recurso narrativo impulsionado apenas pela tinta dos escritores, do que como veículos de fato, pois ainda não havia a preocupação com os aspectos de engenharia ou de propulsão envolvidos na funcionalidade desses aparelhos, de modo que as naves espaciais viajavam somente com a credibilidade do leitor. Foi com a novela Rocket Ship Galileo (1947) de Robert Heinlein e também com Prelude to Space (1951) de Arthur C. Clarke que começou a se descrever as limitação do ser humano em relação à conquista do espaço. Essa situação veio a mudar na década de 1960, depois que o público acompanhou uma viagem verdadeira e um pouso real do homem na lua, passou a exigir também nas histórias maneiras mais verossímeis nas formas de se sustentar a vida no espaço, como a gravidade artificial e a reciclagem de oxigênio. Portanto as histórias necessitaram de um outro contexto e de uma exploração do espaço mais profundo, para continuarem a ser ficção científica. Outro importante fator nessa mudança de paradigma foi o sucesso estrondoso do filme de Stanley Kubrick, 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), que exemplificou de maneira perfeita o uso da tecnologia e da forma monótona como as coisas sucedem em uma viagem espacial verdadeira. Acontece que depois de alguns cálculos básicos de astronomia, se percebe que as viagens espaciais em naves baseadas na nossa tecnologia, seriam longas demais e tediosas demais para o público suportar. E para complicar ainda mais, houve uma popularização das implicações espaciais advindas da teoria geral de relatividade de Einstein, que limitavam claramente a velocidade máxima de uma nave à velocidade da luz, o que ainda é pouco nas distâncias cosmológicas, então haveria que se encontrar outras maneiras da humanidade viajar para as estrelas. Uma das formas para contornar o problema, foram as chamadas "naves gerações" (Generation Ships), que seriam naves imensas, ambientadas com a mesma biosfera da Terra, por onde viajariam famílias inteiras e uma tripulação, com tudo o necessário para viverem, gerarem sucessivas linhagens, até se estabelecer em algum planeta como uma colônia terrestre. Este conceito já existia na ficção científica anterior aos anos 70, onde foi tratado extensamente nas novelas: Orphans of the Sky de Robert Heinlein (1963) e Non-Stop do inglês Brian Aldiss (1958); (no formato de conto a primeira aparição deste conceito é em uma estória de 1940 "The Voyage That Lasted 600 Years" de Don Wilcox). Depois dos anos 70 a ideia disseminou entre o público, especialmente com a série de TV Starlost desenvolvida por Harlan Ellison (1973); o romance Encontro com Rama de Arthur C. Clarke (1973), onde Rama é uma espaçonave desse tipo vazia e envolta em mistério; Gene Wolfe tem uma tetralogia com várias gerações intitulada The Book of the Long Sun (1993); e no formato de quadrinho, é claro, a inesquecível Druuna, série criada por Paolo Eleuteri Serpieri e lançada originalmente em quadrinhos na revista Heavy Metal. Também foram sugeridas outras formas engenhosas de se atravessar o vazio. Em Tau Zero (1970), Poul Anderson descreve como uma nave espacial pode agarrar-se a um asteroide e usá-lo como propulsão em sua longa jornada. Mais recentemente, no entanto, os autores passaram e se basear na física quântica para encontrar a teoria necessária para movimentarem as suas naves pelo espaço, de uma maneira rápida, eficiente e sem esses cálculos complicados e os paradoxos que envolvem o uso de velocidades próximas à da luz. Um deles é o uso dos "buracos de minhoca" (wormhole) que são uma característica somente hipotética de que haveria certos túneis no universo, normalmente no chamado horizonte de evento de um buraco negro, por onde uma dessas naves quânticas