E tem outra coisa - Mochileiro das Galáxias (Prólogos Imortais)


E tem outra Coisa

Eoin Colfer

introdução

Até onde sabemos... Um dia, diante de um balde de caranguejos-joias, o Governo Imperial Galáctico decidiu que era necessário construir uma via expressa hiperespacial na região mais brega da Borda Ocidental da Galáxia. Essa decisão passou por cima de vários canais oficiais, com a desculpa de que serviria para impedir engarrafamentos num futuro distante. Na verdade, a finalidade era dar emprego a alguns primos de ministros que viviam de vagabundagem na Praça do Governo. Infelizmente, a Terra estava no caminho dessa via expressa, de modo que os insensíveis vogons foram despachados numa frota de naves de construção para remover o planeta ofensivo com o gentil uso de armas termonucleares.

Dois sobreviventes conseguiram pegar carona na nave vogon: Arthur Dent, um jovem inglês, funcionário de uma estação de rádio local, cujos planos para aquela manhã não incluíam ver seu planeta natal sendo transformado em pó debaixo de suas pantufas. Se a raça humana tivesse feito um plebiscito, Arthur Dent muito provavelmente seria eleito a pessoa menos adequada para carregar as esperanças da humanidade ao espaço. Na verdade, no livro de formatura de Arthur estava escrito que ele “provavelmente vai terminar seus dias num buraco nas montanhas escocesas, tendo apenas sua chatice como companhia”. Por sorte, o amigo betelgeusiano de Arthur, Ford Prefect, um pesquisador de campo do ilustre almanaque de viagens interestelares O Guia do Mochileiro das Galáxias, era mais otimista. Ford via oportunidades de ouro onde Arthur só enxergava nuvens de tempestade, de modo que, unidos, os dois formavam um só viajante espacial prudente — a não ser que suas andanças os levassem ao planeta Junipella onde, literalmente, chovia ouro. Sem dúvida alguma, Arthur teria levado a nave diretamente para a nuvem soturna mais próxima e Ford com certeza tentaria roubar o ouro, o que resultaria na combustão catastrófica do gás natural que havia dentro dela. Isso tudo resultaria numa linda explosão, mas como final heroico careceria de um certo quê, como por exemplo, um herói vivo.

O único outro terráqueo a sobreviver foi Tricia McMillan, ou Trillian, como preferiu ser chamada depois de embarcar para o espaço. Ela era um misto de astrofísica ambiciosa e repórter de primeira viagem que sempre acreditara haver mais coisas na vida do que a vida na Terra. Apesar disso, Trillian ficou pasma quando foi levada para as estrelas por Zaphod Beeblebrox, o rebelde presidente de duas cabeças da Galáxia.

O que se pode dizer de Beeblebrox que ele já não tenha mandado estampar em camisetas oferecidas como brindes a cada compra feita pelo uBid? ZAPHOD DIZ SIM A ZAPHOD foi provavelmente seu slogan mais famoso, mas nem mesmo sua equipe de psiquiatras entendia o que isso queria dizer de verdade. O segundo na preferência geral era: BEEBLEBROX. FIQUE FELIZ POR ELE ESTAR LÁ FORA.

É uma regra aceita universalmente que, se alguém se dá o trabalho de estampar qualquer coisa numa camiseta, ela quase definitivamente não é cem por cento inverídica, o que é o mesmo que falar que tem uma razoável probabilidade de ser um pouco menos do que totalmente não por completo falsa. Assim, quando Zaphod Beeblebrox chegava a um planeta, as pessoas sempre diziam “sim” para ele, e quando ia embora, todos ficavam felizes por ele estar lá fora.

Por uma grande improbabilidade, esses heróis nada tradicionais foram atraídos uns para os outros e embarcaram numa série de aventuras, que em grande parte implicavam vagabundear pelo espaço-tempo, sentando-se em poltronas quânticas, batendo papo com computadores gasosos e geralmente falhando em encontrar algum sentido ou realização em qualquer canto do Universo.

