segunda-feira, 31 de março de 2014

Temas da Ficção Científica: VIAGENS ESPACIAIS EM NAVES INTERPLANETÁRIAS E INTERESTELARES


Temas da Ficção Científica: VIAGENS ESPACIAIS EM NAVES INTERPLANETÁRIAS E INTERESTELARES

O tema das viagens humanas pelo espaço é, de longe, a temática mais explorada na literatura de Ficção Científica, e de certa forma está presente como fundo em todas as histórias que acontecem no espaço. Muitas dessas naves estão baseadas em nossa tecnologia atual da exploração da lua ou de marte, outras possuem um ecossistema próprio onde a humanidade vive centenas e centenas de gerações em uma viagem contínua pelo espaço, outras andam mais rápidas que a velocidade da luz, outras viajam por túneis "buracos de minhoca", outras controlam o espaço-tempo, ou viajam pelo hiperespaço, ou usam combustível gravitacional, ou de táquions, mas todas elas foram escritas por autores que acreditam serem as viagens espaciais a premissa básica na estrada humana para o futuro.

No início das histórias de ficção científica, as naves espaciais funcionavam mais como um recurso narrativo impulsionado apenas pela tinta dos escritores, do que como veículos de fato, pois ainda não havia a preocupação com os aspectos de engenharia ou de propulsão envolvidos na funcionalidade desses aparelhos, de modo que as naves espaciais viajavam somente com a credibilidade do leitor. Foi com a novela Rocket Ship Galileo (1947) de Robert Heinlein e também com Prelude to Space (1951) de Arthur C. Clarke que começou a se descrever as limitação do ser humano em relação à conquista do espaço.

Essa situação veio a mudar na década de 1960, depois que o público acompanhou uma viagem verdadeira e um pouso real do homem na lua, passou a exigir também nas histórias maneiras mais verossímeis nas formas de se sustentar a vida no espaço, como a gravidade artificial e a reciclagem de oxigênio.  Portanto as histórias necessitaram de um outro contexto e de uma exploração do espaço mais profundo, para continuarem a ser ficção científica. Outro importante fator nessa mudança de paradigma foi o sucesso estrondoso do filme de Stanley Kubrick, 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), que exemplificou de maneira perfeita o uso da tecnologia e da forma monótona como as coisas sucedem em uma viagem espacial verdadeira.

Acontece que depois de alguns cálculos básicos de astronomia, se percebe que as viagens espaciais em naves baseadas na nossa tecnologia, seriam longas demais e tediosas demais para o público suportar. E para complicar ainda mais, houve uma popularização das implicações espaciais advindas da teoria geral de relatividade de Einstein, que limitavam claramente a velocidade máxima de uma nave à velocidade da luz, o que ainda é pouco nas distâncias cosmológicas, então haveria que se encontrar outras maneiras da humanidade viajar para as estrelas.

Uma das formas para contornar o problema, foram as chamadas "naves gerações" (Generation Ships), que seriam naves imensas, ambientadas com a mesma biosfera da Terra, por onde viajariam famílias inteiras e uma tripulação, com tudo o necessário para viverem, gerarem sucessivas linhagens, até se estabelecer em algum planeta como uma colônia terrestre.  Este conceito já existia na ficção científica anterior aos anos 70, onde foi tratado extensamente nas novelas: Orphans of the Sky de Robert Heinlein (1963) e Non-Stop do inglês Brian Aldiss (1958); (no formato de conto a primeira aparição deste conceito é em uma estória de 1940 "The Voyage That Lasted 600 Years" de Don Wilcox). Depois dos anos 70 a ideia disseminou entre o público, especialmente com a série de TV Starlost desenvolvida por Harlan Ellison (1973); o romance Encontro com Rama de Arthur C. Clarke (1973), onde Rama é uma espaçonave desse tipo vazia e envolta em mistério; Gene Wolfe tem uma tetralogia com várias gerações intitulada The Book of the Long Sun (1993); e no formato de quadrinho, é claro, a inesquecível Druuna, série criada por Paolo Eleuteri Serpieri e lançada originalmente em quadrinhos na revista Heavy Metal.

