terça-feira, 19 de março de 2013

Herman Schmitz - Ficção Científica: Algumas Definições (Artigo)

Capa da revista em que saiu o termo SCIENCE FICTION pela 1ª vez.

Ficção Científica: Algumas definições

Ficção científica é um formato de literatura de ficção, desenvolvida a partir dos gêneros viagens fantásticas, histórias extraordinárias, mundos perdidos, utopias e distopias, o romance gótico, entre outras, e que após a revolução industrial incorporou a ciência e a tecnologia emergentes como elementos de tensão e de motivação literária.

A ficção científica atualmente lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos.

O termo Ficção Científica é um tradução direta do inglês science fiction que foi cunhado pelo editor americano Hugo Gernsback no editorial do primeiro número da revista norte-americana Science Wonder Stories, em 1929.

Diversos autores contribuíram com definições mais ou menos detalhadas do gênero, estes são alguns exemplos:

Kingsley Amis - Para ele a ficção científica é um "Relato em prosa que trata de uma situação que não poderia apresentar-se no mundo que conhecemos, mas cuja existência se baseia na hipótese de uma inovação qualquer, de origem humana ou extraterrestre, no domínio da ciência ou da tecnologia; ou, poder-se-ia dizer, da pseudociência ou da pseudotecnologia".

Ben Bova acha, a respeito, o seguinte: "Ninguém, de fato, escreve sobre o futuro. Os escritores usam situações futuristas para iluminar mais fortemente os problemas e oportunidades do presente." e continua: "Quando eu falo de ficção científica, quero dizer uma ficção em que algum elemento de ciência ou tecnologia futura é tão integral à narrativa, que esta entraria em colapso se o elemento científico ou tecnológico fosse removido".

Em 1973, o britânico Brian Aldiss referiu-se à ficção científica como sendo "a busca de uma definição do homem e de sua posição no universo, a qual, sem dúvida, se baseia às vezes em nossos conhecimentos científicos a respeito (…)".

Para o iugoslavo Darko Suvin, "a ficção científica une e faz interagir necessariamente um aspecto cognitivo (ou seja, a busca de uma explicação racional) e um estranhamento - sendo este último termo uma adaptação do alemão Verfremdungseffekt, expressão usada em 1948 por Bertold Brecht para referir-se a um tipo de representação que, no tocante a um dado tema, faz com que o público o perceba como algo ao mesmo tempo reconhecível e estranho (insólito)".

O francês Louis-Vincent Thomas defende que "Numa perspectiva dessacralizada e aparentemente lúdica - da qual a mensagem não fica excluída -, a ficção científica ocupa no imaginário de hoje a posição que o relato mítico ocupava no imaginário de ontem: em ambos os casos, trata-se de resolver pela fabulação uma situação fora do comum que não poderia ser resolvida na realidade. Com a restrição de que o romance de ficção científica se desenrola numa atmosfera de credibilidade relativa, sua hipótese inicial sendo teoricamente plausível, suas consequências sendo encaradas segundo um desenvolvimento compatível com a lógica."

Para uma boa parcela da população o termo ficção científica não se refere explicitamente à literatura, e sim ao filme, aos quadrinhos e principalmente aos seriados de TV. Mas, desconsiderando essa lamentável situação, a ficção científica para o público leitor em geral se refere a uma história contendo alguns desses elementos básicos: alienígenas, estejam eles no presente, no passado ou no futuro; cientistas, malucos ou não; algum invento fora de controle; alguma imprudência do homem com transtornos para a vida no planeta em algum ponto do futuro; a vida inteligente em outros mundos; qualquer coisa relacionada a viagens espaciais; seres mutantes, com anomalias fisiológicas ou super cobaias, viagens no tempo, a outras dimensões ou a passados alternativos; todas histórias que trazem consigo uma questão: - e se, de repente acontecesse isso?

Depois dessas definições complexas, só me resta completar com mais um elemento fundamental: a imaginação. Além de tudo, uma boa história de ficção científica deve teletransportar o leitor para um outro mundo, diferente deste do leitor, quem sabe um mundo captado nessas ondas do arquétipo humano universal,  que vão e vem no tempo em que essa pequena humanidade viver nesse planeta Terra.

Bibliografia
AMIS, Kingsley. L'univers de la science-fiction. Paris: Payot, 1960.
BOVA, Ben. Challenges. New York: Tor, 1993.
THOMAS, Louis-Vincent. Civilisation et divagations. Mort, fantasmes, science-fiction. Paris: Payot, 1979.
CARDOSOS, Ciro Flamarion, A Ficção Científica, imaginário do século XX, 1998