poderia viajar distâncias incríveis em questões de segundos. Há muitas variantes dessa ideia, mas a principal é o hiperespaço, conceito muito difundido por Isaac Asimov principalmente em sua série Fundação; mas também se assemelham aos "portais" e às "dobras espaciais". Em muitos deles se pode também viajar no tempo como em uma estrada qualquer. Não são todos os autores que concordam em quebrar propositalmente as leis de Einstein relativas ao espaço, Alastair Reynolds, por exemplo, em seu Revelation Space (2000), afirma que as leis de Einstein não podem ser quebradas e que as viagens espaciais estarão sujeitas às regras da relatividade para todo o sempre. Seja qual for o caso, parece que durante o tempo em que existir a ficção científica, seus personagens estarão viajando pelo espaço, encontrando todo o tipo de fenômenos estranhos e bizarros e conhecerão diferentes variedades de formas de vida alienígenas. Por isso a ficção científica tem existido desde que a humanidade desejou ir para o espaço. Na ficção científica ela pode fazer essa viagem e este é um dos aspectos mais sedutores do gênero, pois ele prevê, de alguma forma, como seria a humanidade entre as estrelas. E sobre essas espaçonaves cada vez mais sofisticadas, rápidas e aconchegantes, parece cada vez mais possível que os cientistas acabem por começar a olhar para ficção científica como um provedor de noções e ideias que possam auxiliar no desenvolvimento futuro das nossas naves espaciais. Herman Schmitz Bibliografia básica: Cyrano de Bergerac - L'autre monde (1650) Edgar Allan Poe - The Unparalleled Adventure of One Hans Pfaall (1835) Jules Verne - De la terre à la lune (1865) H. G. Wells - The First Men in the Moon (1901) E. E. Smith - The Skylark of Space (1928) Lester del Rey - Habit (1939) Robert Heinlein - Space Cadet (1948) Robert Heinlein - The Man Who Sold The Moon (1950) Clifford Simak - Spacebred Generations (1953) L. Ron Hubbard - Return to Tomorrow (1954) Cordwainer Smith - The Game of Rat and Dragon (1955) Thomas N. Scortia - Sea Change (1956) Robert A. Heinlein Citizen of the Galaxy (1957) Walter M. Miller - The Lineman (1957) Edmund Cooper - Seed of Light (1959) Murray Leinster - The Corianis Disaster (1960) Anne McCaffrey - The Ship Who Sang (1961) Leigh Brackett - Alpha Centauri - or Die! (1963) Alexei Panshin - Rite of Passage (1963) John W. MacVey - Journey to Alpha Centauri (1965) James White - The Dream Millennium (1974) Harry Harrison - Skyfall (1976) Gordon R. Dickson - The Far Call (1978) J. G. Ballard - The Man Who Walked on the Moon (1985) Stephen Baxter - Voyage (1996) Jack Williamson - The Black Sun (1997) Ursula K. Le Guin - Paradises Lost (2002) REFERÊNCIAS MANN, George, ed. The Mammoth Encyclopedia of Science Fiction. Carroll & Graf Publishers, 2001. D'AMMASSA, Don, Encyclopedia of Science Fiction, Facts On File, Inc, 2005. STABLEFORD, Brian, Science Fact and Science Fiction an encyclopedia, Routledge, 2006. Wikipédia.org
Sir Arthur Charles Clarke, mais conhecido como Arthur C. Clarke (Minehead, 16 de dezembro de 1917 — Colombo, 19 de março de 2008) foi um escritor e inventor britânico, autor de obras de divulgação científica e de ficção científica como o conto The Sentinel, que deu origem ao filme 2001: Uma Odisseia no Espaço e o premiado Encontro com Rama. (Wikipedia)
Algis Budrys foi um escritor surgido na década de 1950. Autor prolífico, alterou dramaticamente o estilo da ficção científica produzida nos anos 40. Talvez por ser filho de um funcionário do governo lituano no exílio, sua obra foi muito direcionada para o tema da guerra fria e do holocausto nuclear. Publicou dezenas de contos em revistas da época e também foi crítico e jurado do prêmio "writers of the future".
