Aliens viciantes

Viciados em Skoag 

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Lembro-me do dia em que minha vida mudou. Eu estava a três quarteirões de casa, em pleno bairro Skoag, ouvindo alguns Skoags que tocavam numa esquina próxima. Não propriamente ouvindo, na verdade: eu ficava observando o modo como os Skoags estofavam suas peles gordurosas, até que ficavam parecendo aqueles estúpidos balões de borracha em forma de animais que o palhaço Roxie fazia para nós na escola. Então, quando eles estavam completamente estofados — as membranas infladas com balões, por sobre um esqueleto de ossos delicados como coral — começavam a produzir sons musicais, suas peles inflando e murchando ao ritmo do som, como as películas dos alto-falantes da velha vitrola de mamãe. Eles me lembravam rãs, pelo modo como a membrana de suas gargantas inchava na hora de produzir sons, e também pela cor verde-amarelada de sua pele luzidia.

Eu me mantinha a uma distância segura. Todo mundo fazia o mesmo.

Nas aulas de Drogas Não! Na escola eu tinha aprendido o quanto aquela baba úmida na pele deles podia me fazer mal. Eu já tinha visto montes de viciados em Skoag, os olhos chapados, estendendo as mãos para tocar qualquer Skoag que passasse por perto, para obter mais uma “dose”, mesmo que isso os deixasse surdos para sempre. Viciados em Skoag morriam o tempo todo, esmagados por carros ou caminhões cujas buzinas eram incapazes de ouvir, ou mergulhados em sonhos sem retorno durante os quais se esqueciam de comer ou beber, esquecendo de tudo e capazes apenas de um único gesto, o de estender o braço e recolher um pouco mais de muco Skoag com a ponta de dedo. Só que naquele dia não havia nenhum viciado por perto daqueles Skoags, e eles todos ainda tinham cristas, o que mostrava que estavam na Terra há pouco tempo. Em geral os Skoags perdem suas cristas bem rápido, devido à gravidade terrestre. Um daqueles Skoags tinha a crista mais alta que eu já vira, parecia a coroa de um rei, e era arroxeada, como um velho hematoma.

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UM TOQUE DE LAVANDA
Megan Lindholm
1992

Tradução de Braulio Tavares para a Isaac Asimov Magazine (Brasil) nº18


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