O Homem e Deus
Jean Cap
Deus havia dito:
«Ganarás o teu pão com o suor da tua testa».
O homem não quis.
Inventou a roda para evitar as fadigas da caminhada.
Inventou a máquina para que ela executasse o trabalho em seu lugar.
Inventou o robô para que o servisse em toda circunstância.
Inventou o cérebro eletrônico para que pensasse por ele.
E, no entanto, o homem trabalha sempre.
Deus havia dito:
«Não matarás o teu próximo».
O homem não quis.
Inventou a flecha para poder matar de longe.
Inventou a pólvora para poder matar ainda de mais longe.
Inventou a bomba para poder matar em massa.
Inventou a desintegração do átomo para poder matar mais rápido.
E, no entanto, sempre há homens.
Deus havia dito:
«Amem-se uns aos outros».
O homem não quis.
Inventou o crime para se livrar de um estorvo.
Inventou o carrasco para se livrar de um assassino.
Inventou a revolução para se livrar de um tirano.
Inventou a guerra para se livrar de um povo.
E, no entanto, o homem ama o amor.
Deus havia dito:
«Respeitarás a liberdade do próximo».
O homem não quis.
Inventou a canga para reduzir o cavalo à escravidão.
Inventou os campos para reduzir os homens à escravidão.
Inventou as guerras para reduzir os povos à escravidão.
Inventou os governos para reduzir a Terra à escravidão.
E, apesar de tudo, o homem se diz livre.
Deus havia dito:
«Eu te dou a Terra».
O homem não se contentou com isso.
Inventou o globo para elevar-se acima do solo.
Inventou o avião para viver no ar.
Inventou o foguete para estudar o éter.
Inventou o motor atômico para conquistar os outros planetas.
Então Deus castigou o homem.
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