Depois, Arthur Dent acabou retornando ao buraco no Universo onde a Terra costumava ficar, e se surpreendeu ao descobrir que esse buraco fora preenchido por um planeta do tamanho da Terra e que se parecia e agia notavelmente como a Terra. De fato, esse planeta era a Terra, só que não a de Arthur. Pelo menos não desse Arthur especificamente. Como o planeta ocupava o centro de uma Zona Plural, o Arthur que nós conhecemos se viu empurrado pelo eixo dimensional até uma Terra que nunca fora destruída pelos vogons. Isso foi fantástico para o nosso Arthur, e seu humor geralmente pessimista melhorou muito quando conheceu Fenchurch, sua alma gêmea. Por sorte, esse período idílico não foi interrompido por um encontro com qualquer outro Arthur de algum universo alternativo que pudesse estar perambulando por aí, possivelmente trabalhando para a BBC em Los Angeles.

Arthur e seu verdadeiro amor viajaram juntos pelas estrelas até Fenchurch desaparecer no meio de um salto hiperespacial. Arthur revirou o Universo atrás dela, trocando seus fluidos corporais por bilhetes de primeira classe. Durante um tempo, ficou encalhado no planeta Lamuella e passou a ganhar a vida como Fazedor de Sanduíches para uma tribo tão primitiva que ainda acreditava que os sanduíches eram um grande barato.

Sua tranquilidade só foi perturbada com a chegada de uma caixa enviada por Ford Prefect, que continha a segunda versão do Guia do Mochileiro das Galáxias sob a forma de um pássaro pan-dimensional. Trillian, agora uma jornalista bem-sucedida, também tinha mandado uma encomenda para Arthur, sob a forma de Random Dent, uma menina concebida com o que ele havia trocado pelo assento 2D em um voo noturno para Alfa do Centauro.

Com certa relutância, Arthur acabou assumindo o papel de pai, mas ficou totalmente aparvalhado com a adolescente truculenta. Random roubou o Guia versão II e estabeleceu uma rota para a Terra, acreditando que lá poderia finalmente se sentir em casa. Arthur e Ford foram atrás dela e encontraram Trillian já no planeta.

Só então o objetivo do Guia versão II é revelado. Os vogons, irritados com a recusa da Terra em permanecer ca-buuumizada, criaram o pássaro para atrair os fugitivos de volta ao planeta, para depois destruí-lo em todas as dimensões existentes, cumprindo assim a ordem original.

Arthur e Ford correram quase na velocidade da luz até o Clube Beta de Londres, fazendo uma pequena parada para comprar foie gras e sapatos de camurça azul. Graças a toda aquela coisa de eixo dimensional/Zona Plural, eles encontraram Trillian e Tricia McMillan coexistindo no mesmo espaço-tempo, além dos berros de uma agitada Random.

Confuso? Arthur ficou, mas não por muito tempo. Assim que notou os verdes raios da morte cortando a atmosfera, todas as picuinhas do dia, de repente, perderam sua picuinhice. Afinal de contas, a confusão dificilmente o cortaria em milhões de pedacinhos.

Prostetnic Vogon Jeltz fizera seu trabalho magnificamente. Não somente havia atraído Arthur, Ford e Trillian de volta à Terra, como também conseguiu enganar um capitão grebulon, fazendo-o destruir o planeta em seu lugar, poupando a tripulação vogon de ficar várias horas prestando contas ao Departamento de Munições.

Arthur e seus amigos sentaram-se impotentes no Clube Beta e não puderam fazer nada além de observar o ataque definitivo contra a Terra, incapazes de participar — a não ser que espasmos involuntários e liquefação de matéria óssea contem como participação. Desta vez, as armas de destruição eram raios da morte, e não torpedos vogons, mas, que diabo, um instrumento para matar planetas é igual ao outro quando você é o alvo.



 

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