Alfred Bester 18/12/1913 New York, New York 30/09/1987 Doylestown, Pennsylvania
Tras haber crecido en la isla de Manhattan, Alfred Bester concurrió a la Universidad de Pennsylvania, donde vendió varios cuentos a Thrilling Wonder Stories a comienzos de los '40. Luego se abocó a la carrera de guionista para cómics, radio, y (mas tarde) TV. Bester también fue libretista, trabajando diariamente para personajes clásicos como Batman, Nick Carter, Charlie Chan, Tom Corbett, The Shadow, y Superman. Bester escribió el papel original de Linterna Verde y creó sus villanos, Solomon Grundy y Vandal Savage. En los cincuenta regresó a la prosa, escribiendo dos brillantes novelas "El Hombre Demolido" y "Las Estrellas, Mi Destino". A fines de los '50, comenzó a escribir relatos de viajes para Holiday Magazine, llegando a convertirse en el editor literario de la revista, hasta su desaparición en 1970. En 1974, Bester continuó escribiendo ciencia ficción.
Premio Hugo por El Hombre Demolido (The Demolished Man [1953], Novela) Premio Gran Maestro SFWA (Science Fiction Writers of America ([1987] póstumo).
Vejo, com os olhos de Aldous Huxley, uma sociedade em que os valores morais e religiosos são bem diferentes dos nossos. Nesse mundo organizado em castas, o conceito de família não existe. Engravidar é algo obsceno e impensável. Ter uma crença religiosa é um ato de ignorância e desrespeito aos outros. Vejo cidadãos condicionados biológica e psicologicamente a viver em harmonia, respeitando todas as leis sociais. Vejo, com os olhos de George Orwell, uma sociedade em que o Estado é onipotente, onisciente e onipresente. Vejo uma força opressora capaz de alterar a História e o idioma, controlar a mente das pessoas e travar uma guerra sem fim, com o objetivo de manter sua estrutura inalterada. Vejo nas residências, nas repartições públicas e nos restaurantes uma tela através da qual o Estado vigia cada cidadão. Vejo, com os olhos de William Gibson, uma sociedade altamente tecnológica e multifacetada, em que o mundo real e o virtual se misturam. Vejo as grandes corporações dominando continentes inteiros e se devorando mutuamente. Vejo anti-heróis com próteses neurológicas, mergulhando, amando e morrendo no caos fosforescente do ciberespaço. Tudo é dinamismo e sinestesia, tudo é troca de informação e impulsos elétricos. Vejo, com os olhos de Orson Scott Card, uma sociedade em que as crianças intelectualmente mais bem dotadas são monitoradas dia e noite pelas autoridades. Vejo as melhores dentre elas vivendo anos longe de casa, numa estação orbital, sofrendo um brutal treinamento de combate. Sua inocência não existe mais. Melhor dizendo: quase não existe mais. Pois esses cadetes-mirins superdotados sempre encontram meios de protegê-la do darwinismo militar. Sentado no ombro desses gigantes, dá até para ver alguma coisa com meus próprios olhos. Agora eu vejo. Nem distopias nem utopias, apenas sociedades possíveis. Falíveis, espantosas, sublimes e injustas como todas as sociedades humanas. Você também vê? Veja com seus próprios olhos. Pense no futuro. Mas, se achar tudo isso muito perigoso, você pode fazer como o cientista mais pop da História, Einstein, que certa vez resmungou: "Nunca penso no futuro, ele chega rápido demais". LUIZ BRAS Final da crônica "Escolha um Futuro", do livro "Muitas Peles" 2011 - Terracota Editora, SP.
Em muitos programas e filmes de TV, até a ciência casual — as variantes descartáveis, que não são essenciais para uma trama já desprovida de ciência — é feita incompetentemente. Custa muito pouco contratar um estudante de pós-graduação para ler o roteiro e garantir a precisão científica. Mas, que eu saiba, isso jamais é feito. O resultado é que temos disparates como o parsec ser mencionado como uma unidade de velocidade, e não de distância, no filme Guerra nas Estrelas — sob muitos outros aspectos, exemplar. Se essas coisas fossem feitas com um pouco de cuidado, poderiam até melhorar a trama; sem dúvida, ajudariam a transmitir um pouco de ciência para o grande público.