Também foram sugeridas outras formas engenhosas de se atravessar o vazio. Em Tau Zero (1970), Poul Anderson descreve como uma nave espacial pode agarrar-se a um asteroide e usá-lo como propulsão em sua longa jornada.

Mais recentemente, no entanto, os autores passaram e se basear na física quântica para encontrar a teoria necessária para movimentarem as suas naves pelo espaço, de uma maneira rápida, eficiente e sem esses cálculos complicados e os paradoxos que envolvem o uso de velocidades próximas à da luz.

Um deles é o uso dos "buracos de minhoca" (wormhole) que são uma característica somente hipotética de que haveria certos túneis no universo, normalmente no chamado horizonte de evento de um buraco negro, por onde uma dessas naves quânticas poderia viajar distâncias incríveis em questões de segundos. Há muitas variantes dessa ideia, mas a principal é o hiperespaço, conceito muito difundido por Isaac Asimov principalmente em sua série Fundação; mas também se assemelham aos "portais" e às "dobras espaciais". Em muitos deles se pode também viajar no tempo como em uma estrada qualquer.

Não são todos os autores que concordam em quebrar propositalmente as leis de Einstein relativas ao espaço, Alastair Reynolds, por exemplo, em seu Revelation Space (2000), afirma que as leis de Einstein não podem ser quebradas e que as viagens espaciais estarão sujeitas às regras da relatividade para todo o sempre. 

Seja qual for o caso, parece que durante o tempo em que existir a ficção científica, seus personagens estarão viajando pelo espaço, encontrando todo o tipo de fenômenos estranhos e bizarros e conhecerão diferentes variedades de formas de vida alienígenas. Por isso a ficção científica tem existido desde que a humanidade desejou ir para o espaço. Na ficção científica ela pode fazer essa viagem e este é um dos aspectos mais sedutores do gênero, pois ele prevê, de alguma forma, como seria a humanidade entre as estrelas.

E sobre essas espaçonaves cada vez mais sofisticadas, rápidas e aconchegantes, parece cada vez mais possível que os cientistas acabem por começar a olhar para ficção científica como um provedor de noções e ideias que possam auxiliar no desenvolvimento futuro das nossas naves espaciais.

Herman Schmitz

Bibliografia básica:

Cyrano de Bergerac - L'autre monde (1650)
Edgar Allan Poe - The Unparalleled Adventure of One Hans Pfaall (1835)
Jules Verne - De la terre à la lune (1865)
H. G. Wells - The First Men in the Moon (1901)
E. E. Smith - The Skylark of Space (1928)
Lester del Rey - Habit (1939)
Robert Heinlein - Space Cadet (1948)
Robert Heinlein - The Man Who Sold The Moon (1950)
Clifford Simak - Spacebred Generations (1953)
L. Ron Hubbard - Return to Tomorrow (1954)
Cordwainer Smith - The Game of Rat and Dragon (1955)
Thomas N. Scortia - Sea Change (1956)
Robert A. Heinlein Citizen of the Galaxy (1957)
Walter M. Miller - The Lineman (1957)
Edmund Cooper - Seed of Light (1959)
Murray Leinster - The Corianis Disaster (1960)
Anne McCaffrey - The Ship Who Sang (1961)
Leigh Brackett - Alpha Centauri - or Die! (1963)
Alexei Panshin - Rite of Passage (1963)
John W. MacVey - Journey to Alpha Centauri (1965)
James White - The Dream Millennium (1974)
Harry Harrison - Skyfall (1976)
Gordon R. Dickson - The Far Call (1978)
J. G. Ballard - The Man Who Walked on the Moon (1985)
Stephen Baxter - Voyage (1996)
Jack Williamson - The Black Sun (1997)
Ursula K. Le Guin - Paradises Lost (2002)

REFERÊNCIAS

MANN, George, ed. The Mammoth Encyclopedia of Science Fiction. Carroll & Graf Publishers, 2001.

D'AMMASSA, Don, Encyclopedia of Science Fiction, Facts On File, Inc, 2005.

STABLEFORD, Brian, Science Fact and Science Fiction an encyclopedia, Routledge, 2006. 

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