O humano alienígena — Cixin Liu (trecho)

 


Os olhos baços de Dongfang Yanxu se encheram de infinita tristeza.

— Só sei que somos os primeiros seres humanos a ir para o espaço.

— Como assim?

— Esta é a primeira vez que a humanidade vai de verdade para o espaço.

— Ah. Entendi. Antes, por mais longe que os seres humanos viajassem pelo espaço, ainda assim não passavam de uma espécie de pipa presa à Terra. Estavam ligados ao planeta por uma linha espiritual. Agora, essa linha foi cortada.

— Isso mesmo. A linha foi cortada. A mudança essencial não é o fato de que a linha foi solta, e sim de que a mão desapareceu. A Terra está se encaminhando para o fim dos tempos. Na verdade, na nossa cabeça ela já morreu. Nossas cinco espaçonaves não estão conectadas a nenhum mundo. Não há nada à nossa volta além do abismo do espaço.

— É mesmo. A humanidade nunca enfrentou um ambiente psicológico assim antes.

— Exato. Neste ambiente, a própria base do espírito humano vai se transformar. As pessoas vão se tornar…

Ela parou de falar de repente, e a tristeza em seus olhos desapareceu, dando lugar apenas à melancolia, como um céu nublado após o fim da chuva.

— Quer dizer que neste ambiente as pessoas vão se tornar pessoas diferentes?

— Diferentes? Não, capitão. As pessoas vão se tornar… “não pessoas”.

As últimas palavras provocaram um calafrio em Lan Xi. Ele encarou Dongfang Yanxu, que não desviou o olhar. Ali, naqueles olhos vazios, ele viu janelas completamente fechadas para a alma dela.

— O que estou querendo dizer é que nós não seremos mais pessoas no mesmo sentido de antes… 


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A Floresta Sombria (2008)
    Cixin Liu

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