Há muita pseudociência para os crédulos na TV, uma quantidade razoável de medicina e tecnologia, mas quase nada de ciência — especialmente nas grandes redes comerciais, cujos executivos tendem a pensar que a programação da ciência significa declínio de audiência e perda de lucros, e nada mais importa. Há funcionários das redes que se apresentam como "correspondentes de ciência", e todas mostram um ocasional programa de notícias que se diz dedicado à ciência. Mas quase nunca ouvimos nenhuma informação científica de sua parte, apenas medicina e tecnologia. Duvido que haja em qualquer das redes de TV um único funcionário cuja tarefa seja ler o número semanal de Nature ou Science para ver se alguma coisa digna de ser noticiada foi descoberta. Quando os vencedores do prêmio Nobel em ciência são anunciados a cada outono, há um excelente "gancho" para noticiar a ciência: uma chance de explicar o motivo dos prêmios. Mas, quase sempre, só o que escutamos é algo semelhante a …pode um dia levar à cura do câncer. Hoje em Belgrado…
Quantas informações científicas são transmitidas nos programas de entrevistas do rádio ou da televisão, ou naqueles monótonos programas matinais de domingo em que pessoas brancas de meia-idade se reúnem para concordar uns com os outros? Qual foi a última vez em que se ouviu um comentário inteligente sobre ciência de um presidente norte-americano? Por que em todos os Estados Unidos, não existe nenhuma série de TV que tenha por herói alguém interessado em descobrir como o Universo funciona? Quando se dá grande publicidade ao julgamento de um homicídio, fazendo com que todo mundo passe a mencionar casualmente os testes de DNA, onde estão os especiais no horário nobre para explicar os ácidos nucleicos e a hereditariedade? Nem me lembro de ver na televisão uma descrição precisa e compreensível de como a televisão funciona.
O meio mais eficaz de despertar o interesse pela ciência é de longe a televisão. Mas esse meio de comunicação extremamente poderoso não está fazendo quase nada para transmitir as alegrias e os métodos da ciência, enquanto a máquina do "cientista maluco" continua a soprar e bufar pela estrada.
Em pesquisas de opinião feitas nos Estados Unidos no início dos anos 90, dois terços de todos os adultos não tinham ideia do que fosse a"superinfovia"; 42% não sabiam onde se encontra o Japão; e 38% ignoravam o termo "holocausto". Mas a porcentagem subia a 90 e tantos para quem tinha ouvido falar dos casos criminais de Menendez, Bobbitt e O. J. Simpson; 99% sabiam que o cantor Michael Jackson teria molestado sexualmente um menino. Os Estados Unidos podem ser a nação com a melhor indústria de entretenimento na Terra, mas o preço pago é muito alto.
in SAGAN, C. O Mundo Assombrado pelos Demônios. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p.363.
Carl Sagan - Jornada nas Estrelas não Enfrenta os Fatos da Evolução.
Outras falhas são evidentes na programação de ficção científica na TV. Jornada nas Estrelas, por exemplo, apesar de seu charme e da forte perspectiva internacional e inter-espécies, ignora frequentemente os fatos científicos mais elementares. A ideia de que o sr. Spock seria o cruzamento de um ser humano e uma forma de vida que evoluiu independentemente no planeta Vulcano é muito menos provável em termos genéticos do que um cruzamento bem-sucedido entre um homem e uma alcachofra. Entretanto, a ideia abre um precedente na cultura popular para os híbridos extraterrestres/humanos que mais tarde se tornaram um elemento central nas histórias de sequestros por ETs. Deve haver dezenas de espécies alienígenas nos vários filmes e episódios da série de televisão Jornada nas Estrelas. Quase todos os que tomam algum tempo de nossa atenção são variantes secundárias de humanos. Isso é causado por uma necessidade econômica, pois o custo é apenas de um ator e uma máscara de látex, mas vai contra a natureza estocástica do processo evolutivo. Se houver alienígenas, acho que quase todos eles vão parecer muitíssimo menos humanos do que os Klingons e os Romulans (e estarão em níveis de tecnologia extremamente diferentes). Jornada nas Estrelas não enfrenta os fatos da evolução.
in SAGAN, C. O Mundo Assombrado pelos Demônios. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p.364.
Herman Schmitz apresenta uma história de Terrassol: O Pesadelo
Veremos a seguir uma das histórias do livro Terrassol do poeta e
escritor Herman Schmitz, natural de Curitiba, mas que reside em Londrina
há mais de 26 anos.
Herman lê ficção
científica desde os 10 anos de idade e já produziu por diversas vezes
obras neste gênero, como poemas, peças para teatro e contos; também
ministrou oficinas como “Outros Mundos” no Festival Literário de
Londrina — O LONDRIX de 2007 e hoje mantém o Blog Marcianos como no
cinema.blogspot pelo qual divulga autores nacionais e estrangeiros
relacionados com a ficção científica.
Sua mais recente produção
no gênero é o livro de contos ainda inédito, intitulado TERRASSOL, do
qual assistiremos um pequeno fragmento, e que começou a ser escrito em
2010 no formato de longos e médios poemas, explorando temas comuns na
ficção científica, como viagens no tempo, viagens a outras dimensões,
abduções alienígenas, super-heróis, clonagens, catástrofes planetárias e
outros assuntos característicos da ficção científica. No entanto, à
medida que os textos foram crescendo, houve a necessidade de
convertê-los para o formato de contos e outros meios multimídias como a
desta leitura de hoje.
Assim, o livro TERRASSOL é composto de
25 histórias que possuem como pano de fundo em comum, o planeta
Terrassol e as histórias da sua única espécie inteligente: os
terrassolenses, já há muito dizimados por ordem do Conselho Galático
Universal.
Portanto essas histórias de Terrassol não são mais
as narrativas originais dos terrassolenses, embora sejam baseados em
seus documentos, nelas já se mesclam invenções, alguns exageros e também
adaptações ao decorrer do tempo, à quais persiste um estranho senso de
humor alienígena.
Nesta noite, o próprio autor Herman Schmitz
apresenta uma leitura performática do seu conto O Pesadelo, no qual
narra as desventuras com a passagem do tempo, de um tripulante solitário
em uma estação espacial no sexto satélite do planeta Saturno. Lembremos
que Saturno na mitologia romana está associado à Cronos, Deus do tempo;
Deus impiedoso que diariamente devora aos seus próprios filhos...
Quero agradecer a todos os que me acompanham nesta viagem, especialmente a Christine Vianna pela oportunidade, ao Sergio Mello pelo apoio técnico e a todo o público participante que foi surpreendido e abduzido pela FICÇÃO CIENTÍFICA.
Melancólica crônica de um alienígena disfarçado em autor de ficção científica
Tememos assustá-los. Nas raras aparições, transformaram-nos em monstros ou alçaram-nos ao panteão dos deuses. Disfarcei-me
de humano, de autor de ficção-científica para, através dos textos,
familiarizá-los com a existência de outros seres, outras tecnologias,
outras perspectivas, vivendo em outros planetas, em outras realidades e,
até mesmo, em seu próprio planeta Terra, fosse em retiros isolados como
nas profundezas marinhas ou no cimo das mais elevadas e tempestuosas
cordilheiras. E, até mesmo, entre eles, lado a lado, em um clube de
ficção-científica ou na fila do supermercado, sem que dessem conta
disso. Outros como eu fizeram o mesmo, e tiveram mais êxito: criaram
roteiros para o cinema, deram palestras em universidades sobre
exobiologia, lecionaram astronomia, desenvolveram projetos de busca de
vida inteligente por meio de radiotelescópios ou enviando satélites para
a descoberta de planetas em outros sistemas solares. Até mostramos
nosso próprio planeta entre eles! Tudo para dizer que existimos, que acompanhamos a vida neste mundo bem antes que a vida, propriamente, existisse. Tudo para prepará-los para o derradeiro momento: a nossa revelação perante a humanidade. O grande contato imediato do terceiro grau. Evitar o maior dos choques culturais. Ao
menos no plano das idéias, suposições, fantasias e até piadas,
aceitaram-nos. Passaram a inventar suas próprias mitologias, histórias e
filmes. Os efeitos especiais que, a princípio espantavam, hoje não
causam surpresa. Jovens cientistas, impulsionados pelas idéias exibidas,
tornaram realidade algumas delas e inventaram outras que ninguém havia
cogitado. O mundo mudou e tem mudado aceleradamente. Até eu próprio, há tantos séculos aqui, sinto dificuldade em acompanhá-lo. Agora, sinto, o temor cedeu lugar a um certo receio: o receio de desapontar. Os artigos, livros, músicas, filmes, páginas na Internet, retratam extraterrestres de uma maneira que nunca fomos ou seremos. Não
somos grandiosos, não temos tamanhos de edifícios e nem somos capazes
de ressuscitar os mortos, embora tenhamos legado-lhes um paliativo: à
clonagem. Não expelimos raios pelos olhos e nem temos uma luz na ponta
do dedo. Somos criaturas, digamos, comuns; fomos criados pela mesma ação
da Natureza que tornou o céu azul, trouxe o nevoeiro nas manhãs de
inverno ou deu asas aos pássaros. Ah, sim, é um consolo para nós dizer
que também não somos nanicos de pele verde e antenas, ou calvos e
cabeçudos. Depois de tanta espera, tantas especulações e preparo, eu e
meus iguais sentimos relutância em mostrarmos como realmente somos e
de onde realmente viemos. Acreditariam em nós? Mandar-nos-iam para o hospício mais próximo? Agora, a humanidade está preparada. Fartamente preparada até, “ad nauseaum”. Preparados não estamos nós. Em nós, agora, não há o temor de atemorizá-los, mas o próprio temor que sentimos. Temor do desapontamento. Temos do descrédito. Temor de termos esperado tanto em vão. Temor de estarmos obsoletos por nossas próprias mãos. Seja como for – e como dizem – o “show” precisa continuar. Como uma cortina que se abre e nem um aplauso sequer é ouvido. Só o cricrilar de grilos... ... sem palmas para bater.
Edmund Cooper Nascido em 1926 e vivendo afastado da capital inglesa, Edmund Cooper estudou na Manchester Grammar School, tendo dedicado uma parte da sua vida à atividade de homem do mar na marinha mercante britânica, ao mesmo tempo em que desenvolvia a faceta de escritor freelance. A primeira história que publicou foi The Unicom, em 1951, e poucos anos depois, em 1958, surgiu a público o seu primeiro trabalho de fôlego, na Uncertain Midnight, que descreve o mundo após um holocausto, no qual os homens são gradualmente suplantados por andróides. As obras mais recentes de Edmund Cooper têm o denominador comum de nos oferecer uma perspectiva melhor para um mundo que se pretende mais sadio: Kronk (1970), The Overman Culture (1971), O Décimo Planeta (1973), The Slaves of Heaven (1974) e A Prisioneira do Fogo (1974). Sob o pseudônimo de Richard Avery publicou uma série de space operas com o título genérico de The Expendables. Colabora no prestigiado jornal Sunday Times como crítico de livros de ficção científica.
Edmund Cooper movimenta-se bem em áreas consideradas um pouco áridas, tais como antropologia, holocausto e sociologia.
Grahame e seus companheiros foram sequestrados, em pleno voo, na Terra, enquanto Absu e seus companheiros chegaram a Erewhon de uma caravana em movimento a caminho do Reino de Gren Li. Absurdamente confusos, esses seres vivos encontravam-se longe do mundo que conheciam, mas quanto tempo tinham levado para chegar a Erewhon? Alguns minutos ou alguns séculos? Além desses dois grupos tão diferentes e tão humanos, havia mais alguém? E seus sequestradores? Estavam cercados num estranho mundo e eram tratados como cobaias por seres de inteligência altamente desenvolvida, ou estavam presos em suas próprias imaginações? Estavam vivos. Isso eles sabiam. Mas o que havia por detrás da névoa e do rio, intransponíveis, e como os alimentos que consumiam em supermercados eram imediatamente substituídos?
Você e eu fomos feitos (como artefatos de vidro ou cerâmica) de duas células, formados em tubos de ensaio com água (acrescentar temperos e assar até dourar) até nos tornarmos você e eu.
Quero que esses fabricantes nos tomem de novo, e, querida; que eles nos misturem e sacudam, — que transplantem uma parte de mim para o coração de você (já está feito, já está feito) — que nos fatiem, nos emendem, nos rasguem, nos colem, nos moldem de novo em você e eu.
Para que em mim haja pedaços de você e em você, pedaços de mim. Assim, nada jamais poderá nos separar.
David Sandner (Tradução de Ronaldo Sérgio de Biasi)